Recomeçar o
combate à aftosa

Ágide Meneguette

Há poucos dias estávamos comemorando 10 anos sem aftosa e hoje nos afligimos com a suspeita de que possa haver um surto em alguns municípios do Paraná. Esta suspeita já está nos causando grandes prejuízos, agravados por uma política cambial que vem deprimindo os preços das nossas commodities agropecuárias.

Apesar de tudo, não quero ser pessimista e dizer que foram dez anos perdidos. Não foram perdidos, porque hoje existe uma consciência entre os produtores rurais que é preciso manter a guarda permanentemente.

As reuniões dos Conselhos Municipais e Intermunicipais de Sanidade, que serão realizados nos próximos dias, são uma prova de que estamos dispostos a reforçar a nossa vigilância, não mais a partir de um marco zero, mas sim de algo que já foi construído nos último 10 anos.

Mas para reforçar, é preciso mostrar que aprendemos algumas lições importantes e a primeira delas é a necessidade de retomar nossos deveres e, governo e iniciativa privada em conjunto, voltar a atuar de forma permanente para reconquistar e manter o status sanitário no Paraná.

Não podemos deixar que esses dez anos de esforço conjunto possam ser eventualmente tragados uma omissão irresponsável de um produtor ou de um fiscal que deveriam estar atentos às obrigações de vacinar o gado, de conhecer a procedência de animais quando compram e a de impor uma vigilância drástica que impeça que gado contaminado entre em nosso território.

Ou que algum produtor irresponsável compre vacina, apresente a nota fiscal, mas a jogue fora para não se dar ao trabalho de imunizar animal por animal. Por esta razão esses encontros de Conselhos Municipais e Intermunicipais de Sanidade são vitais para o nosso recomeço.

Pelo que está acontecendo conosco é hora do Governo Federal reavaliar o seu papel e redefinir funções e alocações de seus recursos.

O Governo Federal corta verba orçamentária de uma dotação já ridícula. Mostrou que não estava interessado em sanidade, pois se estivesse - e deveria estar pelo volume de exportações do agronegócio - ao invés de cortar verbas, as aumentaria.

O Governo do Estado procurou melhorar o sistema de defesa sanitária, mas parece ter havido um desinteresse de áreas fora do próprio sistema em relação à sanidade, como se dirigentes e técnicos de outras áreas do serviço público não tivessem nada com o problema.

Há falta de entrosamento. Áreas do governo ignoram a iniciativa privada como se ela não fizesse parte da produção e a iniciativa privada, por sua vez, se sente inibida - e muitas vezes amedrontada - em pressionar o Governo.

As duas atitudes são equivocadas. Tanto os técnicos e dirigentes oficiais tem a obrigação de promover o entrosamento com a iniciativa privada, com produtores rurais e outros agentes da produção e da sociedade.

Produtores rurais, a indústria, o comércio, os trabalhadores, todos os agentes da sociedade têm o direito, e mais que o direito, têm a obrigação de pressionar o governo por mudanças de comportamento.

É preciso compreender que os interesses são convergentes. Todos queremos a mesma coisa e, portanto, podemos agir em conjunto. Vale isso também para as prefeituras que tem responsabilidade direta por muitas e importantes ações sanitárias e que não podem se omitir.

Embora o momento seja de muito ação, devemos aproveitar esses encontros para fazer uma reflexão. Uma reflexão a respeito do papel que cada um deve desempenhar e vamos unir os nossos esforços para garantir que o Paraná mantenha seu status sanitário.

Ágide Meneguette
é presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná - FAEP e do Fundepec-PR


Boletim Informativo nº 887, semana de 31 de outubro a 6 de novembro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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