O agronegócio como instrumento
de estabilidade econômica

*Por Gilda M. Bozza

O agronegócio brasileiro, que contribuiu com 37% dos empregos criados no país e 42% da renda gerada, com ingressos de R$ 38,4 bilhões para o saldo da balança comercial brasileira em 2005, está travado e desperdiçando uma grande oportunidade para alavancar o crescimento econômico brasileiro e paranaense no momento em que os preços internacionais das commodities são favoráveis, por estar sendo utilizado como mecanismo da política de estabilização econômica.

A lucratividade do agronegócio é dada pelos ganhos de produtividade obtidos pelos produtores

rurais e pelo preço dos produtos que são cotados em dólar americano. O preço no mercado externo das principais commodities do agronegócio é dado pelas cotações em bolsas de mercadorias internacionais e pela conversão do dólar no mercado interno.

Desde 1999 o câmbio no Brasil não é só flutuante. É livre. A paridade R$/US$ é dada pelo fluxo monetário, ou seja, a entrada e saída de dólares no país.

O Brasil não tem política cambial. A taxa de câmbio é resultante do fluxo monetário. O saldo da balança comercial tem sido utilizado para reduzir o risco Brasil, pagamento dos compromissos da dívida externa e aumento das importações.

O câmbio baixo é resultante de capitais externos que ingressam no país para aplicações de curto prazo na compra de títulos governamentais, aplicações em bolsa de valores e de mercadorias e em outros derivativos do mercado financeiro, atraídos pela taxa de juros interna, a maior do mundo, para rolar a dívida interna superior a R$ 1,0 trilhão.

Portanto, o Brasil não está praticando uma política cambial que induza e priorize o crescimento das atividades do agronegócio e de outros setores industriais. Ao contrário, a política cambial é inibidora, na medida em que reduz as margens de lucro dos produtores que fornecem matérias-primas para o agronegócio.

O agronegócio se sustenta e o
produtor colhe prejuízos

Nesse quadro, o grande perdedor é o produtor rural que não tem meios de se defender e atuar no mercado financeiro para auferir lucros. Isto porque, pelo lado dos custos de produção, os fertilizantes, defensivos agrícolas e até o óleo diesel tem no dólar o balizador de preços no mercado interno.

O produtor rural, opera com uma defasagem da ordem de 12 meses entre a compra dos insumos, produção e venda. Nesse processo fica a deriva, engessado no valor do dólar para realizar suas compras de insumos e venda da produção. Foi o que aconteceu em 2004 e 2005 quando os insumos agrí-

colas foram adquiridos a um dólar mais alto do que quando realizou as vendas. Para 2006 deveremos ter, ao que tudo indica, a repetição do "mesmo filme".

As empresas processadoras das matérias-primas do agronegócio, têm vários instrumentos financeiros para se defender da volatilidade do câmbio. Por exemplo, podem realizar vendas com entregas futuras da produção com recebimento antecipado, aplicando no mercado financeiro e obtendo lucros resultantes das aplicações financeiras com juros elevados. Administram o fluxo de caixa com pagamentos futuros ou outras operações de risco com ganhos vantajosos.

Utilizando a política monetária apoiada no juro alto que favorece o ingresso de capitais externo para rolagem da dívida interna e deixando o câmbio sujeito às turbulências do fluxo internacional de capitais, o produtor rural colheu nas duas últimas safras e, muito provavelmente na safra que está em andamento, prejuízos e falta de perspectivas para avançar em suas atividades no agronegócio brasileiro, que é um dos mais competitivos do mundo e que vem sendo inviabilizado nesses últimos 2 anos pela atual política cambial.

Paraná – exportações 2005, com variação negativa do agronegócio

As exportações paranaenses totalizaram US$ 10,02 bilhões em 2005, com aumento de 7% (US$ 626 milhões) em comparação com 2004, quando somaram US$ 9,39 bilhões. O saldo comercial foi de US$ 5,50 bilhões e as importações tiveram uma variação anual de 12%, atingindo US$ 4,52 bilhões. De uma forma geral houve um ritmo menor de comercialização, resultando em queda de "quantum", passando de 21,4 milhões de toneladas para 17,6 milhões de toneladas.

