Protesto

Produtores de Palmeira bloqueiam
trecho do Corredor de Exportação

Interdição do tráfego foi de curta duração mas expôs a tensão do setor
com as dívidas que estão vencendo, a necessidade de prorrogar as
parcelas, os prejuízos da estiagem e os baixos preços dos produtos
agrícolas, entre os problemas da safra 2005/2006


   Mais produtores rurais de Palmeira e municípios vizinhos do centro paranaense participaram do segundo protesto da região, em menos de um mês. A mobilização ocorreu dia 30, em decorrência dos prejuízos da estiagem, da crise de preços e de mercado. O setor produtivo quer medidas de apoio. Durante o protesto foi divulgada a Carta de Palmeira.

Decidida em poucos dias, na esteira do protesto da região de Tibagi (18), a marcha teve agricultores a pé, em tratores e colheitadeiras e carros, que bloquearam um trecho da BR- 277, o principal acesso rodoviário do município, provocando o congestionamento do tráfego de carga e do transporte interurbano.



Decidida em poucos dias, a marcha teve agricultores
a pé, em tratores e colheitadeiras e carros, que
bloquearam um trecho da BR- 277



A manifestação foi organizada pelo Sindicato Rural de
Palmeira em parceria com o Movimento Pró-Valorização
da Atividade Rural e municípios vizinhos


   A manifestação foi organizada pelo Sindicato Rural de Palmeira, através do presidente Vagner Augusto Barausse, em parceria com o Movimento Pró- Valorização da Atividade Rural e municípios vizinhos.

Surpreendeu pela determinação dos participantes, preocupados em exteriorizar o descontentamento em relação à mudanças e políticas de amparo à produção agrícola.

A manifestação também exigiu estratégias de deslocamento, pelo grande número de produtores que aderiram e que se aglomeraram as margens da rodovia federal. Iniciou-se com a concentração dos manifestantes motorizados no logradouro Colônia Francesa, na BR-277, enquanto os agricultores a pé partiam da Praça do Cemitério em direção à praça

matriz da cidade. Na seqüência, em marcha, os grupos seguiram juntos para o centro da cidade. A BR- 277 é a principal ligação rodoviária entre Foz do Iguaçu e o Porto de Paranaguá.

"Este é o segundo movimento regional, surgido das bases rurais, que deverá ser irradiado dos Campos Gerais para todo o Paraná, e depois para o Brasil, em busca de políticas agrícolas definidas", declarou Barausse.

Leia a seguir a íntegra da Carta de Palmeira:


 
"Palmeira, 30 de janeiro de 2006.

Prezado(a) Senhor(a):

Através deste manifesto, gostaríamos de esclarecer o protesto realizado no Município de Palmeira, nesta Segunda-feira, dia 30 de janeiro, elencando os principais pontos reivindicados pelos produtores rurais da região dos Campos Gerais.

Movimento Pró- Valorização da Atividade Rural

CARTA DE PALMEIRA

Palmeira e Municípios vizinhos, palcos centenários do desenvolvimento do Paraná, cientes de sua vocação rural, ressentem-se com a falta de atenção que os sucessivos governos brasileiros dedicaram ao campo no transcorrer de nossa história. Vemos o campo, paulatinamente, perder sua população pois, além de não oferecer os avanços tecnológicos que geram conforto social nas cidades, não apresenta alternativas econômicas atrativas, especialmente para os jovens.

A falta de políticas agrícolas definidas inviabiliza a atividade rural, e, ao mesmo tempo que os governos comemoram as safras agrícolas que sustentam nossa balança comercial, desmerecem a atividade rural, ao não oferecer estímulos às mesmas. Na economia, as atividades de maior risco são indexadas aos maiores lucros; talvez, por esta razão, dados os riscos que envolvem a agricultura e a pecuária, os países de Primeiro Mundo subsidiam seus produtores, no mínimo, com políticas justas de preços mínimos.

