Sufoco
do agricultor é "responsável" | |
|
Estudo da CNA mostra que o recuo dos preços no mercado consumidor, mesmo com a quebra de safra de 20 milhões de toneladas neste ano, ocorre devido a fatores internos e externos. Internamente, há pouca negociação de mercadorias e, mesmo assim, os produtores são obrigados a desovar produtos para pagar as contas, o que leva a uma queda ainda maior. Do lado externo, além da queda dos preços mundiais, o Brasil enfrenta uma corrida desenfreada de produtos do Mercosul, colocados no país sem nenhuma restrição devido à legislação do próprio bloco (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). Essa perda de renda vai custar caro para a economia brasileira, segundo a CNA. Esse aumento |
de poder de compra dos consumidores ocorre por causa da forte perda de renda dos agricultores. "Essa queda nada mais é, neste momento, do que o desespero dos produtores", afirma o analista José Pitoli em entrevista ao suplemento Agrofolha, do jornal Folha de S.Paulo, de 4 de outubro.Com o vencimento dos financiamentos agrícolas em junho, os produtores foram obrigados a colocar um volume maior de produtos à venda para cobrir as dívidas. Em agosto, a definição das normas de prorrogação dos débitos para os produtores que tiveram quebra na safra forçou novas vendas para adequação às regras. E as pressões de vendas continuaram. Os preparativos para a nova safra, que já começou a ser semeada em algumas regiões, exigiram mais vendas, já que o crédito do governo é escasso. |
O coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas, Salomão Quadros, diz que os produtos agrícolas estão provocando uma segunda rodada na deflação. A primeira, a partir de maio, ocorreu devido a problemas macroeconômicos, principalmente com a queda do dólar. Nos últimos três meses a deflação passou a ser comandada pelos preços agrícolas. De maio a setembro, o feijão teve queda acumulada de 14,2% no atacado. Só nos últimos dois meses, o recuo já é de 27,3%. Outro produto que faz parte do dia-a-dia do brasileiro, o arroz, já caiu 30,9% neste ano nas negociações no atacado. Só no último trimestre o recuo foi de 10,2%. Até mesmo o boi, que já deveria estar reagindo devido à entressafra, ainda registrava queda em setembro, segundo Quadros. |
|
Getúlio Pernambuco, do Departamento Econômico da CNA, diz que a sociedade pagará caro por essa crise de preços deprimidos. A queda ocorre tanto pela redução nos mercados externos como pela valorização do real. A previsão é que os produtores tenham perda de renda de 9,9% neste ano. Parte dessa perda está relacionada à seca no Sul e no Centro-Oeste do país. O produtor não será compensado por essa perda, já que não existe seguro rural, afirma Pernambuco. Nos cálculos da CNA, com essa perda de 9,9% na renda, os produtores vão deixar de embolsar R$ 16 bilhões, valor que terá sérios reflexos na economia do país. Para cada real gerado dentro das fazendas, outros R$ 2,56 são movimentados em serviços, compra de insumos etc. Ou seja, a economia vai encolher R$ 16 bilhões no campo e R$ 41 bilhões "fora da porteira". "É muito dinheiro R$ 57 bilhões", diz Pernambuco. Esse empobrecimento da agricultura vai se refletir nas próximas safras. Os produtores reduziram a área plantada para a safra 2005/6, passaram a usar mais sementes próprias (de qualidade inferior) e estão diminuindo a utilização de adubos e fertilizantes. Os reflexos nesta safra ainda não serão tão intensos, já que o produtor investiu muito na lavoura de 2001 a 2003, quando os preços eram bons. A partir de 2006/7, se os preços não melhorarem e a renda do produtor continuar curta, a queda de produtividade será ainda maior, alerta a CNA. |
Boletim Informativo nº
884, semana de 10 de 16 de outubro de 2005 | VOLTAR |