Produtores australianos conhecem
setor lácteo da América do Sul


Visita a uma pequena propriedade em Mal. Cândido Rondon

Um grupo de cinco produtores rurais australianos visitou Uruguai, Argentina e Brasil para conhecer melhor os sistema de produção de leite nestes países. A Austrália é grande produtora e exportadora de leite e o interesse é "conhecer o potencial de produção e crescimento de cada um desses países, e tentar estabelecer relacionamentos que, em longo prazo, possam beneficiar ambos os lados", explica Airton Spies, chefe do Centro de Estudos de Safras e Mercados da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, que atuou como guia do grupo durante sua passagem pelo Brasil.

No Paraná foram três dias e meio de intensa

programação que começou com a recepção do grupo na sede da FAEP em Curitiba. João Luiz Rodrigues Biscaia, diretor financeiro da FAEP,  Livaldo Gemin, diretor secretário, Wilson Thiesen,

presidente do Conseleite e Sindileite, e Ronei Volpi, superintendente do SENAR-PR e presidente da Comissão técnica de Bovinocultura de leite da FAEP, participaram com os produtores de uma apresentação sobre o perfil do setor leiteiro brasileiro e paranaense e as ações do Conseleite desde sua criação.

O grupo selecionado para a visita trouxe ao Brasil representantes de diferentes sistemas de produção de leite na Austrália. Todos são do estado de Victória (capital Melbourne) que é responsável por 64% do leite produzido na Austrália. A viagem foi patrocinada por uma Fundação de produtores que financia capacitação e viagens de estudo.



Grupo conhece estrutura de indústria de laticínios no Paraná


   Os produtores australianos tiveram a oportunidade de conhecer propriedades leiteiras no interior do estado, na região oeste, que se destaca pelo volume de produção e na região dos Campos Gerais, onde o destaque fica por conta da tecnologia utilizada e alta produtividade. Foram agendadas também visitas a cooperativas e às linhas de produção da Batávia S/A- Indústria de Leite e Derivados Refrigerados e da Sudcoop/Frimesa que foram consideradas pelo visitantes empresas similares às da Europa, estados Unidos ou Austrália, com a diferença que "aqui ainda se emprega muita mão de obra, nos países citados todo o processo é automatizado." O grupo que chegou ao Brasil com poucas informações sobre o que iria encontrar tem como consenso de que pelas condições de solo e de clima daqui, "é fácil para o Brasil aumentar sua produção de leite significativamente pelo manejo de solos, dos animais e de pastagem".

Produção na Austrália se baseia no pasto



Produtores australianos conhecem área de pastagem na
região dos Campos Gerais


   A Austrália possui 9.500 produtores de leite e um rebanho de mais de dois milhões de vacas. A produção anual ultrapassa os 10 bilhões de litros, volume que não consegue ser absorvido pela população de 20 milhões de australianos, fazendo do país o terceiro maior exportador de laticínios no mundo. Atualmente, os principais importadores estão localizados na Ásia e Oriente Médio.

O país tem um sistema de produção de leite a pasto, onde pelo menos 60% da dieta é composta por pastagem, complementada por ração e silagem. O rebanho médio é de 230 vacas, com uma produção de 5 mil litros por vaca/ano. A composição do leite é de 4,10% de gordura e 3,31% de proteína. 


   O valor atual do litro de leite fica em torno de US$ 0,26, o que segundo o visitante Andrew Wellington, gerente de produção da Murray Goulburn, maior cooperativa de leite da Austrália, "é o melhor preço obtido em muito tempo".

Do total do leite produzido na Austrália, a metade vem de grandes propriedades, que representam 20% do total, considerando que lá uma pequena propriedade tem, em média, um rebanho de 100 vacas. Outro dado interessante é que 59% do leite produzido vem de terras que utilizam irrigação em seu sistema de produção, sendo que 42% das propriedades leiteiras são irrigadas. A mão-de-obra familiar é a base de trabalho para 61% das propriedades.

A contratação de mão-de-obra externa é um recurso pouco utilizado até porque é pouco disponível. Apenas 21% das propriedades utilizam funcionários contratados, sendo que a média é de um posto de trabalho para cada milhão de leite produzido por ano. Entre os produtores visitantes, Wayne Weller, é proprietário de um rebanho de 1000 vacas, que ele administra com a ajuda de cinco funcionários, sendo um deles seu filho.

Brasil tem potencial para crescer

Mesmo vivendo um momento de prosperidade, os produtores australianos lembram que o setor ainda está se recuperando da seca que os atingiu há quatro anos, quando o valor o litro de leite não cobria "nem de longe" as despesas com ração, silagem e água. O produtor australiano não conta com seguro do governo e o crédito fornecido vem de instituições privadas com juros que variam de 7% a 8,5%.

A baixa produtividade brasileira é um outro contraste entre os dois países (veja quadro) porém representa uma grande oportunidade de crescimento, uma vez que o Brasil apresenta condições favoráveis para facilmente triplicar sua produção. De acordo com a avaliação do visitante Allen Van Kuyk, "a produção a pasto é o único caminho que o Brasil tem para se tornar competitivo no mercado internacional". O produtor John Keely complementa: "Se explorarem as condições climáticas favoráveis, o potencial de produção de pasto e com inteligência transformar isso em leite, podem estourar no mercado internacional".

A FAEP que compartilha essa linha de raciocínio, é parceira de outras instituições no Programa Produção Paranaense de Carnes e Leite à Base de Pasto. Por meio de encontros entre técnicos e produtores (treino visita), vem disponibilizando os resultados das pesquisas realizadas ou em andamento sobre as respostas do manejo do gado em diferentes pastagens nas diferentes regiões do estado. Mas isso não significa que os produtores paranaenses devam abrir mão da possibilidade de utilizar das várias alternativas de conservação de forragens e suplementação com concentrados, sempre que compatíveis com custos de produção competitivos.

 

Austrália

Brasil

Paraná

Área( Km2)

7,5 milhões

8,5 milhões

199,5 mil

Rebanho (vacas em lactação – milhões)

2,01

20

1,3

Produção ( bilhões de litros)

10,1

23,5

2,4

Produtividade (litros/vaca/ campo)

5000

1189

1570

Sistema de Produção

Exclusivo a pasto
com pouca
complementação

A pasto, confinamento
e semi-confinamento

A pasto com
complementação,
confinamento e
semi-confinamento

Exportações

52,5% da produção

1,63% da produção

Começa a exportar
queijos e leite em pó.


Boletim Informativo nº 901, semana de 27 de fevereiro a 5 de março de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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