No Brasil, além de não termos preços mínimos nós, produtores rurais, vivemos a indefinição no que se refere a juros compatíveis com a atividade, na destinação insuficiente de crédito agrícola, na falta de seguros para suas lavouras e gado. Enquanto diminuem as linhas de crédito, aumentam os juros disponíveis (cerca de 70% do custeio a juros em torno de 20% a.a.) e não se conseguem seguros da lavoura a valores compatíveis, aumenta a carga tributária e o custo da produção. Resultado: o valor de venda não cobre os custos de produção. A situação atípica e irreal pela qual passa o dólar agrava ainda mais a situação.

Somem-se a esta situação as quebras sucessivas ocasionadas por intempéries (chuvas excessivas, estiagem prolongadas, granizo, etc.) e o nosso(a) agricultor(a) vem potencializando suas dívidas. Há que se ressaltar que a categoria, com certeza, não gostaria de ter que renegociar dívidas, mas devido aos baixos preços alcançados por sua produção, não lhe resta outra alternativa.

Há questões bem delimitadas, como é o caso do trigo, negociado pelo Governo Federal num preço mínimo de R$ 400,00 a tonelada, descumprido pelo próprio Governo, que prefere importar o produto da Argentina.

No caso da suinocultura, o "alardeamento" de febre aftosa (barreiras sanitárias entre estados, e com o exterior) inviabilizou as exportações praticamente por todo o ano corrente, comprometendo a atividade.

Quanto às culturas de soja e milho, a estiagem prolongada provocará novamente sérias perdas em toda a região, acentuando o endividamento dos produtores.

Por outro lado, os mesmo fator cambial que puxa os preços da produção para baixo, não diminui o preço de insumos agrícolas ou do maquinário necessário.

Na região de Palmeira temos ainda as questões relativas à produção de leite, produto que teve uma variação para baixo de mais de R$ 0,10 (dez centavos) o litro, no último ano.

Esta é, ainda, uma região produtora de gado de corte que sofreu prejuízos substanciais com o anúncio de febre aftosa, até hoje não devidamente comprovada.

Palmeira é um Município que ainda possui 44% de sua população no meio rural, fato que se repete em alguns municípios vizinhos. No Brasil, apenas 20% da população vive no meio rural.

Diante do exposto, se entendermos que a atividade rural é importante para a região e para o Estado do Paraná, devemos preocuparmos em garantir alguns pontos essenciais:

- mais recursos para financiamento a juros de 8,75% ao ano;

- ampliação do acesso ao crédito a agricultores e agricultoras que hoje não são atendidos;

- garantia de preços mínimos para os produtos agrícolas e pecuários;

- re-securitização das dívidas dos produtores rurais;

- definição de seguro agrícola quanto a intempéries;

- definição de políticas cambiais compatíveis;

- Mais oportunidades de negociação junto aos agentes financeiros antes de possíveis execuções judiciais.

Cordialmente,

Altamir Sanson - Prefeito Municipal de Palmeira; Valmir Sanson - Presidente da Câmara Municipal de Palmeira; Vagner Augusto Barausse - Presidente do Sindicato Rural de Palmeira; Luiz Eduardo Pillat Rosas - Representante do Movimento dos Produtores Rurais; Valter José Ramos - Diretor do Departamento de Agricultura e Abastecimento – Palmeira; Douglas F. T. Fonseca - Representante do Conselho de Desenvolvimento de Ponta Grossa (CEDESPONTA); Lineu Aurélio Salgado Filho - Presidente Palagro; Luiz Roberto Baggio - Presidente Cooperativa Agroindustrial Bom Jesus; Artur Sawatzki - Presidente Cooperativa Witmarsum; Associação dos Secretários da Agricultura dos Campos Gerais; Associação dos Municípios dos Campos Gerais; Representante da Coopagrícola; Representante Associação dos Suinocultores"


Boletim Informativo nº 898, semana de 6 a 12 de fevereiro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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