Não obstante, o Paraná permanece na segunda  posição nas exportações do agronegócio brasileiro

(US$ 43,60 bilhões), tangenciando 14%, assinalando 3 pontos percentuais a menos em relação ao ano de 2004 e disputando posição com o Rio Grande do Sul (13,6%). São Paulo detém a primeira posição com 25% e o Mato Grosso ocupa a quarta posição com 9%.



   O Paraná e o Rio Grande do Sul registram queda de receita, provavelmente em função da retração das exportações do complexo soja, enquanto outros estados, como o Mato Grosso mostra evolução, porquanto além das exportações de soja em grão, observa-se nos anos recentes, uma tendência de distribuição geográfica dos frigoríficos em direção à região Centro-Oeste.

O complexo carnes (bovina, suína e aves) é o segundo setor produtivo de maior representatividade nas exportações do estado de Mato Grosso, o que pode explicar o seu crescimento em relação às exportações de 2004.


   A participação do agronegócio nas exportações totais do Paraná registra queda, passando de 60% para 59%, haja vista o crescimento das vendas de outros setores, mais especificamente o setor de material de transporte que assinala uma evolução na geração de divisas de 56%, assumindo a posição de principal setor maior exportador do estado. Este viés de queda deve-se à somatória da política cambial, queda dos preços internacionais da soja, aumento da oferta mundial de grãos e ocorrência de problemas sanitários na pecuária paranaense.

O agronegócio paranaense mostra uma variação negativa (-8,5%) caindo de US$ 6,51 bilhões (2004) para US$ 5,96 bilhões (2005), em função dos fatores citados anteriormente.

Os grupos de produtos que mais contribuíram para o aumento das exportações do agronegócio paranaense foram sucroalcooleiro (41%), carnes (36%), café (19%) e couros (32%). No caso do açúcar, café e carnes em função do aumento dos preços internacionais dessas commodities.

Em relação ao desempenho negativo das exportações do agronegócio em 2005, verifica-se que adotando o dólar médio e mensurando os valores em reais, a perda de receita decorrentes da política cambial é de R$ 3,35 bilhões em relação a 2004.

Nas exportações totais em função do desempenho positivo dos setores de material de transporte, carnes, sucroalcooleiro, café e couros, as perdas diminuem para R$ 1,48 bilhões.

O principal agregado nas exportações do agronegócio paranaense até 2004, o complexo soja – grão,farelo, óleo, lecitina – registra uma variação negativa de 22%, caindo de US$ 2,96 bilhões para US$ 2,30 bilhões. O volume comercializado passou de 10,5 milhões de toneladas para 9,5 milhões de toneladas (–10%), o que prejudicou o desempenho das exportações do agronegócio.


   As receitas de soja em grão geraram divisas de US$ 946 milhões, com preço médio de exportação de US$ 233,98/tonelada, valor acima da média histórica (US$ 13,32/saca), porém 17% menor em relação ao preço médio de 2004 (US$ 281,65/tonelada), o que provocou um desempenho negativo nas vendas ao exterior de 25% (-US$ 324 milhões = R$ 794 milhões). O volume comercializado igualmente registra queda, passando de 4,5 milhões de toneladas para 4,0 milhões de toneladas.

As vendas externas de carnes (bovina, suína, aves)


segundo agregado em ordem de importância (13% das exportações do agronegócio paranaense), evoluíram 36%, passando de uma receita de US$ 953 milhões para US$ 1,29 bilhão, resultado dos preços mais elevados e maior quantidade comercializada de carnes de aves e suína.

As exportações de carne bovina registraram queda no volume comercializado (-15%), caindo de 40 mil toneladas para 34 mil toneladas. A receita obtida igualmente assinalou queda (-24%), passando de US$ 101 milhões para US$ 77 milhões, conseqüência da ocorrência da febre aftosa no último trimestre de 2005.

Já o segmento de carne de aves mostrou expansão de 41% na receita, saindo de US$ 733 milhões para US$ 1,03 bilhão. A quantidade exportada aumentou 17%, passando de 710 mil toneladas para 835 mil toneladas. As exportações de carne suína foram de US$ 173 milhões contra US$ 99 milhões em 2004, um aumento de 75%. O volume exportado cresceu 39%, de 59 mil toneladas para 82 mil toneladas.

