Números desmentem | |
"Como governador do Paraná, tenho obrigação de enxergar mais longe". A frase, dita pelo governador em Santo Antonio do Sudoeste, deveria ser levada mais a sério por ele mesmo. Ao tentar justificar perante os agricultores sua "cruzada" contra os transgênicos, o governador recorreu a uma série de fatos inverídicos, apoiados em dados igualmente fantasiosos. "No Porto de Paranaguá, a soja convencional vale 15% a mais que a transgênica", disse o governador. A declaração é falsa. No Rio Grande do Sul, onde os transgênicos são plantados há várias safras, o produtor tem recebido preços médios mais altos do que os pagos ao produtor paranaense. Por exemplo, de janeiro a outubro de 2005, o preço médio da |
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saca de 60 kg de soja, em Cascavel, foi de R$ 30,91. No mesmo período, o preço pago em Passo Fundo, no Rio Grande, foi de R$ 31,51 – ou seja, 60 centavos a mais por saca. Outra inverdade. "Gente inteligente não comete esta bobagem. Eu disse que quem plantasse não teria para quem vender. Por que a França não compra, a Inglaterra não compra, a Índia não compra, a China não compra (transgênicos). Vamos plantar para quê? Para atender ao interesse de algumas cooperativas, que querem escravizar o agricultor?", perguntou o governador. Neste caso, os números são uma resposta clara. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério da Indústria e do Comércio, mostram que a Argentina, onde 98% da soja é transgênica, exportou em 2004 nada menos do que 306 mil toneladas de soja para a França e 5,9 milhões de toneladas para a China – dois países que, segundo o governador, não compram transgênicos. Os Estados Unidos, onde também a soja geneticamente modificada representa 90% do plantio, exportaram em 2004, para a França, 54 mil toneladas, outras 77 mil toneladas para o Reino Unido e 8,3 milhões de toneladas para a China. A Índia, também citada pelo governador, não é um país importador de soja e sequer aparece nos gráficos dos maiores clientes internacionais. Diante dos fatos e números, até vale citar o conselho do governador: "Meus irmãos agricultores, vão para casa, reflitam e pensem". |
Boletim Informativo nº
890, semana de 21 a 27 de novembro de 2005 | VOLTAR |