Jornal Gazeta do povo O Paraná encolhe |
Observadores econômicos espantam-se com o que vem ocorrendo no Paraná nos últimos anos. A queda acentuada de alguns dos principais indicadores de desempenho atinge níveis preocupantes e remete a reflexões sobre suas causas e, obviamente, para as conseqüências futuras. É verdade que vários dos resultados negativos devem-se a fatores incontroláveis, como o clima, responsável por quebras significativas de safra. Outros, certamente são devidos à política econômica nacional ou a conjunturas internacionais de mercado. Mas influíram também posturas e políticas locais para que o estado, antes um oásis de desenvolvimento em relação às demais áreas do país, tenha de amargar atualmente índices pífios ou negativos. Um bom exemplo é encontrável no último levantamento do IBGE sobre o desempenho industrial brasileiro, relativo a fevereiro. Neste mês, com o decréscimo apontado de 7,4% na sua produção, o Paraná aparece em último lugar dentre os 27 estados pesquisados – resultado da oitava queda consecutiva nesse ranking. Considerando os últimos 12 meses, a produção industrial paranaense acumulou uma perda de 6,8%, enquanto que, no mesmo período, a média nacional foi positiva em 5,4%. O dado mais grave se constata na comparação entre o incremento do Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná e do Brasil. Se o PIB do país em 2005 já foi lamentável, de apenas 2,3%, (na América Latina, só foi superior ao registrado no Haiti!), o do Paraná foi ainda pior: somente 0,8%. Ou seja, os paranaenses empobreceram no ano passado em relação à média dos já pobres brasileiros. Em nossa edição da última segunda-feira, mostramos o quanto o Porto de Paranaguá vem perdendo posições relativas em comparação com os terminais de Santos (SP) e São Francisco (SC), que lhe fazem concorrência mais direta em razão de sua proximidade geográfica. Desde 2003, os volumes embarcados por Paranaguá caíram 10% – ao passo que em Santos e em São Francisco os embarques progrediram 20% no mesmo período. Se forem consideradas apenas as cargas de granéis sólidos – o que inclui, majoritariamente, a soja em grão e os farelos –, as perdas do Porto de Paranaguá são igualmente muito expressivas. Nos primeiros três meses de 2006, as exportações registraram queda de 13,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Já aqueles terminais de São Paulo e Santa Catarina apresentaram crescimento, fato que indica o desvio para lá de cargas que antes eram exportadas pelo escoadouro paranaense. Algumas das causas para os baixos resultados, tanto na esfera da produção industrial quanto na das exportações de produtos de origem agropecuária, são bem conhecidas. De um lado, verifica-se acentuada baixa – ou até mesmo fuga para outros estados – nos investimentos industriais (novos ou atuais), por se terem tornado inseguros e frágeis os mecanismos e as políticas estaduais de incentivo. De outro, o surgimento de dificuldades para o agronegócio, que poderiam ter sido claramente evitadas quer pela via da indispensável competência gerencial, quer pela simples aplicação do bom senso. Uma das dificuldades acrescidas ao já sofrido setor agropecuário foi a ocorrência de focos de febre aftosa por deficiências na fiscalização sanitária, que repentinamente jogaram a quase zero as até então promissoras exportações de carne do Paraná. Outra, foi a política estadual, que durante quase três anos proibiu embarques de transgênicos por Paranaguá, contrariando a legislação federal. Somente nesta semana, por força de decisões judiciais irrecorríveis, a administração portuária canhestramente abriu tal possibilidade. Os prejuízos acumulados para a economia paranaense já ascendem a centenas de milhões de dólares e incidem de modo imediato – mas tendem a causar mais estragos no futuro se não houver uma profunda mudança na visão administrativa e política estadual. (Editorial publicado no jornal Gazeta do Povo dia 16 de abril de 2006) |
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Boletim Informativo nº
908,
semana de 24 a 30 de abril de 2006 |
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