Setor Agropecuário enfrenta crise aguda
A crise no campo entra
em seu terceiro ano. Tem suas raízes recentes na safra 2004/2005 e vem
sendo agravada por inúmeros fatores, com conseqüências que vão além
das perdas na lavoura. "Quebra de renda", é a definição
utilizada pelo presidente da FAEP, Ágide Meneguette. A
descapitalização do setor já se reflete em outros. A retração é
sentida nos índices de geração de empregos, no setor de transportes,
no financiamento de máquinas. Considerando somente este último item,
dados da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura
dão conta de que no caso do Moderfrota os desembolsos já caíram 58%,
enquanto no Finame, a retração supera os 95%.
Entenda melhor quais
fatores, que reunidos, geraram esta crise agrícola sem precedentes:
- Câmbio
- Safra plantada com um custo alto atrelado ao dólar apreciado em R$
3,10 e comercializada na baixa dos preços internacionais, aliada ao
dólar cotado em R$ 2,60 inicialmente e que caiu até o patamar de
R$2,18;
- Seca I
- O setor foi penalizado com uma das mais violentas secas na região
sul nos últimos anos, que somente no Paraná provocou uma quebra de
21,14% da safra de grãos em 2005, representando um prejuízo da ordem
de R$ 2,42 bilhões para os produtores;
- Em 2006 as perdas na safra de verão já reduziram as estimativas de
produção de grãos previstas inicialmente em 21,85 milhões de
toneladas. Desse total, até meados de janeiro, 3,8 milhões já foram
perdidas. As culturas mais afetadas são o milho e a soja, mas outras
culturas, como o feijão, batata, arroz e algodão também registram
perdas;
- Tarifas
- O produtor arcou com o alto custo das tarifas de infra-estrutura;
- Safra de inverno
- Travamento e prejuízo por dois anos consecutivos, 2004 e 2005, na
comercialização do trigo produzido no inverno. Os preços praticados
abaixo do preço mínimo de R$ 24,00 por saca geraram sérias perdas,
que se acumularam aos prejuízos destes mesmos produtores que cultivam
milho e soja na safra de verão;
- Febre aftosa I
- Os produtores de carne, que já tinham seus preços reduzidos em
razão da cotação do dólar, passaram a sofrer problemas adicionais
com a ocorrência de focos de febre aftosa, que fez com que países
importadores e mesmo o mercado interno impusessem restrições aos
seus produtos;
- Febre aftosa II
- A pecuária de leite sofreu restrições internas e os produtores
foram obrigados a jogar fora milhões de litros de leite. Os
produtores de frango, suíno e bovino arcaram com a redução de
vendas, o que afetou negativamente seus preços;
- Crédito
- O crédito oficial foi insuficiente para financiar a totalidade dos
custos de produção pelas limitações impostas a cada produtor em
face do reduzido montante ofertado, obrigando os agricultores a
recorrer a financiamentos com taxas de juros de mercado junto aos
bancos ou aos fornecedores de insumos, que são incompatíveis com a
atividade;
- Com a queda de consumo da carne de frango devido à ocorrência de
gripe aviária na Europa e Ásia houve redução das exportações e
do consumo interno de milho. Com a valorização da taxa de câmbio e
o excedente de milho, os produtores estão recebendo preços abaixo do
custo de produção e do preço mínimo garantido pelo governo. O
excedente de frango no mercado interno reduziu os preços para abaixo
do custo.
- Quebra de safra
- As perdas decorrentes da quebra de safra 05/06, avaliadas em 14% e
22%, respectivamente, representam em termos financeiros, se adotarmos
como parâmetro os preços constantes , isto é, eliminando os efeitos
inflacionários, o montante de R$ 1,56 bilhão, equivalente a US$ 699
milhões (taxa cambial de R$ 2,2300/US$).
Preços médios
recebidos pelos produtores no Paraná
Produto |
1ºsem./2004
(*) |
Preços atuais
(**) |
Diferença
(%) |
Soja (R$/ saca) |
50,06 |
22,97 |
(54,11) |
Milho (R$/ saca) |
18,72 |
10,32 |
(44,87) |
Trigo (R$/ saca) |
29,60 |
19,12 |
(35,40) |
Mandioca (R$/ tonelada) |
286,03 |
80,16 |
(71,97) |
Leite (R$/ litro) |
0,47 |
0,39 |
(17,02) |
Carne bovina (R$/ @ 15kg) |
62,09 |
44,55 |
(28,25) |
Carne suína (R$/ kg) |
2,13 |
1,39 |
(34,74) |
Frango (R$/ kg) |
1,44 |
1,09 |
(24,30) |
Fonte: SEAB
*Preço real médio recebido pelo agricultor no Paraná
atualizado pelo IPCA.
