"Erro
inquestionável" na suspeita | |
Três meses depois do comunicado oficial do Paraná ao Ministério da Agricultura de que havia suspeita de febre aftosa na fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, norte do Estado, sobram poucas hipóteses para explicar a confusão criada em torno do caso. Dezenas de exames não isolaram o vírus. Entre os técnicos, "é praticamente inquestionável que houve erro por parte da Secretaria da Agricultura (SEAB) ao afirmar que as chances de o rebanho estar contaminado eram de 99%", disse o coordenador do curso de Medicina Veterinária da Cesumar e doutor em Patologia, Raimundo Tostes, em entrevista ao jornal Folha de Londrina (17/01). Antes, ele já havia ponderado que |
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"dizer que era aftosa foi ‘um chute’". Outro técnico, Amauri Alfieri, doutor em Virologia e professor da Universidade Estadual de Londrina, também chegou à conclusão de que houve erro de diagnóstico no rebanho paranaense por parte dos veterinários da secretaria. Na avaliação da FAEP, não há espaço de manobra para inventar muitas explicações. Ao anunciar o foco, o Governo do Estado demonstrou quase certeza da existência da febre aftosa, convicção baseada nos sintomas dos animais e em exames realizados clandestinamente no laboratório Marcos Enrietti, da própria SEAB. A outra hipótese deixa os técnicos da Secretaria em maus lençóis: eles teriam mostrado incompetência ao confundir sintomas, declarando haver 99% de chances de confirmação da doença. "Quem inventou que tinha aftosa foi o Paraná, o Ministério não é culpado. A SEAB se escondeu atrás do Conesa para tomar uma decisão (sacrifício dos animais) e ainda se absteve de votar’’, disse o assessor técnico da FAEP, Carlos Augusto Albuquerque, citado pela Folha. |
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contabiliza um prejuízo diário de R$ 4,7 milhões de reais, sem contar as centenas de empregos perdidos. O pesquisador Raimundo Tostes, da Cesumar, diz que é preciso tirar algumas lições do episódio. ‘’Ao longo do processo, vimos que as lesões eram leves e transitórias e regrediram espontaneamente. Olhando para trás e analisando todo o processo com serenidade, afirmamos que foi dada importância demais às lesões, houve um superdimensionamento do problema’’. Para ele uma situação estritamente técnica transformada em discussão política, aliadas às poucas e equivocadas ações por parte da Seab para lidar com o problema. Na semana passada, o Ministério do Desenvolvimento (MDIC) apresentou um balanço parcial dos prejuízos da aftosa no Paraná. As exportações de carne bovina refrigerada registraram no ano passado queda de 48,15%, e 14,88% na carne congelada, em relação a 2004. A queda no desempenho foi acelerada depois da suspeita de febre aftosa. Na suinocultura, as exportações de carne congelada fecharam o ano em US$ 149 milhões, US$ 35 milhões a menos do que o esperado. A diminuição das exportações resulta em maior oferta para o mercado interno, derrubando os preços. Até outubro, o preço do quilo do suíno no mercado interno era de R$ 2,45, agora já caiu para R$1,55. Paulistas souberam lidar melhor com a suspeita Como o Paraná, São Paulo também recebeu gado vendido na Exposição Eurozebu, em Londrina, proveniente de municípios afetados pela febre aftosa no Mato Grosso do Sul. No entanto, desde o início, as autoridades paulistas se limitaram a garantir que estavam monitorando os animais. Esta atitude cautelosa fez a diferença em relação ao Paraná. Hoje São Paulo sofre restrições no acesso a mercados internacionais, por causa da proximidade dos focos da doença, mas não aparece oficialmente no mapa da febre aftosa. A reinserção no comércio internacional será muito menos complicada. O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Alves Maciel, observa que não foi feita a vinculação epidemiológica entre São Paulo e Mato Grosso do Sul. Os bovinos sequer foram submetidos a exames sorológicos. Simplesmente por que os animais não apresentaram sinais clínicos da doença. Já no caso paranaense, a própria Secretaria da Agricultura convocou entrevista para dizer que a febre aftosa era praticamente certa, por que os animais tinham febre, mancavam e salivavam acima do normal, além de apresentarem lesões compatíveis com a doença. Até exames laboratoriais já haviam sido feitos pela SEAB quando foi dado o alerta de suspeita de foco. "Desde o começo quem falou que tinha aftosa no Paraná foi a SEAB", disse Gabriel Maciel. Veja, no quadro, relatório da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) que demonstra a inutilidade de tentar provar, agora, que os animais supostamente infectados estariam sadios. Com doenças infecto-contagiosas, cautela e atitudes preventivas são regra de ouro. A comunidade internacional toma as atitudes preventivas. A cautela, faltou no caso paranaense.
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Boletim Informativo nº
896, semana de 23 a 29 de janeiro de 2006 | VOLTAR |