Os riscos da gripe aviária Clotilde de Lourdes
Branco Germiniani |
Antes que a sociedade entendesse a extensão dos prejuízos desencadeados pela multiplicação de focos de febre aftosa, surgiu mais um problema sanitário grave: a influenza ou gripe aviária. Em um primeiro momento, pode parecer que não precisamos nos preocupar porque tudo começou bem distante, na Ásia. Acontece que novos casos estão surgindo mais próximos de nosso continente e as aves migratórias podem transportar o vírus e fazer sua disseminação. Mais dois complicadores devem ser considerados no caso da gripe aviária: 1º – o vírus pode atingir o homem e causar uma virose mortal; 2º– o vírus, por suas características, sofre mutações com facilidade, isto é, ao se reproduzir ele se modifica e podem ser formas de maior virulência. Por outro lado, essas modificações dificultam o controle da virose porque, a cada mutação, seria preciso uma vacina diferente, complicando o processo de prevenção. Estão sendo mobilizados os infectologistas e os serviços de saúde animal e humana para um esforço conjunto visando limitar a progressão da gripe aviária com o objetivo de se evitar uma pandemia (= uma epidemia generalizada) cujas proporções poderiam ser assustadoras. O sistema de vigilância sanitário brasileiro está com um número insuficiente de profissionais e com recursos reduzidos para o adequado cumprimento de suas importantes tarefas e para uma eficaz execução dos programas de combate e erradicação de doenças que afetam os animais e o homem. Em recente Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária o tema fundamental foi "Vida animal e humana: responsabilidades permanentes da Medicina Veterinária." Na opinião dos congressistas, estamos diante de um quadro altamente preocupante e consideramos que a classe médico veterinária do país deve manter um estado de alerta e de mobilização nacional, em defesa da saúde animal e humana. Foi elaborado um documento conclamando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a dar o necessário apoio ao serviço de vigilância sanitária para que se possam adotar medidas preventivas necessárias na atual conjuntura. Nossa avicultura é de primeira linha e somos os maiores exportadores mundiais de carne de frango. Justamente, a grande concentração de aves favorece a disseminação de doenças infecto-contagiosas daí a necessidade de medidas rigorosas de controle sanitário. Já estamos procurando limitar o comércio de aves silvestres, sendo imprescindível um controle de nossas fronteiras onde muitos animais são transportados sem o conhecimento das autoridades sanitárias – temos fronteiras extensas e, naturalmente, isto dificulta a efetivação da vigilância. Talvez uma conscientização da população fosse mais eficaz do que a própria fiscalização: se as pessoas tiverem uma noção precisa dos riscos poderão adotar um comportamento defensivo. Outro detalhe envolvendo aves silvestres é que os dejetos caídos durante o vôo podem ser uma fonte de contaminação. Em alguns países está sendo recomendada a manutenção das aves confinadas porque, se levadas para um solário, estarão expostas a maiores riscos de contágio. De qualquer forma os dejetos de um animal infectado podem ser transportados pelas solas dos calçados e, caso sequem, podem ser levados pelo vento como pó. Seria importante que os organismos governamentais divulgassem notícias, não alarmantes mas esclarecedoras, assim a população, estando informada, teria condições de colaborar para a prevenção. |
Clotilde
de Lourdes Branco Germiniani é professora Titular (aposentada) da UFPR,
membro do Centro de Letras do Paraná, da Academia Paranaense de
Medicina Veterinária, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná
e da Academia Brasileira de Medicina Veterinária. (Transcrito do jornal Gazeta do Povo, de 1.º de novembro de 2005)
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Boletim Informativo nº
888, semana de 7 a 13 de novembro de 2005 | VOLTAR |