As exportações paranaenses do setor sucroalcooleiro passaram de US$ 204 milhões para US$ 289 milhões (+ 41%). O açúcar gerou uma receita de US$ 242 milhões, produto do aumento da quantidade embarcada (de 1,16 milhões para 1,27 milhões de toneladas) e da elevação nos preços. As vendas externas de álcool cresceram 58%, passando de US$ US$ 29 milhões para US$ 46 milhões.

O aumento dos preços do café no mercado internacional beneficiou as exportações. As exportações cresceram 19%, saindo de US$ 199 milhões para US$ 238 milhões. O preço do café em grão foi 45% superior ao preço de 2004; já a quantidade exportada recuou de 31%.

As exportações paranaenses registraram de crescimento para praticamente os principais blocos econômicos: União Européia (16%), Europa Oriental (53,3%), África (27,9%), Mercosul (14%) , Estados Unidos- inclusive Porto Rico (7%), com exceção da Ásia (-24%).

Os principais mercados do Paraná são os Estados Unidos (US$ 1,34 bilhão), Alemanha (US$ 1,1bilhão), Argentina (US$ 730 milhões), China (US$ 608 milhões), Países Baixos (US$ 478 milhões), Chile (US$ 428 milhões), Rússia (US$ 385 milhões), França (US$ 349 milhões) e Japão (US$ 274 milhões), México (US$ 240 milhões), República Islâmica do Irã (US$ 227 milhões), Espanha (US$ 224 milhões) e Itália (US$ 212 milhões), que representam 70% das exportações paranaenses.


AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

(em US$ FOB mil)

Principais Estados

2005 2004
Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo
São Paulo
Paraná
Rio Gde.Sul
Sta. Catarina
Mato Grosso
Minas Gerais
Bahia
Goiás
Espírito Santo
Pará
Outros
TOTAL
10.710.903
5.958.940
5.929.877
3.657.185
4.130.920
3.735.096
1.555.153
1.598.786
1.050.539
924.440
4.349.098
43.600.937
2.082.487
479.866
503.011
442.379
3.563
137.440
169.585
32.671
293.058
20.620
1.019.209
5.183.889
8.628.416
5.479.074
5.426.866
3.214.806
4.127.357
3.597.656
1.385.568
1.566.115
757.481
903.820
3.329.889
38.417.048
9.104.208
6.514.274
6.213.501
3.159.385
3.093.214
2.599.495
1.246.561
1.237.845
975.843
838.966
4.032.405
39.015.697
1.927.930
422.320
506.655
315.178
3.200
127.580
179.724
39.030
254.807
30.469
1.073.882
4.880.775
7.176.278
6.091.854
5.706.846
2.844.207
3.090.014
2.471.915
1.066.837
1.198.815
721.036
808.497
2.963.872
34.140.171
Fonte:SPC/MAPA

EXPORTAÇÕES PARANAENSES
COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS - 2005-2004

Produto 2005 2004 Variação 05/04
%
US$ mil FOB US$ mil FOB
COMPLEXO SOJA
(grão, óleo, farelo)

CARNES
(aves, bovinos, suínos)

MADEIRA
AÇÚCAR E ALCOOL
CAFÉ
PAPEL
COURO
MILHO
TRIGO

OUTROS DO AGRONEGOCIO

TOTAL AGRONEGÓCIO
OUTROS SETORES

TOTAL
2.303.180


1.299.703


1.089.149
288.806
238.222
187.151
52.602
58.803
14.149

427.175


5.958.940
4.063.729

10.022.669
2.963.989


953.176


1.172.359
204.020
199.199
173.556
39.696
443.851
36.542

327.886


6.514.274
2.882.260
9.396.534
-22


36


-7
42
19
8
32
-
-61

30


-8,5
41
7
                     Fonte:MDIC/SECEX



 

EXPORTAÇÕES PARANAENSES

COMPLEXOS

2005

2004

US$ FOB (mil)

Toneladas

US$ FOB (mil)

Toneladas

Soja

2.303.180

9.476.797

2.963.989

10.548.803

Grão

946.296

4.044.367

1.270.637

4.511.446

Farelo

882.049

4.432.445

1.081.929

4.934.501

Óleo bruto

343.190

743.303

460.220

839.902

Óleo refinado

115.481

234.022

123.313

222.560

Margarina, exceto líquida

...

