Protocolo de Cartagena

Exigência de ambientalistas pode
prejudicar o fluxo comercial do País

O Brasil já tem uma lei de Biossegurança que disciplina a pesquisa, o cultivo e a comercialização de organismos geneticamente modificados. Mas ambientalistas locais, aliados a alguns países importadores, vão aproveitar a conferência da ONU sobre biodiversidade, em Curitiba, para tentar criar uma regra internacional que irá prejudicar as exportações do país, comprometendo sua eficiência competitiva.

Representantes de 30 instituições do agronegócio brasileiro discutiram, na semana passada, na CNA, a possibilidade de mudança nas regras para a movimentação entre os países dos OVM’s - os Organismos Vivos Modificados. Os OVM’s, ou transgênicos vivos, envolvem variedades agrícolas geneticamente modificadas, como sementes, plantas, animais e vírus.


Ambientalistas aliados a alguns países importadores vão
aproveitar a conferência da ONU sobre biodiversidade, em
Curitiba, para tentar criar uma regra internacional que irá
prejudicar as exportações do país, comprometendo sua
eficiência competitiva




   No ano passado, na última rodada de negociações sobre o tema do Protocolo de Cartagena, no Canadá, ficou estabelecido que a informação de embarque seja "Pode conter OVM". Os ambientalistas querem mudar para "Contém OVM". Uma das principais preocupações do setor privado com a adoção do termo "Contém OVM" é a elevação de custos no processo de comercialização de produtos agrícolas no mercado internacional, com a necessidade de realização de testes específicos para identificação de OVMs. O país  que  aprovar a  expressão  "Contém OVM" se obriga, consequentemente, a informar o volume e qual o

produto compõe o embarque. "Isto, sem dúvida, não traz nenhum problema para os países importadores, que ficarão no conforto da sombra, esperando seu produto com toda a burocracia custeada pelo exportador", avalia o presidente da Comissão Nacional de Comércio Exterior da CNA, Gilman Viana Rodrigues.

Na avaliação de Rodrigues, é preciso clareza na definição de regras que possam afetar o fluxo comercial do País. "Não tem sentido um país exportador apoiar medidas que comprometam seu próprio esforço exportador. Os prejuízos que daí adviriam atingem, diretamente, a competitividade do agronegócio nacional, agredindo a renda da cadeia produtiva e, em

conseqüência, do próprio país, além de efeitos drásticos no nível de emprego", afirmou Rodrigues, que irá participar da terceira reunião dos Países Membros do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, a ser realizada entre os dias 13 e 17 de março, em Curitiba (PR).

Segundo Gilman Rodrigues, é preciso mobilizar o setor privado e a opinião pública para evitar que o país dê um "tiro no pé", por causa da manobra dos ambientalistas. "Quando um produto vai para o porto, já passou por todo o ritual brasileiro de controle de qualidade e certificação de origem, não tem por que se submeter a regras que façam mais interferência no comércio. Além dos prejuízos comerciais, seria um descrédito à legislação brasileira", analisa Rodrigues.



Os prejuízos podem atingir diretamente a competitividade
do agronegócio nacional, agredindo a renda da cadeia
produtiva e, em conseqüência, do próprio país, além
de efeitos drásticos no nível de emprego



   Nenhum dos outros grandes exportadores agrícolas mundiais, como Estados Unidos, Argentina e Canadá, assinou o protocolo. "Qualquer nova obrigação", diz Rodrigues, "só o Brasil estará obrigado a executar, onerando o seu comércio e afetando a eficiência competitiva. Os outros vão ficar de palanque, assistindo".

As instituições do agronegócio que participaram da reunião na CNA decidiram mobilizar a opinião pública e pressionar o poder Executivo para que o país não cometa o erro de criar barreiras à própria exportação. Um documento, alertando sobre o assunto, foi entregue ao presidente da Comissão de Agricultura da Câmara.

Regras sobre danos também preocupam

Outro item que preocupa o setor do agronegócio é a questão da responsabilidade e compensação relativos aos danos causados pela movimentação fronteiriça de organismos vivos modificados. As regras deverão estar estabelecidas até 2007. Segundo o chefe do Departamento de Comércio Exterior da CNA, Antônio Donizeti Beraldo, esse é outro tema sensível, pois envolve uma série de tópicos que precisam ficar claramente definidos, como a natureza do dano, a valoração do dano causado à biodiversidade e à saúde humana, o papel das empresas importadoras e exportadoras, mecanismos financeiros de seguro, entre os principais. "É um detalhamento complexo, pois cada País tem uma tecnologia, cenários econômicos diferenciados, normas jurídicas próprias, que precisam ser avaliados com precisão", afirmou.


Boletim Informativo nº 899, semana de 13 a 19 de fevereiro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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