** Preços
médios recebidos pelos produtores na terceira semana de março
de 2006.
FAEP pede medidas emergenciais para
restabelecer capacidade de produção
A FAEP vem mobilizando
toda sua estrutura na discussão da crise da agropecuária e propostas
para solução. Um trabalho incessante, que envolve a participação das
Comissões técnicas, Departamento Técnico Econômico e Sindicatos
Rurais, entre outros, na articulação de apoio nas diferentes esferas
políticas.
Ainda em 2005, FAEP e
CNA disponibilizaram a ação do triticultor para que os produtores que
não conseguiram receber o preço mínimo do governo buscassem
indenização na justiça.
Acompanhe algumas das
ações realizadas este ano:
- 16 de janeiro de 2006
- Reunião com a participação do presidente da FAEP, presidentes das
dez Comissões Técnicas da FAEP e o Departamento Técnico Econômico.
Como resultado, foi aprovado o documento "A crise da
agropecuária" com dados sintetizados do diagnóstico da crise e
as propostas para apresentar ao governo;
- 23 de janeiro
–
Documento é apresentado em reunião da Assembléia Geral da FAEP e
aprovado pelos presidentes dos Sindicatos Rurais;
- 25 de janeiro
- a tese da FAEP para reestruturar as dívidas agrícolas via
Securitização, é defendida em reunião das Comissões Nacionais de
Crédito Rural e de Cereais da CNA em Brasília;
- Janeiro
- O presidente da FAEP, Ágide Meneguette, reúne-se com diversos
políticos e, dentro do governo, busca apoio do ministro do
Planejamento, Paulo Bernardo e do vice-presidente do Banco do Brasil
para Agronegócio e Governo, Ricardo Conceição. Meneguette entrega
as propostas da FAEP ao diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional,
Jorge Samek, que repassa pessoalmente ao presidente da república;
- Fevereiro
- Documento "A crise da Agropecuária" foi encaminhado para
mais de 1.100 autoridades, entre as quais: presidente da república,
bancada de senadores, deputados federais e estaduais, governador,
ministros da Agricultura, Fazenda e Planejamento, prefeitos e
presidentes das câmaras de vereadores do Paraná, vereadores de
Curitiba, Presidentes de Sindicatos Rurais;
- 6 a 15 de fevereiro
- 1.862 agropecuaristas são entrevistados em pesquisa sobre a crise
no Paraná encomendada pela FAEP. Os resultados foram publicados em
jornais como a Gazeta do Povo e Folha de Londrina. As informações da
pesquisa sobre o impacto da crise de renda e de uma eventual adesão
ao salário mínimo regional foram amplamente divulgadas em jornais,
rádios e sites da internet;
- 23 de fevereiro
- o Ministério da Agricultura divulga notícia sobre uma provável
"MP do Bem da Agricultura" e pacote que contempla a
política agrícola, em especial a desoneração de impostos e
recursos para comercialização.
- 23 de fevereiro
-
No mesmo dia, a FAEP publica suas críticas às medidas por omitirem a
questão das dívidas dos agricultores;
- 17 de março
– Após assembléia geral, cerca de 30 delegados representantes
reuniram-se com a Diretoria da FAEP para discutir a crise. Em
decorrência, a FAEP orienta todos os sindicatos rurais para que
mobilizem as lideranças econômicas e sociais dos municípios para
ajudar a pressionar o Congresso Nacional.
Paralelamente a essas
ações, o trabalho conjunto entre Departamento Econômico e
Comunicação Social da FAEP vem pondo em pauta diversos artigos sobre a
crise, abordando o câmbio desajustado, crédito oficial escasso,
desemprego, queda dos preços e conjuntura. O material publicado no
Boletim Informativo, é amplamente divulgado e repercutido pela imprensa
e sites da Internet.
A Federação também
tem se preocupado com a produção de matérias de orientação aos
produtores rurais. No início de janeiro, material sobre as dívidas
agrícolas foi encaminhado aos Sindicatos Rurais. Mais recentemente, as
informações foram agrupadas no site da FAEP com orientações e
modelos de prorrogação de custeio e investimento, além de
informações sobre Proagro, Securitizações e Pesa e dívidas com
fornecedores.
