Pesquisa - Agropecuária em crise

Sete em cada dez produtores rurais
não vão conseguir pagar dívidas

 


Conseqüências diretas da quebra de safra e crise de 
renda que atinge a agropecuária do Paraná neste início
 de 2005

Mais de 70% dos agricultores paranaenses não vão conseguir pagar suas dívidas neste ano, 36% deles vão ter de demitir funcionários e quase 90% não tem pretensões nem condições de adquirir máquinas e equipamentos. Se for aprovado o salário mínimo regional de R$ 427,00, entre os que têm empregados 62% vão ter que demitir por que não terão renda para arcar com a despesa adicional.

Estas são conseqüências diretas da quebra de safra e crise de renda que atinge a agropecuária do Paraná neste início de 2005. Os dados vêm de uma pesquisa com 1.832 produtores, realizada de 06 a 15 de fevereiro, em 60  municípios  do   estado  (veja   na  página   24)

O levantamento, contratado pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), foi feito pela Paraná Pesquisas.

A quantidade de entrevistas, conforme tamanho da propriedade, é uma amostra representativa do Paraná e segue os padrões do IBGE. O grau de confiança é de 95,5% para uma margem estimada de erro de 2,3% para os resultados gerais. Foram ouvidos 765 agropecuaristas com propriedade entre 10 e menos de 20 alqueires; 401 agropecuaristas com área de 20 a menos de 40 alqueires; 294, de 40 a menos de 80 alqueires e 402, de 80 ou mais alqueires.

Para 75,62% dos produtores, o ano de 2005 foi pior do que esperavam. E as coisas não devem melhorar em 2006. Mais de metade dos entrevistados, 50,54%, disseram que as perspectivas são ruins (30,13%) e péssimas (20,41%). Somente 16,01% responderam que as perspectivas são ótimas (2,15%) e boas (13,86%).

A renda da propriedade rural, neste ano, também deve piorar segundo a maioria dos entrevistados (53,17%), contra 23,85% que consideram que ficará igual e 16,70% que irá melhorar.


Os produtores rurais, em geral, estão frustrados com
 as políticas públicas dos governos para a agropecuária

Sem recursos. Em relação às dívidas, 7 em cada 10 produtores não vão conseguir arcar com todos os compromissos. Dos entrevistados, 25,74% disseram que não têm renda para pagar nada, enquanto 46,28% vão conseguir pagar apenas parte e 23,93% quitarão todos os débitos.

Qual seria então a solução para o endividamento? Numa pergunta estimulada, com 20 opções de resposta, 48,23% dos produtores disseram que a saída é renegociar tudo através de uma securitização, enquanto outros 16,27% entenderam que o melhor é só prorrogar o custeio e 11,21% disseram que deve-se deixar como está.

Sintomático da falta de renda, e do comprometimento de todos os recursos disponíveis, é o fato de que 87,27% dos entrevistados declararem que neste ano não 

tem pretensões nem condições de adquirir máquinas e equipamentos. Neste item, só 6,34% responderam que sim e 4,35% disseram que talvez possam adquirir maquinário.

Demissões. Se a crise afeta a renda, inevitavelmente terá efeito negativo também sobre a geração de empregos no campo. Apenas 2,88% dos entrevistados disseram que vão contratar mais funcionários, enquanto 35,59% afirmaram que vão ter de demitir. 54,75% vão permanecer com o mesmo número de funcionários.

Na pesquisa, a FAEP quis saber como os produtores estão reagindo à proposta de um salário mínimo estadual, no valor de R$ 437,00, contra os R$ 350,00 propostos pelo Governo Federal.

A maioria dos respondentes, 56,44%, desaprovam a medida, contra 38,02% que aprovam. Entre os que desaprovam, 14,85% disseram que simplesmente não têm condições de pagar o salário mínimo regional.

Quanto ao impacto do salário mínimo regional, vale observar as respostas a uma outra pesquisa, simultânea, dirigida a 412 produtores rurais ligados ao Sistema FAEP (com dois ou mais módulos rurais ou que têm empregados) e participantes do curso de Empreendedor Rural. Neste universo, onde estão grande número de empregadores rurais, nada menos do 62,15% dos entrevistados afirmaram que, se o salário mínimo regional entrar em vigor, não terão como pagar e haverá demissão de funcionários. Na pesquisa geral, que inclui pequenos produtores, sem empregados, 49,32% disseram que haverá demissões, contra 30,51% que não vão demitir. Ainda 10% dos produtores declararam que a alternativa será substituir mão-de-obra por máquinas, contra 10,17% que não souberam ou não responderam.

Frustração. Os produtores rurais, em geral, estão frustrados com as políticas públicas dos governos para a agropecuária. 45,17% disseram que as políticas do Governo do Estado são ruins ou péssimas, contra apenas 17,40% que as consideram ótimas ou boas. Em relação ao Governo Federal, as políticas para a agropecuária foram classificadas como ruins e péssimas por 70,57% dos produtores, enquanto 6,39% as classificaram como ótimas ou boas.

Sobre o que os governos poderiam fazer para ajudar na travessia da crise, as respostas espontâneas apontaram basicamente na necessidade de baixar os juros dos financiamentos, valorizar os produtos agrícolas e criar mais linhas de crédito, além de garantir o preço mínimo e melhorar o câmbio.

A FAEP quis também saber a opinião dos produtores em relação à infra-estrutura de transportes no Paraná. De 0 a 10, os entrevistados deram nota 5,17 às condições das estradas, 4,59 para as ferrovias, 5,04 para o Porto de Paranaguá, 2,26 para as políticas de pedágio e nota 6,00 para a capacidade de armazenagem.

clique e veja  a pesquisa 


Boletim Informativo nº 902, semana de 13 a 19 de março de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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