...

16.635

22.058

Lecitina e outros

16.164

22.660

11.255

18.336

Carnes

1.299.703

960.505

953.176

821.435

Bovina in natura

14.280

2.845

27.543

6.530

Bovina industrializada

62.981

31.663

73.990

34.232

Frango in natura

403.363

394.380

292.706

362.921

Frango industrializada

550.226

396.720

390.809

318.598

Peru

77.867

44.079

49.785

28.835

Suínos

172.965

81.805

99.264

59.143

Demais Carnes

18.021

9.013

19.079

11.176

Milho

58.803

599.103

443.851

3.792.554

Milho em grão

58.803

599.103

443.851

3.792.554

Milho para semeadura

...

...

...

...

Café

238.222

74.454

199.199

90.079

Grão

66.035

37.917

66.297

55.290

Solúvel

158.874

31.656

121.865

30.596

Extratos, essências

13.313

4.881

11.037

4.193

Madeira

1.089.149

2.014.983

1.172.359

2.066.598

Compensado de Madeira

486.149

1.015.072

522.003

1.037.340

Serrada espessura > 6mm

214.185

548.592

188.638

520.182

Obras de marcenaria

180.075

169.925

182.520

160.748

Molduras

67.461

165.820

196.641

286.260

Outros

141.279

115.574

82.557

62.068

Papel e Celulose

187.151

396.716

173.556

339.693

Cuchê

37.111

51.420

37.524

61.806

Kraft para escrita e gráfica

33.402

56.316

37.512

60.701

Papel cartão "kraftliner"

69.975

228.539

58.744

171.687

Outros

46.663

60.441

39.776

45.499

Trigo

14.149

152.650

36.542

227.300

Trigo

14.149

152.650

36.542

227.300

Açúcar e Álcool

288.806

1.402.786

204.020

1.261.343

Bruto

222.701

1.189.406

154.952

1.038.859

Refinado

20.039

70.846

20.234

118.931

Álcool etílico

46.066

136.534

28.834

103.553

Couro e Calçados

52.602

16.881

39.696

12.695

Couro preparado ou curtido

35.691

15.662

29.701

12.010

Outros

16.911

1.219

9.995

685

Material de transporte

2.773.261

307.326

1.772.917

196.013

Automóveis

925.490

122.829

458.529

64.894

Autopeças

381.484

21.140

374.111

26.100

Chassis com motor

153.088

16.440

57.722

6.277

Motores para autoveículos

455.730

40.483

417.526

31.941

Tratores

318.142

51.531

273.504

45.890

Autoveículos

514.687

50.576

191.525

20.911

Outros

24.640

4.327

...

...

OUTROS

1.717.643

2.184.033

1.437.229

2.025.507

TOTAL GERAL

10.022.669

17.586.234

9.396.534

21.382.020

    Fonte: MDIC - SECEX


COMPARATIVO DAS EXPORTAÇÕES DO AGRONEGÓCIO PARANAENSE

> Trazendo as exportações do agronegócio paranaense para valores em reais utilizando o dólar médio do respectivo período, observa-se um decréscimo na receita de 19%; passando de R$ 17,29 bilhões em 2004 para R$ 13,94 bilhões em 2005, correspondente a uma perda de R$ 3,35 bilhões em relação às exportações do agronegócio em 2004.
(taxa cambial R$ 2,6544/US$)

>  As exportações totais do Paraná utilizando o mesmo critério assinalam uma queda de 6%, de R$ 24,94 bilhões para R$ 23,46 bilhões, ou seja. uma perda de receita de R$ 1,48 bilhão.
(taxa cambial R$ 2,3407/US$)


Curitiba, março/06
*Gilda M. Bozza - Economista FAEP/DTE


Boletim Informativo nº 903, semana de 20 a 26 de março de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

VOLTAR