CNA reivindica
alongamento das dívidas
Na esfera federal, a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil- CNA trabalha com
uma agenda comum com a Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB,
baseada em dois pontos principais: as solicitações de alongamento da
dívida e um plano de safras. Confira como tem sido a atuação da CNA
junto ao governo federal:
- Congresso Nacional
– CNA e OCB pressionam pela aprovação de projetos de lei que
alongam as dívidas, junto ao presidente da Comissão de Agricultura,
Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, Ronaldo Caiado,
além de dois Projetos de Lei no Senado, junto à senadora Heloísa
Helena;
- Securitizações e Pesa
– O Conselho Jurídico da CNA enviou minuta de petição inicial
para as ações civis das securitizações e Pesa com o objetivo de
sustar o ingresso de execuções fiscais propostas pela União. A
Minuta foi repassada pela FAEP a todos os sindicatos rurais para que
fosse disponibilizada aos produtores;
- Medidas emergenciais
- Reuniões das Comissões Nacionais de Cereais e Crédito Rural
definiram as reivindicações urgentes e de política agrícola no
âmbito nacional entregues ao governo e documento com os pleitos
emergenciais que será entregue numa audiência com o presidente da
república;
- MP 285
– A CNA pressionou a aprovação no Senado do Projeto de Lei 142 que
trata das dívidas do nordeste, posteriormente vetado pelo governo,
que editou a MP 285. A Confederação trabalha agora para alterar a MP
de forma que ela contemple o máximo de dívidas e produtores. O
intuito é abrir caminho para as dívidas de todo o país e dar
visibilidade ao problema da crise.
FAEP propõe medidas para amenizar a
crise
Considerando todos os fatores que
levaram o agronegócio à atual crise, a FAEP elaborou uma série de
medidas necessárias para que os produtores tenham condições mínimas
de continuar produzindo:
- Custeios e investimentos de 2005 e
2006
Transformar as parcelas
das dívidas de custeio e de investimentos vencidas e vincendas em 2005
e 2006 em operações securitizadas de longo prazo, com carência, por
meio de Medida Provisória ou Projeto de Lei que transfira os débitos
bancários para o Tesouro Nacional.
- Dívidas com fornecedores de insumos
e cooperativas
Readequar o programa
criando uma nova linha de financiamento denominada FAT Giro Direto ao
Produtor (FGDP). Os beneficiários seriam os produtores rurais que não
conseguiram renegociar suas dívidas de insumos das safras 2004/05 e
2005/06 com fornecedores de insumos e cooperativas. O programa deve
contemplar também os produtores que possuem financiamento de CPRF
emitidas junto às instituições financeiras.
Editar Medida
Provisória ou Projeto de Lei para prorrogar para o final do contrato de
forma subseqüente as parcelas de dívidas de Securitização, PESA,
Recoop, Fundos Constitucionais e outras dívidas alongadas vencidas ou
vincendas em 2005 e 2006, beneficiando produtores adimplentes até
31/12/2004.
- Liberação de garantias da
Securitização e do PESA
Reavaliar por meio de
legislação específica as regras de cálculo das garantias de dívidas
alongadas, dando aos produtores a possibilidade de rever garantias dadas
a maior nos contratos e contemplar a troca de garantias como ocorre nos
contratos de crédito oficial.
- Ações judiciais das dívidas
transferidas para a União
Suspender as ações
judiciais contra produtores e o envio para lista de inadimplentes,
enquanto o governo não editar medidas que reescalonem as dívidas de
Securitização, PESA e outras dívidas alongadas de 2005 e 2006 para
produtores adimplentes até 31/12/2004.
- Seguro rural e orçamento para a
agricultura
Implantar efetivamente
o seguro rural por meio de alocação de recurso suficiente para
subvenção do prêmio do seguro rural e criação do Fundo de
Catástrofe. Alocar recursos no orçamento com a rubrica da Operações
Oficiais de Crédito para executar a PGPM de forma programada e rever os
cálculos dos preços mínimos.
- Importação de agroquímicos do
Mercosul
Modificar a Lei de
registro de agroquímicos para possibilitar a importação direta pelos
produtores, de agroquímicos genéricos do Mercosul em atendimento à
decisão do painel de arbitragem do Mercosul.
Autorizar o regime de
drawback para todos os produtos agropecuários destinados à
exportação, mesmo para pessoas físicas que realizam operações com
tradings e cooperativas, mediante a importação de fertilizantes,
agroquímicos, outros insumos, máquinas e implementos utilizados na
produção agropecuária. Retirar a cobrança do Adicional de Frete para
Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), que é de 25% sobre o valor do
frete. A economia, por exemplo, na importação de fertilizantes,
poderá resultar numa redução de até 10% no preço do produto.
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