Gripe aviária não chegou ao
Brasil mas já prejudica o Paraná

Os reflexos econômicos por conta dos casos de gripe aviária na Ásia, Europa e África já conduzem mudanças na avicultura do Brasil. Com a diminuição nos níveis de consumo nos países importadores, a indústria, busca agora, equilíbrio entre oferta e demanda, apontando para uma redução de pelo menos 20% na produção de frango de corte este ano. De acordo com o Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná – SINDIAVIPAR, deve ocorrer uma desaceleração no volume de produção, mantendo a utilização da mão-de-obra atual.

O Paraná é responsável por 27% das exportações brasileiras e pela produção de 90 milhões de aves por mês. É natural que esteja em estado de alerta: apesar do Brasil estar fora das grandes rotas migratórias de aves silvestres, o país não está imune à doença. Na avaliação do veterinário Alexandre Lobo Blanco, do SENAR-PR, o pânico mundial por medo de uma pandemia tem suas justificativas: "A ciência não elimina a probabilidade de mutação do vírus com cepa de alta patogenicidade e virulência".

De acordo com o veterinário, uma vez instalado no Brasil, os riscos de contágio entre lotes diferentes de animais seriam grandes até pelas características da produção brasileira. As regiões produtoras estão concentradas em determinadas áreas, o que dificultaria o isolamento de um lote contaminado: "Economicamente, esta concentração é interessante, mas tecnicamente não é recomendável porque em caso de contaminação as barreiras fitossanitárias ficam suscetíveis".

Histórico - O Vírus H5N1, causador da gripe aviária, foi identificado em 1925, mas se tornou fonte de preocupação há 10 anos, depois que um ganso morreu, numa fazenda localizada na província de Guangdong, na China. Um ano depois, foi registrado o primeiro caso oficial da gripe em humanos, após a morte de um menino de 3 anos com a doença. Esse primeiro surto durou poucos meses e atingiu 18 pessoas, matando seis delas.

Em 2003, o vírus reaparece e os registros de casos acontecem na Ásia, África e Europa. O número de pessoas e animais doentes se mantém em ascendência. A doença já se alastrou por 36 países da Ásia, África e Europa. O maior número de casos foi registrado no Vietnã entre os anos de 2003 e 2004 com 93 infectados e 42 mortos. De 2003 para cá, 177 casos da doença foram confirmados por laboratório, com 98 mortes. Os números são da Organização Mundial da Saúde.

A organização Mundial de saúde criou em 1999 uma classificação em seis fases para avaliar a evolução do vírus influenza. O da gripe aviária encontra-se na fase três, como ilustra o quadro da próxima página.

Sintomas- Os sintomas iniciais da gripe aviária são similares aos de uma gripe comum. Informações da OMS dão conta de que diarréia, vômito, dor abdominal, dor no peito e sangramento nasal e gengival também foram notificados como sintomas iniciais em alguns pacientes, mas o curso clínico da doença ainda é pouco conhecido.

Em função disso dúvidas surgem com freqüência. Mesmo sem nenhum caso da doença registrado no Brasil, a Central de Relacionamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) vem atendendo a uma média de seis ligações por dia, 130 desde a segunda quinzena de fevereiro, de perguntas relacionadas à doença: sintomas, transmissão, registro de casos, riscos no consumo de aves, entre outras. Em geral, as perguntas são respondidas de imediato. Quando necessário, as questões são encaminhadas a técnicos para uma resposta mais específica.

De acordo com a OMS, investigações recentes confirmam que o contato direto com aves infectadas é a fonte mais comum de transmissão da gripe aviária. A segunda causa apontada, embora menos comum, é a exposição a ambientes que possam estar contaminados com fezes de aves infectadas. Consumir a carne de frango, mesmo de países afetados, não é fator de risco, desde que seja bem cozida e que a pessoa não esteja envolvida na preparação da comida. Como também não houve em nenhum lugar a transmissão eficiente pessoa-pessoa, viajar a um país onde haja focos identificados não apresenta risco de contaminação ao viajante desde que este não visite feiras ou mercados de animais vivos, fazendas ou outros ambientes onde possa ocorrer exposição a aves.

Plano de combate- O governo federal está trabalhando na implementação do Plano de Prevenção contra a Gripe Aviária, que está em fase de consulta pública. No Paraná, de acordo com o presidente do Sindicato e Associação dos Abatedouros e Produtores Avícolas do Paraná, Domingos Martins, medidas de segurança já estão sendo tomadas e que a expectativa agora é que o governo federal normatize a proibição do trânsito de aves vivas de um estado para o outro e crie corredores específicos para o transporte de material genético

como ovos férteis e galinhas matrizes. "Se o governo federal apressasse essa normatização, isso limitaria o hospedeiro natural do vírus e estaria fechado o leque", diz Martins reforçando que em relação à estrutura das granjas a situação é de tranqüilidade: "O Paraná está à frente, fizemos o cadastramento das propriedades com georeferenciamento, e trabalhamos com o treinamento de equipes e sistematização da produção", uma das razões pelas quais Domingos defende a regionalização dos planos de prevenção.

Além disso, o Centro de Investigação em Medicina Aviária (Cimapar) da UEL está habilitado para atender situações emergenciais e de diagnóstico da Gripe aviária. As instalações estão passando por melhorias e, em parceria com os laboratórios de Maringá e Guarapuava, o Cimapar irá monitorar a rotina e dar suporte a ações rotineiras ou situações de emergência.

Algumas medidas de biossegurança que os produtores podes adotar:

l Água: Utilizar água de poço artesiano ou fonte protegida. Evitar a utilização de água de riachos ou açudes, pois os mesmos não oferecem condições de proteção.

l Ração: Somente utilizar rações de empresas idôneas.

l Fazer a compostagem correta das aves mortas.

l Não alimentar peixes, cães ou outros animais com as carcaças das aves mortas.

l Evitar a presença de aves silvestres ou "caipiras".

l Proibir as visitas de estranhos na propriedade (pessoas e/ou veículos).

l Sempre comunicar casos clínicos ao técnico responsável.

l Fazer o controle do cascudinho e roedores.

l Fazer a aplicação de vacinas e medicamentos segundo orientação do técnico responsável.

l Fazer a limpeza dos equipamentos de maneira correta.

l Fazer a descontaminação da propriedade (lavagem do telhado, parede, cortinado, piso e equipamentos) rotineiramente.

Mais informações: www.opas.org.br

Central de relacionamento do Ministério da Agricultura: 0800 611995


Boletim Informativo nº 904, semana de 27 de março a 2 de abril de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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