O desespero dos produtores rurais *Ágide Meneguette | ||
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Dos agropecuaristas paranaenses, 72,02% não terão condições de pagar suas dívidas, parcial ou integralmente por causa de uma crise que já se arrasta pelo terceiro ano consecutivo. Esta é uma das constatações do levantamento feito pela Paraná Pesquisas, por encomenda da FAEP, para verificar a situação e a opinião dos produtores rurais do Estado. Foram ouvidos 1.862 agropecuaristas em 60 municípios no início de fevereiro. Em relação a 2006, a perspectiva são ruins e péssimas para 50,54% e regular para 31,01% | |
apenas 16,86% dos consultados acham que a situação será ótima ou boa. Esta avaliação é corroborada pelos 53,17% que acham que a renda deste ano será pior que o ano passado, que por sinal já foi muito ruim. Para 23,85% será igual. Somente 16,70% acham que vai ser melhor e 6,28% não responderam ou não souberam dizer. A pesquisa traz outras avaliações, mas bastam essas para mostrar o desespero dos produtores rurais em face dessa profunda crise de renda. É fácil verificar por que: em 2004 os produtores plantaram a safra de verão com um dólar a R$ 3,10 e colheram em 2005 a R$2,40 com tendência de baixa, o que efetivamente ocorreu chegando a R$ 2,11 e ameaçando despencar para menos de R$ 1,90 até o fim do ano. Mesmo produtos do mercado interno, como milho e trigo, sofrem os efeitos das cotações internacionais e a sua conversão para o real. As duas últimas safras de trigo foram um desastre, sendo vendidas bem abaixo do preço mínimo de R$ 24,00 por saca. Os produtores arcaram com um brutal prejuízo que se reflete no plantio e na colheita das safras de verão de 2005 e 2006. Nestes dois anos, o preço da soja que está muito bom no mercado externo - US$ 13,50/saca - quando convertido em real - mal chega a R$ 25,00, cotação agravada pelos deságios decorrentes da nossa precárias infra-estrutura. O milho não passa de R$ 13,00 a saca em média, o que não paga o custo de produção. Do primeiro semestre de 2004 até agora, os preços caíram em 45% para a soja, quase 30% para o milho, 53% para a mandioca, 11% para o leite, 33% para a carne bovina, 38% para a carne suína e 14% para o frango, usando valores não corrigidos pela inflação. A redução de renda foi tão grande - exacerbada por três secas que atingiram os Estados do Sul - que os instrumentos anti-crise existentes não funcionam. Não é mais possível usar os alongamentos de dívidas previstos no Manual de Crédito Rural porque elas estão acumuladas de tal forma que os produtores não tem condição de saldá-las nem de tomar novos empréstimos. Além disso, o Manual de Crédito Rural não abrange os financiamentos de investimento com recursos do BNDES. A FAEP tem advogado com insistência junto ao Governo Federal que somente uma nova securitização da dívida, com longo prazo e uma carência razoável, pode tirar a agropecuária dessa enrascada, pela qual os produtores não têm culpa alguma. Vale lembrar que o câmbio está como está e vai piorar ainda mais por conta da política do Governo Federal e que a seca deve ser atribuída a São Pedro. A febre aftosa reduziu em 20% os já baixos preços do boi e cortou quase pela metade os preços dos suínos. Ela veio de outro Estado e deve muito aos recursos contingenciados pelo Governo Federal e à teimosia e falta de decisão do Governo do Estado. E para complicar ainda mais a vida do produtor, o Governo do Estado está propondo à Assembléia Legislativa um piso salarial para o campo de R$ 427,00, 42% de aumento real sobre o salário mínimo em vigor. O clima de desesperança mostrado pela pesquisa tem, portanto, sua razão de ser e exige medidas sérias e urgentes. *Ágide Meneguette é presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná – FAEP. |
Boletim Informativo nº
902, semana de 13 a 19 de março de 2006 | VOLTAR |