Cafeicultores sugerem medidas
práticas para evitar crise no setor

Estoques internacionais baixos, consumo em alta e produção estabilizada. Estes dados conjunturais positivos não impedem que a cafeicultura brasileira esteja ameaçada por uma crise, que pode chegar a curto prazo.

O alerta está sendo dado pelos cafeicultores da região Sul do país, os mais atingidos pela estiagem no início do ano. Não bastasse terem ficado fora das medidas de socorro do governo, eles vão ter que vender praticamente toda a produção a toque de caixa, até 30 de novembro, para pagar a dívida de custeio. "Se o governo não adotar medidas de apoio, a safra será vendida para pagar as dívidas e 

não teremos o produto na mão quando ele se valorizar a partir de dezembro, quando chega o inverno e aumenta o consumo no hemisfério norte", afirma o vice-presidente da Comissão Técnica de Cafeicultura da FAEP, Guilherme Lange Goulart.

Há pelo menos três fatores negativos conjugados que afligem os cafeicultores do Sul. Primeiro, a não inclusão do café entre as culturas beneficiadas com medidas de apoio do governo em função da estiagem. Em segundo lugar, um erro de metodologia da Conab, que faz a previsão de safra levando em conta apenas o número de pés de café, sem considerar a quebra no rendimento. Por último, a necessidade de vender o produto rapidamente para honrar as dívidas.

"O mercado está que nem jacaré em cachoeira, sabe que dia 30 de novembro vencem os custeios, e os produtores vão ter que vender a safra para honrar os compromissos", diz o produtor Guilherme Goulart. "Se houvesse a prorrogação das dívidas por pelo menos dois ou três meses, já poderíamos usufruir de preços melhores e quem sabe o produtor até recuperaria os prejuízos da estiagem – mas nada foi cogitado ainda pelo governo", completa Goulart.

O produtor Paulo Buso Júnior, presidente da Comissão Técnica de Café da FAEP, diz que chegou a hora de o governo usar os recursos do Funcafé, que, afinal, são contribuições do próprio cafeicultor. "Basta o governo anunciar a prorrogação das dívidas, ou a retenção dos estoques, que já repercute nos preços do mercado", avalia Paulo Buso.

Histórico. Paulo Buso Júnior e Guilherme Lange Goulart apenas dão voz à preocupações dos produtores de café no Paraná, manifestadas em reunião da Comissão Técnica de Cafeicultura da FAEP, no início do mês. De janeiro a março deste ano praticamente não choveu nas principais regiões produtoras de café no Paraná, o Arenito de Caiuá e o Norte Pioneiro. A estiagem veio no pior momento, na época de enchimento de grãos. Mesmo assim, o último levantamento da Conab aponta para uma safra de 1,4 milhão de toneladas no Paraná, sendo que, é voz corrente entre corretores, haverá quebra de 20 a 30%.

Nos últimos quatro anos, os cafeicultores só obtiveram uma melhora dos preços entre outubro do ano passado e agosto deste ano. Antes disso, chegaram a vender o café por US$ 27 a saca, praticamente um terço do custo de produção. A situação levou ao endividamento, ao empobrecimento das lavouras e ao envelhecimento do parque cafeeiro.

A prorrogação da dívida de custeio e dos tratos culturais, mesmo que por poucos meses, poderia livrar os produtores da atual baixa dos preços. Nos últimos três meses, o valor médio da saca, US$ 95, praticamente empatou com o custo de produção.

Para o ano que vem, os produtores vêem como fundamental uma política governamental de ordenamento da safra. Dentro do ciclo bianual das lavouras, será a vez da safra alta. Para evitar pressão sobre os preços, o Conselho Nacional do Café sugere que o governo retire 5 milhões de sacas do mercado, através de opções de venda pública, para comercializá-las depois, ao longo de um ano e meio. "Não se trata de subsídio nem dinheiro a fundo perdido. É um ordenamento de mercado e um ótimo negócio para o governo. Da última vez em que o governo agiu, em 2003, comprou café a R$ 190 a saca e vendeu, no fim do ano passado, por mais de R$ 300. Além de dar sustentabilidade ao mercado, ganhou dinheiro", afirma Guilherme Goulart.

Até furacão Katrina
prejudicou os preços

A formação de preços no mercado de café não segue os fundamentos da economia, de oferta e demanda, mas sofre forte influência dos movimentos migratórios dos fundos de investimento. Um exemplo está na passagem do furacão Katrina.

O furacão destruiu 565 mil sacas de café verde em New Orleans, o que corresponde a 10% dos estoques dos Estados Unidos. Em vez de influenciar os preços para cima, o que se seguiu ao fenômeno climático foi uma debandada dos investimentos que estavam no mercado futuro de café.

Os investidores migraram para o petróleo e o açúcar, provocando uma queda do preço do café no mercado futuro e no mercado físico. Foram ignorados dados de produção, estoque e consumo, que normalmente são decisivos na definição dos preços das commodities agrícolas.

Principais pleitos do café

As principais reivindicações da cafeicultura paranaense, discutidas na Comissão Técnica da FAEP, foram encaminhadas pelo presidente da Federação, Ágide Meneguette, ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e ao presidente da Comissão Nacional do Café da CNA, João Roberto Puliti. Veja quais são:

1. Liberar através do Conselho Monetário Nacional (CMN) R$ 400 milhões para custeio da safra 2006/2007 de café, que começa a ser colhida em abril de 2006. Os recursos sairão do caixa do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira);

2. Elevar o limite individual de R$ 140 mil para R$ 240 mil nos empréstimos para estocagem do grão;

3. Ofertar contratos de opções de venda pública para 5 milhões de sacas com comercialização ao longo de 2006;

4. Prorrogar automaticamente as dívidas de custeio de novembro para começo de março de 2006, com o intuito do produtor usufruir de preços melhores e recuperar os prejuízos da estiagem.


Boletim Informativo nº 886, semana de 14 a 30 de outubro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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