Crise de mercado e preços levam
produtores de Cascavel às ruas

O impacto do embargo gerado pela febre aftosa, o
achatamento da renda do setor e a falta de medidas de
amparo
à produção trazem de volta o espectro do retrocesso

Uma marcha de protesto de suinocultores com representantes de pelo menos 18 municípios do Oeste e Sudoeste do Paraná, além de Santa Catarina, movimentou o trecho central do calçadão da Avenida Brasil, em frente à Catedral de Cascavel, na manhã do dia 10. Caravanas de produtores deixaram por um dia o trabalho de manejo e alimentação de seus plantéis de animais nas granjas, para cobrar medidas de apoio e sustentação econômica do Governo. Ao meio-dia promoveram a distribuição de três toneladas de carne assada de graça, além do leilão de dois leitões, doando a renda a uma instituição social, a União Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Câncer. A tarde saíram em carreata pela cidade.


Produtores rurais de Cascavel reúnem-se no centro da
cidade contra a política do governo para a agropecuária


   A manifestação foi coordenada pela Associação dos Paranaense de Suinocultura (APS) com apoio dos Sindicatos Rurais do Sistema FAEP, de parlamentares estaduais e federais, de autoridades municipais e regionais e da entidade dos suinocultores de Santa Catarina. Para Nelson Menegatti, presidente do SR de Cascavel, a situação é muito grave e preocupante.



   Segundo Nelson Paludo, presidente do Sindicato de Toledo, é preciso união para vencer as dificuldades de produção e comercialização. "Temos que pensar em conjunto", destaca. Paludo disse também ser necessária a adoção de uma ampla política agrícola que atenda globalmente o setor, uma vez que a crise acaba afetando todas as áreas. Na sua avaliação, os problemas de mercado surgidos da crise da febre aftosa, de retração além da queda de preços e consumo podem ser vencidos com medidas de apoio e um trabalho conjunto. "Unido, todo o agronegócio vai ganhar", resume.

Os suinocultores querem do Governo medidas 

imediatas que afastem o impasse da febre aftosa no Paraná, além da renegociação dos débitos, a liberação de recursos para ações e programas de Defesa Sanitária Animal , medidas de proteção do rebanho e a inclusão da carne suína na merenda escolar e nos programas de distribuição de alimentos.


   Levantamento da Associação Paranaense dos Suinocultores (APS) aponta a queda brusca dos preços recebidos pelo produtor e a retração de mercado. A cotação média de R$ 2,50/kg de outubro de 2005 caiu para R$ 1,30 em janeiro para um custo de produção que gira entre R$ 1,70 e R$ 1,80/ kg de suíno.

Os manifestantes queixaram-se também que a queda de preços atinge apenas os criadores, sem beneficiar os consumidores no comércio varejista e supermercados onde o valor de venda é mantido. A manifestação em Cascavel teve a divulgação de uma Carta de Alerta.


 

"Alerta da Suinocultura do Paraná

Crise da suinocultura

Os suinocultores paranaenses e brasileiros enfrentaram novas e graves crises ao longo dos últimos cinco anos. Depois de amargar perdas por longo período, os preços do suíno vivo começaram a reagir com o crescimento das exportações e a valorização da carne suína no mercado internacional. Quando o produtor teve a oportunidade de começar a recuperar parte de suas perdas, surgiram os focos de febre aftosa e os preços do suíno voltaram a despencar no mercado interno.

De R$ 2,40 o quilo, os preços do suíno vivo caíram para até R$ 1,25. Em toda a cadeia produtiva, porém, somente o criador foi atingido pela crise, pois o consumo interno da carne suína se manteve estável e as exportações bateram recordes em 2005, em volume e valor. Foram 625 mil toneladas e 1,1 bilhão de dólares.

Apesar do embargo de dezenas de países às carnes brasileiras, as vendas externas de carne suína tiveram desempenho satisfatório, inclusive com a elevação dos preços internacionais do produto. A superação da crise depende da organização do suinocultor e também do apoio do poder público e da sociedade.

Dentro da organização do produtor, a sustentabilidade da suinocultura passa pela administração da produção e sistemas de produção, que permita o equilíbrio entre oferta e demanda e custos e receitas da atividade. O suinocultor há muito tempo reivindica uma política agropecuária de médio e longo prazos, que lhe permita investir em tecnologia, qualidade, sanidade e preservação ambiental, com mais segurança e tranqüilidade.

Reivindicações:

  • Solução imediata para o caso da aftosa no Paraná.

  • Renegociação de débitos dos produtores, com prorrogação de vencimento de parcelas vencidas e vincendas.

  • Liberação de novos recursos nos moldes do financiamento concedido para retenção de matrizes.

  • Apoio oficial à estruturação de cadastro nacional da produção de suínos.

  • Liberação de recursos para ações e programas de defesa sanitária animal e proteção do rebanho suíno.

  • Inclusão da carne suína na merenda escolar e nos programas de distribuição de alimentos à população carente e apoio oficial às campanhas de incentivo ao maior consumo interno do produto".


Boletim Informativo nº 900, semana de 20 a 26 de fevereiro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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