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O prejuízo da aftosa |
Desde que se anunciou, no mês passado, a identificação de um foco de febre aftosa no Estado de Mato Grosso do Sul, o governo federal reage às críticas de que não destinou os recursos necessários para combater a moléstia com tentativas de tapar o sol com a peneira. Dos investimentos previstos no Orçamento de 2005 para o programa federal de erradicação da doença, apenas 1,6% havia sido aplicado até o momento da identificação do foco. E o Ministério da Fazenda reteve 78% da previsão de gastos governamentais destinados à defesa sanitária animal e vegetal. No intuito de desviar o assunto e proteger autoridades, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que nos bastidores combatia o desinteresse do governo pela questão, tem repetido a cada entrevista uma fórmula ardilosa: mesmo se os recursos tivessem sido utilizados, nada garante que o problema não ocorreria. Sendo assim, por que então pleitear a realização desses investimentos? O fato é que o país, que atingia a posição de maior exportador global de carne, foi vítima do que já se chamou de "o apagão do governo Lula". Em que pese o exagero da comparação, já que a crise energética do período Fernando Henrique Cardoso teve conseqüências ainda mais graves para a economia, uma semelhante mistura de descaso e falta de investimentos atuou nos dois episódios. Como diz o ditado, o barato acabou saindo caro: apenas o prejuízo causado pelo bloqueio à carne brasileira é estimado pelo Ministério da Agricultura em US$ 1,7 bilhão. Além disso, o governo terá de indenizar produtores e precisará mobilizar recursos para tomar medidas que convençam o mundo de que o Brasil vai fazer agora o dever de casa que já deveria ter sido feito antes. (Transcrito do jornal Folha de S. Paulo, de 4 de novembro de 2005) |
Boletim Informativo nº
889, semana de 14 a 20 de novembro de 2005 | VOLTAR |