Jornal Gazeta Povo

A nova fronteira

O sucesso da exploração agropecuária racional, produtiva e ecologicamente correta que se faz atualmente na região do Arenito Caiuá, Noroeste do estado, prova o quanto o desenvolvimento da ciência agronômica e o emprego de tecnologias apropriadas podem ainda contribuir para o enriquecimento do campo no Paraná. Até há pouco considerada uma área inviável, lá florescem agora lavouras de alta produtividade e expande-se uma pecuária de primeira linha, conforme retratamos ontem na edição inaugural do nosso suplemento "Caminhos do Campo", freando um longo e penoso processo de esvaziamento e empobrecimento.

O solo pobre em nutrientes e altamente suscetível à erosão foi o fator mais determinante para que o Noroeste fosse sempre considerado impróprio para a atividade agrícola. Seus momentos de riqueza, representados pela implantação das primeiras lavouras de café na década de 60, foram logo substituídos pela desesperança. A partir do grande cataclismo da geada negra de 1975, que dizimou a cafeicultura paranaense, inúmeras alternativas foram tentadas, dentre as quais a fruticultura. Nenhuma, porém, prosperou.

Economicamente viáveis, mesmo, seriam as lavouras de soja e a pecuária, desde que fossem encontradas soluções técnicas para contornar as limitações do solo. Foi exatamente isto o que ocorreu: nos últimos anos, o emprego de tecnologias adequadas e a visão de inúmeros empreendedores privados permitiram a transformação da região em uma das mais produtivas do Paraná em soja, milho e gado de corte. Criou-se, de fato, uma nova fronteira agrícola. E revive-se, agora, a esperança de que o Noroeste reverta o ciclo que o marcou nos últimos anos, representado pelo esvaziamento populacional e pelo empobrecimento dos seus municípios.

Esta experiência pode ser levada às demais regiões do Paraná. O estado já esgotou praticamente todas as possibilidades de fazer crescer sua agropecuária com base na incorporação de novas áreas. Elas já não existem, a menos que se provoquem grandes danos ambientais, dentre os quais a destruição dos seus parcos remanescentes florestais. Mas pode crescer em produtividade – desde que haja investimento maciço em pesquisa agronômica e assistência técnica.

Foram esses dois fatores que propiciaram os grandes ganhos de produção e de qualidade à agropecuária paranaense, especialmente nas décadas de 70 e 80. Duas instituições tiveram papel decisivo nesse processo – o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e a Emater. Elas receberam apoio total dos governantes de então e, graças à sua atuação, o estado passou a bater sucessivos recordes de produção sem precisar expandir as áreas de ocupação.

Hoje, porém, os dois organismos passam por um verdadeiro processo de desmanche. Equipamentos sucateados, recursos humanos altamente capacitados em fuga e inexistência de uma clara e efetiva política de ação fazem parte do quadro agônico em que se encontram o Iapar e a Emater. Pouco podem contribuir, atualmente, para operar no Paraná tudo o que se fez com sucesso na Região Noroeste. É hora de o governo estadual mudar sua visão e voltar dar a eles o devido grau de importância estratégica que lhes é próprio.

Editorial Gazeta Povo, de 15/02/2006


Boletim Informativo nº 900, semana de 20 a 26 de fevereiro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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