Crise agropecuária
Produtores queimam
colheitadeira | |
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O agravamento dos prejuízos agropecuários gerou novas manifestações na área rural paranaense. Na segunda (27) e quinta- feira (30) passadas, produtores de Sertanópolis e Bela Vista do Paraíso (Norte do Estado), mobilizaram-se em protestos e barreiras nas principais rodovias da região, distribuindo panfletos explicativos aos motoristas. As manifestações foram coordenadas por comissões formadas junto aos Sindicatos Rurais dos municípios. O protesto de Sertanópolis ocorreu na PR- 323, km 426. Cerca de 400 produtores pararam |
máquinas e equipamentos agrícolas no acostamento da principal ligação rodoviária do Norte paranaense com São Paulo. A outra manifestação foi realizada no trecho da PR-090, entre Bela Vista do Paraíso e o distrito de Santa Margarida. Os protestos foram coordenados por comissões formadas pelos produtores e Sindicatos Rurais, com apoio das prefeituras municipais, comércio e empresariado da região. O presidente do Sindicato Rural de Sertanópolis, Antônio Oswaldo Terassi, avalia que 70% dos produtores encontram-se em dificuldades na região. "Muitos deles têm procurado o Sindicato, chorando como crianças. Ou alimentam a família ou pagam as dívidas", relata. Devido a estiagem, a queda na produtividade provocou um baixo rendimento, com uma colheita média de 52 sacas de soja por alqueire, que não cobre os financiamentos de custeio. Houve uma quebra de 40% na safra atual de soja. Terassi diz que não restou outra alternativa aos produtores senão buscar "o apoio das pessoas que passam pelo asfalto, a fim de serem ouvidos. Ficamos na expectativa de sensibilizar todos e fazer as autoridades sentirem nossa necessidade de socorro financeiro". O agricultor Valdemar Favoretto lembrou de vários pedidos encaminhados ao Governo que não tiveram resposta ainda. Além da renegociação da dívida e a liberação de crédito, os produtores pedem mudanças na política agrícola, exigem o preço mínimo da saca agrícola e um seguro agrícola completo. O diretor Terassi relata também que os produtores temem ter que entregar toda a colheita para o banco, simultaneamente ao vencimento das dívidas do FAT que já tinham sido prorrogadas no ano passado. "Estas pessoas não produziram bem e os preços caíram ainda mais". Em Sertanópolis o Sindicato Rural foi informado de agropecuaristas executados judicialmente, que estão com os nomes na lista do Serasa. "É um estopim de pólvora. Isto revolta a gente", diz o diretor. "Nunca vimos uma situação tão caótica como a que enfrentamos agora. Não somos caloteiros, somos trabalhadores. Exigimos a atenção e o respeito das autoridades", completa. Outro problema está na queda da taxa cambial. No ano passado, o produtor Ronaldo Pescador, comprou os insumos agrícolas em dólar e a um valor mais alto do que a cotação de 2006. A produção acabou sendo colhida agora, a uma cotação bem mais baixa, que sofre também com os "custos fixos de produção como o diesel, que não baixaram de preço e a necessidade de renovar os equipamentos", que os produtores não conseguem resolver. Protestos - Manifestantes rurais de vários municípios do Norte permaneceram das 8h até as 16h30 nas duas rodovias. De meia em meia hora, os produtores fechavam uma das pistas, para falar com os motoristas e distribuir folhetos explicativos sobre a dramática situação financeira que o setor enfrenta. Na segunda-feira, foram queimados pneus e uma carcaça de colheitadeira na PR-323, pela prorrogação e a securitização dos financiamentos rurais. Os manifestantes divulgaram a Carta de Sertanópolis, em que defendem a decretação de estado de emergência na região devido a quebra da safra e queda da renda agropecuária, por fatores relacionados à estiagem, aos baixos preços da produção, à queda do câmbio e ao embargo comercial decorrente dos focos de febre aftosa sobre o setor de carnes do Paraná. Comitivas de agropecuaristas de Londrina, Bela Vista do Paraíso, Rolândia e Primeiro de Maio participaram dos protestos. |
Boletim Informativo nº
905, semana de 3 a 9 de abril de 2006 | VOLTAR |