Agronegócio

Novo recorde nas exportações não
esconde crise do setor agrícola


A perda de fôlego no crescimento das exportações do agronegócio está diretamente vinculada à má performance do complexo soja (grão, farelo e óleo), devido à queda dos preços internacionais, movimento provocado pela supersafra mundial

A balança comercial do agronegócio bateu novo recorde, com exportações de US$ 36,2 bilhões entre janeiro e outubro deste ano, valor 9,6% superior aos US$ 33 bilhões de igual período do ano passado. Uma análise mais detalhada sobre esse resultado, entretanto, mostra que o novo recorde reflete a crise que enfrenta a atividade rural brasileira. Nos dez primeiros meses do ano passado, os US$ 33 bilhões de exportações do agronegócio representavam crescimento de 29,5% sobre o resultado registrado entre janeiro e outubro de 2003, quando as remessas do setor somaram US$ 25,5 bilhões.

As vendas do agronegócio ao mercado internacional cresceram em 2005, mas sem o vigor

registrado em anos anteriores. Isso mostra a perda de dinamismo no ritmo de exportações do setor", avalia o chefe do Departamento de Assuntos Internacionais e de Comércio Exterior (Decex) da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Donizeti Beraldo. O saldo da balança do agronegócio apresenta superávit entre janeiro e outubro, de US$ 32,02 bilhões; resultado 10,3% superior aos US$ 29,03 bilhões de igual período de 2004.

A perda de fôlego no crescimento das exportações do agronegócio está diretamente vinculada à má performance do complexo soja (grão, farelo e óleo), devido à queda dos preços internacionais, movimento provocado pela supersafra mundial. Apesar de o Brasil ter registrado redução da produção de soja, devido a fatores climáticos e à incidência da ferrugem asiática sobre as lavouras brasileiras, foi possível expandir as quantidades remetidas ao Exterior, que somou 34,3 milhões de toneladas de janeiro a outubro; 3,9% mais que as 33 milhões de toneladas exportadas nos dez primeiros meses do ano passado.

O que gerou problemas para o complexo soja foi a forte queda dos preços de exportação. O preço médio de negociação do complexo soja foi de US$ 238,2 por tonelada, considerando a média entre janeiro e outubro deste ano; valor 15,3% inferior aos US$ 281,1 por tonelada, conforme média dos dez primeiros meses do ano passado. Devido a tão forte queda dos preços, o faturamento com exportações caiu cerca de US$ 1 bilhão, apesar do aumento dos volumes remetidos ao mercado internacional. Entre janeiro e outubro deste ano, o complexo soja obteve US$ 8,2 bilhões em receitas de exportação; 12% menos que os US$ 9,3 bilhões em igual período do ano passado.

Os demais segmentos do agronegócio apresentaram aumento das receitas com exportações. O complexo carnes somou exportações de US$ 6,7 bilhões entre janeiro e outubro; 33,8% mais que os US$ 5 bilhões de igual período do ano passado. Dentro desse grupo, destaque para as exportações de carnes de aves, que somaram US$ 2,7 bilhões nos dez primeiros meses deste ano, frente US$ 2 ,1 bilhões no mesmo período de 2004. As receitas com exportações de café cresceram 49,5%, atingindo US$ 2,4 bilhões até outubro, frente US$ 2,6 bilhões em igual período do ano passado.

Os preços de negociação do café subiram 49%, chegando a US$ 2 mil por tonelada, considerando o valor médio entre janeiro e outubro deste ano; frente US$ 1.351 em igual período de 2004. As exportações de açúcar e álcool somaram US$ 4 bilhões, 51,3% a mais que os 2,7 bilhões, entre janeiro e outubro do ano passado.

"Apesar da queda dos preços internacionais, o complexo soja continua liderando o ranking de exportações do agronegócio", lembra Beraldo. Para o total do ano, o chefe do Decex estima que o complexo soja alcançará a marca de US$ 8,8 bilhões de receitas de exportações este ano, frente a um total de US$ 42 bilhões do total de remessas do agronegócio.

No ano passado, as exportações do complexo soja somaram US$ 10 bilhões, dentro de um total de US$ 39 bilhões de vendas do agronegócio ao Exterior. Para o conjunto do agronegócio, Beraldo calcula que 2005 encerrará com saldo positivo de R$ 37 bilhões; resultado de US$ 42 bilhões em exportações e US$ 5 bilhões de importações. No ano passado, o agronegócio registrou saldo comercial positivo de US$ 34,1 bilhões.


Boletim Informativo nº 891, semana de 28 de novembro a 4 dezembro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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