Artigo

Resistência a pragas I

O desenvolvimento de cultivares resistentes a pragas foi uma das primeiras aplicações práticas da biotecnologia, a ponto de cultivares Bt (que contém um gene da bactéria Bacillus thuringiensis) serem um ícone entre as cultivares transgênicas. Além de controlar pragas a menor custo e reduzir o risco e a incerteza do agricultor, as cultivares resistentes reduzem os impactos dos agrotóxicos sobre a saúde humana e o ambiente. Existem inúmeras cultivares transgênicas resistentes a pragas como vírus, bactérias, fungos, insetos e nematóides. Um dos primeiros sucessos comerciais foi o desenvolvimento de plantas de mamão resistentes ao mosaico, inicialmente cultivado no Havaí e hoje amplamente disseminado no mundo.

Bactérias inseticidas

As bactérias do gênero Bacillus formam um esporo, com cristais protéicos (d-endotoxinas), as quais são codificadas por uma família de genes denominados cry. O B. thuringiensis é utilizado há 70 anos para o controle biológico de insetos. As proteínas (cristais) produzidas pelos genes cry possuem alta especificidade em relação às pragas, decorrentes de uma co-evolução de proteínas receptoras de superfície no intestino médio (mesentério) dos insetos suscetíveis. As d-endotoxinas ligam-se aos receptores protéicos, modificando sua conformação e causando vazamento de íons e dano osmótico às células, desintegrando o mesentério e causando a morte do inseto. Como esses receptores não estão presentes em outras espécies animais, a bactéria é inócua a inimigos naturais, ao homem e a outros insetos. Já foram identificadas inúmeras d-endotoxinas, produzidas por diferentes cepas de Bt. Para cada toxina, foram efetuados testes para avaliar o seu espectro de ação. Hoje há disponibilidade de toxinas de Bt para controle de diversos insetos, porém preservando sua seletividade para organismos benéficos e animais superiores.

Controle biológico transgênico

Os níveis e localização da expressão dos genes Bt na planta a podem ser regulados. Ao “desenhar” a planta, o pesquisador define se permitirá a presença da toxina em toda a planta ou somente em algumas partes, em que teores e em que épocas de seu ciclo. Os promotores permitem que os genes atuem somente nas partes da planta que o inseto ataca. Assim, para insetos desfolhadores, o gene é expresso nas folhas. Para brocas de caule, a expressão é no caule. A vantagem dessa técnica é que a toxina não é expressa em partes da planta que serão destinadas ao consumo humano ou de animais. No caso do milho, a toxina não é expressa no grão, o que é altamente desejável por questões de biossegurança e de tranqüilidade do consumidor.

Menos agrotóxicos

Pesquisadores do USDA desenvolveram uma cultivar transgênica para resistir aos vermes da raiz (corn rootworm), que são larvas de insetos do gênero Diabrotica. Sabe-se que, individualmente, as larvas de Diabrotica spp., que atacam raízes do milho, demandam o maior volume de agrotóxicos para controle de insetos nos EUA, sendo também responsáveis pelo maior dispêndio financeiro dos agricultores com agrotóxicos. Surge, agora, a oportunidade para o agricultor americano livrar-se de dezenas de milhões de litros de agrotóxicos e poupar centenas de milhões de dólares com a dispensa de seu uso. Conforme seu uso se estender para outros cultivos e outros países, será cada vez menor a dependência do agricultor em relação aos agrotóxicos.

Décio Luiz Gazzoni é engenheiro agrônomo,
pesquisador da Embrapa Soja
 


Boletim Informativo nº 885, semana de 17 a 23 de outubro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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