Editorial |
Economia no pasto Mais uma vez, a miopia dos gestores da política econômica, incapazes de diferenciar e defender gastos prioritários no Orçamento, produziu o que a sabedoria popular chama de “economia na base da porcaria”. O corte de recursos de defesa sanitária foi castigado com o registro de um novo foco de febre aftosa, desta vez no Estado que é o maior produtor e o maior exportador de carne bovina do Brasil. De uma vez, comprometeram-se toda a cadeia de negócios de produtores e frigoríficos de Mato Grosso do Sul -impedidos de vender carne para fora do Estado-, a perspectiva de alta nas exportações no setor -que faturam mais de US$ 3 bilhões em 12 meses- e os acordos que o Brasil negociava para conquistar novos mercados, do porte de EUA e Japão, para a carne “in natura”. O governo de um país que é o maior exportador de carne bovina do mundo jamais poderia deixar de tratar como prioritários os gastos em defesa sanitária animal. No entanto as despesas federais previstas nesse programa, que eram de R$ 167 milhões no Orçamento de 2005 (R$ 1 para cada cabeça de gado), foram diminuídas pela Fazenda para R$ 37 milhões (R$ 0,30 por rês). Recursos extras tiveram de ser negociados à base da lamúria pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, mas nem assim os desembolsos ocorreram na velocidade necessária. Quanto esse descaso custará em perda de emprego, renda, investimentos, mercado externo e divisas ainda é uma questão em aberto. A União Européia já vetou compras de carne de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Reino Unido, Israel e África do Sul também suspenderam importações. A Rússia, o maior cliente de carne “in natura” do Brasil, pode fazer o mesmo. A abertura do mercado americano -e provavelmente a do japonês- para a carne não-processada fica adiada. Mas o prejuízo é certo e superará exponencialmente o custo necessário para exercer uma vigilância sanitária à altura da importância da pecuária de corte para o Brasil.
Publicado no Jornal Folha de S. Paulo de 12
de outubro de 2005 |
Boletim Informativo nº 885, semana de 17 a
23 de outubro de 2005 | VOLTAR |