Agricultura
Rodrigues
desabafa, fala de juros, "Não é fácil ser agricultor no Brasil" |
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A crise da agricultura brasileira e sua repercussão junto ao produtor nacional foram abordados pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues (foto), em entrevista concedida semana passada na Suíça (Europa). Rodrigues disse estar frustrado diante da falta de recursos, gerada pela "maior crise da agricultura brasileira em tempos recentes". O ministro falou com jornalistas depois de uma palestra a empresários, em Zurique, quando pediu mais investimentos estrangeiros no Brasil. Para o ministro, o País corre o risco de ser temido |
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no exterior como uma potência no setor agrícola ao mesmo tempo em que poderá se ver obrigado a importar alimentos para suprir o mercado interno, caso do milho em 2006. "A crise na agricultura tem um efeito muito maior para o setor do que o impacto da crise política. A crise é muito profunda. Estou frustrado por não ter conseguido equacioná-la, mas compreendo as dificuldades que o governo tem", disse. O ministro comentou a redução do volume físico da produção agrícola para este ano e uma pequena queda do superávit comercial. Segundo ele, "a área plantada de grãos no Brasil deve cair em 5% neste ano e o padrão tecnológico cairá muito mais". O volume de colheita depende do clima. Se chover de forma satisfatória em 2006, a safra deverá ficar entre 115 milhões e 120 milhões de toneladas de grãos. Se por outro lado, ocorrerem novos períodos de estiagem, a safra pode baixar para 110 milhões de toneladas, o que não é bom para a economia nacional. No ano- agrícola de 2004/2005 a seca causou uma quebra de pelo menos 10 milhões de toneladas de soja. Rodrigues apontou vários indicadores da crise: a queda de 40% no uso do calcário neste ano, a redução em 16% do uso de fertilizante e de 25% no uso de semente, além de 20% de diminuição do uso de defensivos agrícolas e a queda da renda agrícola em R$ 17 bilhões entre 2004 e 2005. Há uma grande inadimplência no setor, que foi respondida pelo governo com a prorrogação de dívidas de R$ 4 bilhões. Rodrigues diz que isso fará com que as taxas de juros sejam ainda maiores em 2006. "A taxa de juros é maior com menos dinheiro, quando a renda é menor." Para Rodrigues um dos obstáculos ao crescimento da agricultura no Brasil está na limitação de recursos. "O governo gasta muito com a área social e fica pouco para o resto. Não estamos recebendo o suficiente para investimento e pesquisas. Não temos orçamento nem para logística e infra-estrutura." O ministro quer a destinação de R$ 2 bilhões da poupança do Banco do Brasil para o custeio da safra, além dos R$ 1 bilhão para a comercialização agrícola que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu. Desse total, R$ 400 milhões já foram dados. Na semana passada, havia a expectativa de liberação de mais R$ 300 milhões. O ministro criticou ainda a política cambial em relação ao dólar, responsabilizando indiretamente o Banco Central pelos efeitos das taxas de juros elevadas. "Com esse câmbio, não há política agrícola que resolva. Com esse câmbio, não há ação do governo que resolva", disse. "Atravessamos o ano passado com 11% de estoques sobre o consumo nacional. Este ano, a proporção será de 6%. Se 2006 for um ano ruim para a agricultura, poderemos zerar os estoques em relação ao consumo e nos transformar em importador, como no setor do milho." Para Rodrigues, "não é fácil ser agricultor no Brasil. Um terço da renda vai para bancos, um terço para o governo e assim mesmo somos competitivos." |
Boletim Informativo nº
884, semana de 10 de 16 de outubro de 2005 | VOLTAR |