Quando realmente
seremos os *Nélio Ribas Centa |
Sou médico e produtor de leite há mais de 30 anos. Além de amar minha família e profissão, tenho na pecuária leiteira minha grande paixão. E observo que o Brasil é, atualmente, o maior exportador de carne de frango e carne bovina, e no ano passado comemoramos o superávit nas exportações de produtos lácteos. O país cresce 5% ao ano na produção, já somos o sexto maior produtor de leite do mundo, com aproximadamente 24 bilhões de litros produzidos por ano. A pecuária leiteira paranaense é uma das mais importantes do país. Vendemos a genética de nossas vacas para todos os estados brasileiros. Utilizamos os melhores reprodutores do mundo. O que o criador americano, canadense, francês e holandês está usando de melhor, aqui em Piraquara e Toledo, entre outros municípios, também está sendo usado. Os criadores paranaenses em 1995 foram os primeiros a criar um Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária para o Estado (Fundepec/PR), que tem por objetivo viabilizar recursos para a defesa agropecuária do Estado do Paraná. O Fundepec conta atualmente com cerca de R$ 20 milhões, dinheiro arrecadado junto aos produtores para emergências relacionadas à ocorrência de febre aftosa. Podemos dizer que hoje o Paraná tem uma das mais modernas leis de sanitarismo animal, datada de 1996. Já em 1997, numa iniciativa pioneira, o Paraná instituiu um Fórum Agropecuário, formado por unidades públicas e privadas para discussão de assuntos relacionados à sanidade agropecuária (vegetal e animal). Que atualmente conta com 35 entidades, que é o CONESA – Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária, tendo como presidente Orlando Pessuti, médico veterinário, vice-governador e secretário de Estado da Agricultura. Sendo que hoje está presente em todos os Estados com 216 Conselhos Municipais de Sanidade. O Paraná foi pioneiro na implantação do primeiro Laboratório de Análise de Qualidade de Leite do país, localizado em Curitiba, que desde 1991 está analisando a qualidade do leite de mais de 20 mil produtores rurais. O Paraná também foi o primeiro a aprovar o Programa Estadual de Qualidade do Leite, e a fundar o primeiro Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Paraná (Conseleite). Nosso gado está totalmente imunizado, pois 98,8% dos animais foram vacinados na última campanha de prevenção contra a aftosa. Cabe perguntar, entretanto: como queremos ser os primeiros, se a cadeia como um todo não é de primeira? Não se trata de buscar culpados neste momento, até porque não caberia mais dar nomes aos bois quando a vaca já está indo para o buraco. Mas como diretor-presidente de uma entidade, não poderia ficar à margem do processo, e considero vergonhoso estarmos falando em Aftosa, Tuberculose e Brucelose bovina, se queremos ser os primeiros. Essas doenças deviam ser coisas do tempo do primeiro decreto, que é de 1952, que determina os procedimentos para produzir leite ou carne no país. "Mas por que em 2005 estamos colocando a vaca de novo no buraco"? Será que a responsabilidade é do criador, como disse nosso Presidente da República? Os criadores realmente fazem a lição de casa? Alguém acha que nós iríamos tomar nosso leite de cada dia com aftosa, tuberculose ou outras "oses", e dar este leite para nossos filhos? É claro que não! Cabe sim ao Governo, seja ele estadual, federal ou municipal, supervisionar, cuidar, orientar, capacitar e punir os maus produtores. Entretanto, há algumas perguntas que eu gostaria de fazer!
Do jeito que está quando realmente seremos os primeiros em alguma coisa? Ou vamos continuar sendo os primeiros exportadores? *Nélio
Ribas Centa é diretor-presidente da Associação Paranaense |
Boletim Informativo nº
889, semana de 14 a 20 de novembro de 2005 | VOLTAR |