CPMI da Terra rejeitou relatório
favorável ao Movimento Sem Terra

Em seu lugar foi aprovado o relatório alternativo
do deputado federal paranaense Abelardo Lupion

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Terra derrubou um documento tendencioso e favorável ao MST, submetido pelo relator, deputado João Alfredo, e aprovou em seu lugar o relatório alternativo do deputado federal Abelardo Lupion. A Presidência da CPMI, que concluiu os trabalhos no dia 29/11, foi do senador paranaense Álvaro Dias. Para ele, há elementos suficientes para o pedido – previsto no relatório da Comissão – de indiciamento de três diretores de duas organizações parceiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).


   Elas são acusadas de repasse irregular de recursos públicos para o movimento. Álvaro Dias também se manifestou favorável à vinculação jurídica dessas organizações ao MST, para que elas paguem os possíveis danos causados pelas ocupações de terra, conforme sugerido no documento final da Comissão.

Veja como era a proposta do relator, deputado João Alfredo (PSOL/CE), e como ficou o relatório final.

Relatório João Alfredo, rejeitado

Com 800 páginas, recomendava "ações concretas e urgentes para apressar a reforma agrária no Brasil e diminuir os conflitos fundiários e a violência no campo".

Entre as sugestões, estavam:

  • Combate à grilagem e ao trabalho escravo e da adoção de políticas de controle das empresas de segurança privada para evitar conflitos decorrentes de invasões.

  • Edição de Medida provisória propondo alterações no Serviço Nacional de Aprendizagem Cooperativista (SESCOOP) e na lei que cria o Sistema Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR).

  • Implementação de políticas públicas para assistência técnica, jurídica e social às famílias de assentamentos já realizados e a criação de ouvidorias agrárias federais.

  • Aprovação de medidas legais para estimular ações de reforma agrária, como garantir, na Lei Orçamentária de 2006, os recursos necessários para o cumprimento das metas previstas no II Plano Nacional de Reforma Agrária.

  • Aprovação da PEC 287/00, de autoria da deputada Luci Choinacki (PT-SC), que estabelece o limite máximo da propriedade rural no Brasil em 35 módulos fiscais (945 hectares).

  • Alterações na Lei da Reforma Agrária (8629/93) para facilitar a vistoria e a avaliação preliminar de imóveis para fins de desapropriação.

  • Análise das propostas de criação da Justiça Agrária.

Ao Judiciário e Ministério Público, o relator pediu priorização do julgamento das ações e dos recursos judiciais sobre desapropriação, discriminação de terras devolutas e retomadas de terras públicas, para tornar mais ágil a reforma agrária;

  • Reativação do Grupo de Trabalho da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão da Procuradoria da República sobre Trabalho Escravo.

  • Indiciamento dos casos já investigados e realização de novas investigações.

  • Indiciamento de produtores e lideranças rurais, poupando representantes dos trabalhadores processados por porte ilegal de armas, como o líder do MST José Rainha Júnior.

 

Relatório Abelardo Lupion, aprovado

O relatório do deputado João Alfredo foi rejeitado por 13 votos a 8. Com a rejeição do relatório original, foi discutido e aprovado, por 12 votos favoráveis e um contrário, o relatório alternativo apresentado pelo deputado Abelardo Lupion(PFL-PR) que passou a ser o relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito -CPMI da Terra, .

Entre as propostas apresentadas pelo relatório do deputado Lupion, estão:

1) A abertura de processos e investigações contra 10 lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), entre as quais João Pedro Stélide, João Paulo Cunha, José Rainha, Jaime Amorim e Gilmar Mauro.

2) O indiciamento de dois diretores da Associação Nacional de Coooperativas Agrícolas (Anca) e um diretor da Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil (Concrab)., José Trevisol, Pedro Christóffolli e Francisco Dal Chiavon, por desvios de verbas públicas.

3) Que o Tribunal de Contas da União (TCU) suspenda o repasse de recursos para Anca, Concrab e Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (Iterra). As três organizações se apresentam como entidades parceiras do MST.

