Conselhos de Sanidade serão
revitalizados para vigiar aftosa

Unir forças, intensificar a vigilância e agir de modo rápido e eficiente para enfrentar a ameaça do vírus da febre aftosa, que ronda nossas divisas. Esta foi a decisão unânime do IV Encontro Estadual dos Conselhos Municipais e Intermunicipais de Sanidade Agropecuária do Paraná (CSA’s), que reuniu em Curitiba, 17/10, representantes do setor privado e do governo.

Do encontro saiu também a decisão de revitalizar os 161 CSA’s paranaenses, saindo de um estado de acomodação para atuar de forma permanente em defesa do status sanitário do Paraná. "O vírus da aftosa continua rondando nossas fronteiras e contaminar nosso gado é muito fácil. Basta um descuido, dos produtores e das autoridades", alertou


Presidente do FUNDEPEC, Ágide Meneguette, faz
alerta sobre os riscos da aftosa


o presidente da FAEP e do Fundo de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Fundepec-PR), Ágide Meneguette.

Faz dez anos que o Paraná está livre da doença. Mas a ocorrência de focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul mostrou que todo o esforço pode ir por água abaixo repentinamente. "Basta a omissão irresponsável de um produtor ou de um fiscal que deveriam estar atentos às obrigações de vacinar o gado, de conhecer a procedência de animais quando compram e a de impor uma vigilância drástica para impedir que gado contaminado entre em nosso território", disse Meneguette.


   O alerta é de que a vigilância sanitária não deve se limitar apenas à febre aftosa, mas outras doenças que atingem a pecuária de corte, de leite, as aves e as pragas que atingem as lavouras, como a ferrugem da soja.

"Se já é grave este surto de aftosa no Mato Grosso do Sul, imaginem só o desastre que seria entre nós caso chegue ao Paraná a gripe do frango, que assola países da Ásia. Quantos milhares de produtores e trabalhadores ficariam sem trabalho e sem renda. Quantos milhões de pessoas seriam atingidas indiretamente por uma crise econômica que um surto desta doença traria para o Estado?", perguntou o presidente do Fundepec-PR.

O Paraná comemorou em abril dez anos sem febre aftosa e em maio, cinco anos como área reconhecida pela Organização Internacional de Epizootias como livre da doença. Foi o resultado da vontade e do trabalho conjunto de governo e iniciativa privada durante anos. Houve uma conscientização dos produtores rurais de que o zelo pela sanidade animal e vegetal não é apenas uma obrigação de governo, mas também obrigação de pecuaristas e agricultores.

O resultado deste esforço, segundo o presidente do Fundepec-PR, pode ser medido em números: o Paraná passou de uma exportação de carnes bovina e suína de 40 milhões de dólares em 1999 para quase 215 milhões de dólares em 2004.. Somadas às exportações de aves, em 2004 o comércio internacional de carnes paranaenses quase alcançou a 1 bilhão de dólares, com possibilidades de ainda aumentar.

"Trabalhamos com eficiência para obter o status de área livre de febre aftosa, mas é indispensável reconhecer que o perigo não passou", alertou Meneguette. "Não podemos esquecer o que aconteceu em Jóia, no Rio Grande do Sul: o contrabando de gado contaminado da Argentina praticamente dizimou o rebanho de uma grande região daquele estado. O gado foi sacrificado e muitos produtores ficaram na miséria por falta de outras opções", relembrou.

Além do caso de Jóia, a febre aftosa já se manifestou nos últimos anos no próprio Mato Grosso do Sul e na Argentina, trazendo prejuízos incalculáveis. No Paraguai, há tempos suspeita-se que a situação não está tão sob controle como se apregoa. "Assim, continuamos sob o cerco do vírus da aftosa", disse Meneguette.

Ao avaliar o quadro atual, o presidente do Fundepec-PR criticou o Governo Federal pelo corte de verba orçamentária "de uma dotação já ridícula". A falta de recursos mostra que o governo não tem demonstrado interesse na sanidade, apesar do volume de exportações do agronegócio. Quanto ao Governo do Estado, o dirigente reconhece que este procurou melhorar o sistema de defesa sanitária, mas apontou para um aparente "desinteresse de áreas fora do próprio sistema em relação à sanidade, como se dirigentes e técnicos de outras áreas do serviço público não tivessem nada com o problema".

Meneguette disse que é preciso melhorar o entrosamento: "Áreas do governo ignoram a iniciativa privada como se ela não fizesse parte da produção e a iniciativa privada, por sua vez, se sente inibida - e muitas vezes amedrontada - em pressionar o Governo. As duas atitudes são equivocadas. Todos os agentes da sociedade têm o direito, e mais que o direito, têm a obrigação de pressionar o governo por mudanças de comportamento. É preciso compreender que os interesses são convergentes. Todos queremos a mesma coisa e, portanto, podemos agir em conjunto", conclui Meneguette.

Focos restritos a um raio de 25 km



   Os cinco focos de febre aftosa confirmados em Mato Grosso do Sul, na semana passada, ficaram todos restritos a um raio de 25 km do foco inicial, no município de Eldorado. "Isso significa que a circulação viral está restrita à área interditada. Agora vamos trabalhar em estado permanente de emergência", afirmou o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Maciel.

Após a fazenda Vezozzo em Eldorado, foram confirmados outros focos na fazenda vizinha, Jangada, e nas fazendas Santo Antônio e Guaíra, no município de Japorã. A quinta propriedade em que a

doença se manifestou foi a Fazenda São Benedito (do mesmo proprietário e vizinha da fazenda Santo Antônio). O volume de gado que deveria ser abatido nas cinco propriedades chegou a 4,7 mil animais.

Para todos os focos, foram adotados os mesmos procedimentos sanitários realizados na fazenda Vezozzo, inclusive o sacrifício dos rebanho. O acesso de pessoas nas propriedades também foi restrito para que uma investigação epidemiológica esclareça a origem da doença.

Segundo a legislação, as propriedades que tiveram animais sacrificados devem ficar por um período de 30 dias sem animais (vazio sanitário). Ao final desse prazo, animais sentinela (bezerros não vacinados) devem ser distribuídos nas fazendas. Eles ficarão mais 30 dias na propriedade e após a realização de testes laboratoriais será avaliada a presença ou não do vírus na propriedade.

Todo processo de avaliação, incluído inquérito soro-epidemiológico para verificar a situação da região, pode demorar cerca de seis meses.

Recursos. A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural quer incluir emenda no Orçamento para 2006 para o combate à febre aftosa, no valor de R$ 150 milhões. A comissão tem direito a apresentar cinco emendas, que somam R$ 1,26 bilhão. O presidente da comissão, deputado Ronaldo Caiado classificou como "ridículo" o volume de recursos do Orçamento de 2006 destinado a programas de prevenção na área de bovinocultura. Em 2005 foram alocados R$ 66 milhões para prevenção e vigilância sanitária, enquanto para o próximo ano estão previstos apenas R$ 49 milhões. "O surto de febre aftosa mostra que não podemos conviver com esse orçamento cada vez mais enforcado", disse


Boletim Informativo nº 886, semana de 24 a 30 de outubro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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