4) A aprovação de um projeto de lei que transforma em crime hediondo o saque ou invasão de propriedade privada. Também pede o enquadramento de ocupação de terra como ato terrorista.

5) O texto retira o pedido, que havia sido feito pelo relator, de indiciamento do presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Garcia.

6) O texto final da CPMI também recomenda à Polícia Federal e à ABIN que investigue denúncias de treinamento de guerrilha e de interferência das FARC em centros de treinamento do MST. E determina à Polícia Federal que organize força tarefa para investigar a constituição de organizações que incentivam e promovem a violência no campo.

7) Para reduzir fraudes no cadastro de terras públicas e evitar conflitos agrários, a CPMI da Terra recomenda, entre outras coisas, a reestruturação e o fortalecimento do Banco da Terra – que realiza o financiamento para que os trabalhadores rurais comprem a terra.

8) O texto final da CPMI também recomenda à Polícia Federal e à ABIN que investigue denúncias de treinamento de guerrilha e de interferência das FARC em centros de treinamento do MST. E determina à Polícia Federal que organize força tarefa para investigar a constituição de organizações que incentivam e promovem a violência no campo.

O deputado Lupion justificou seu relatório dizendo que "o setor produtivo não agüenta mais ser desrespeitado". Para ele, o relatório do deputado João Alfredo ameaçava o direito de propriedade da terra. "Não podíamos fazer acordo ou negociar os nossos princípios".

Os senadores Heloisa Helena (PSOL/AL), Eduardo Suplicy (PT/SP) e Valdir Raupp (PMDB/RO) apresentaram 8 destaques ao texto do deputado Abelardo Lupion, sendo que três deles foram aprovados sendo, portanto, retiradas do texto as seguintes recomendações:

  • Pedido de suspensão imediata do repasse de recursos federais aos convênios firmados com a Anca, Concrab e Iterra;

  • Proposta de indiciamento, pelo Ministério Público, de João Pedro Stédile, Gilmar Mauro, João Paulo Rodrigues, José Rainha e Jaime Amori , coordenadores do MST.

  • Sugestão para o encaminhamento de documentos sobre o financiamento dos movimentos sociais no campo a uma CPI da Câmara dos Deputados.


Rejeição e apelo à responsabilidade

Os parlamentares que votaram pela rejeição do relatório do deputado João Alfredo criticaram a tentativa de desestruturar o modelo de trabalho do Sescoop, do SENAR e da OCB e pediram mais responsabilidade do relator. Os votos que derrubaram o relatório esquerdista foram dados pelos senadores César Borges (PFL-BA), Gilberto Goelner (PFL-MT), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Wellington Salgado (PMDB-MG), Juvêncio Fonseca (PDT-MS) e Mozarildo Cavalcanti (PPS-RR). Também votaram contra os deputados Abelardo Lupion (PFL-PR), Onyx Lorenzoni (PFL-RS), Moacir Micheletto (PMDB-PR), Max Rosemann (PMDB-PR), Xico Graziano (PSDB-SP) e Luiz Carlos Heinze (PP-RS). Embora não tenham votado, os deputados Ronaldo Caiado (PFL-GO), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, e Odacir Zonta (PP-SC), presidente da Frencoop (Frente Parlamentar do Cooperativismo) acompanharam toda a reunião da CPMI.


Deputado Federal Abelardo Lupion


   Depois de rejeitarem a proposta do relator, os parlamentares aprovaram, por 12 votos a 1, o relatório paralelo apresentado pelo deputado Abelardo Lupion. A CPMI da Terra durou quase 2 anos, fez 45 reuniões, colheu 125 depoimentos e visitou 9 estados brasileiros. Os dois relatórios foram enviados aos três poderes e ao Ministério Público, mas, "para efeitos legais e para produzir conseqüências" – como observou o presidente da CPMI, senador Álvaro Dias, só vale o relatório de Abelardo Lupion.


Boletim Informativo nº 893, semana de 12 a 18 de dezembro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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