Aspectos importantes para o mercado
internacional da carne bovina

Programa Produção Paranaense de
carnes e Leite a Base de Pasto

 

I. Introdução

Ajudado por problemas sanitários e climáticos nos dois países, o Brasil - atualmente o maior exportador mundial de carne bovina - ultrapassou os Estados Unidos e a Austrália na movimentação do produto e, ao que parece, deverá manter essa dianteira por um bom tempo, desde que não venha a enfrentar os mesmos problemas que atingiram os concorrentes.

Se por um lado o aumento do volume é motivo de orgulho, o mesmo não dá para afirmar quanto aos preços recebidos pelo produto exportado. O fato é que o Brasil aumentou a exportação para países que pagam menos pela carne bovina, o que faz cair os preços médios internacionais recebidos.

Além da expansão apenas para praças menos exigentes, ainda registra-se a dificuldade de aumentar a exportação para mercados que remunerem melhor o produto, em função das barreiras tarifárias impostas ao Brasil, resultado de más negociações feitas no passado, com cotas baixas de exportação que tornaram-se objeto das tentativas atuais de mudança.

Especialistas apontam que a conquista de mercados atraentes se dá para um produto competitivo não apenas pelo aspecto de custo mas, tratando-se de carne para consumidores muito procurados e exigentes, como a Europa, também a qualidade e a constância de fornecimento contam muito para o sucesso da estratégia de expansão.

As diferenças de preços e do quanto o Brasil deixa de ganhar estão no gráfico publicado pela Revista DBO edição Nov/2003, que demonstra os diferentes preços recebidos na venda de contra - filé pelo Brasil, Argentina e Estados Unidos aos mercados europeu e japonês. Ter acesso a mercados mais exigentes que pagam preços melhores é um desafio a ser vencido.

 

ESTADOS UNIDOS

BRASIL

DIFERENÇA

VOLUME EXPORTADO (TON)

1,2 MILHÕES

927 MIL

273 MIL

PREÇO RECEBIDO (US$/KG)

2,91

1,15

1,76

FATURAMENTO (US$)

3,5 BI

1,075 BI

2,42 BI

 

II. O destino da carne brasileira e a importância do mercado europeu

A seguir o quadro dos principais destinos, os volumes e os preços recebidos pelo Brasil em 2004, com dados da ABIEC.

 País

Volume importado (ton)

Preço recebido (U$/kg)

Rússia

158.330

1,53

Egito

122.642

1,42

Chile

105.163

1,90

Reino Unido

99.498

2,51

Irã

63.594

1,61

Holanda

55.090

4,20

Itália

48.602

3,24

Arábia Saudita

43.249

1,74

Argélia

38.808

1,59

Filipinas

35.842

1,23

Israel

24.834

1,78

Alemanha

24.261

3,99

Bulgária

20.630

1,33

Espanha

20.404

3,83

COMPARATIVO DE PREÇOS DA CARNE DA EUROPA/OUTRO PAÍSES

Europa

Outros

Holanda

U$ 4,20

Chile

U$ 1,90

Alemanha

U$ 3,99

Israel

U$ 1,78

Espanha

U$ 3,83

Arábia Saudita

U$ 1,74

Itália

U$ 3,24

Irã

U$ 1,61

Reino Unido

U$ 2,51

Argélia

U$ 1,59

Bulgária

U$ 1,33

Rússia

U$ 1,53

 

 

Egito

U$ 1,42

 

 

Filipinas

U$ 1,23

 

III. A demanda genérica do mercado europeu

É muito difícil definir um só padrão para a demanda de todos os países da Europa. São várias culturas e hábitos. Mas, de uma maneira geral, o que esses mercados querem são carcaças com as seguintes características:

  • Quanto ao Sexo dos animais: machos castrados (de preferência);

  • Quanto à Idade: até 4 anos (o ideal seria de 24 a 36 meses);

  • Quanto ao Peso da carcaça: macho 210 kg e fêmeas 180 kg;

  • Quanto à Conformação: convexa/ sub - convexa/ retilínea.

Com relação à gordura, este parâmetro varia de país para país, entre 3 a 10 mm.

A Inglaterra, por exemplo, consome mais carne de cobertura com cerca de 3mm.

A Alemanha já prefere uma capa de 1,0 a 1,5 mm, enquanto na Itália, quando a carne é destinada para a indústria, a escolha é por coxão mole sem capa de gordura.

Em resumo, o ideal para o mercado é o animal sadio, jovem, de boa conformação e bom acabamento.

Quanto aos cortes, a preferência da Europa é por traseiro (filé mignon, alcatra e contra filé) com peças grandes, como contrafilé acima de 4,5 kg e ponta de contrafilé com peso acima de 1,8kg. Já para a indústria as escolhas são coxão duro, coxão mole e lagarto.

 

IV. Outras demandas

A cada dia que passa, em função do avanço do Brasil no mercado mundial, novos desafios são colocados em forma de barreiras, conseqüência da melhor informação do consumidor e, principalmente, da concorrência cada vez mais acirrada pelos países que buscam preservar seus mercados.

Neste cenário de extrema competição, o produtor brasileiro precisa de muito profissionalismo e seriedade para se fazer presente no mercado, dedicando-se com afinco para atender as seguintes demandas:

Rastreabilidade

A rastreabilidade - por animal e não por lote, com a identificação do animal ao nascer e com todo o seu histórico -, é uma exigência cada vez maior do consumidor e precisa ser entendida pelo criador como um instrumento de gestão e não como um empecilho;

Sanidade

A Sanidade é fundamental para a permanência nos diversos mercados do mundo seja na conquista de novos mercados seja na manutenção dos atuais. A questão sanidade é vital não só para a carne bovina, mas também para a suína, de aves e ovina entre outras. Este deve ser um item obrigatório em todas as atividades agropecuárias daqui por diante.

Viabilidade econômica

Em que pese a Europa ainda subsidiar seus produtores, qualquer medida que possa ser entendida como subsídio direto ou indireto serve de pretexto para se abortar a compra por este ou por aquele país, quando se trata de concorrência.

Por outro lado, o produtor brasileiro há muito produz sem subsídios. Se de um lado isto dificulta-lhe a vida, por outro constituiu incentivo à criatividade e ao fortalecimento da competitividade. Países como a Espanha já denotam que os subsídios praticados pela União Européia estão enfraquecendo a competitividade de seus produtores.

Preservação ambiental

É um item cada vez mais observado e cobrado, a exigir adequações importantes sob pena de servir de pretexto para impedir a importação do produto nacional ou baixar os preços.

Justiça social

Cresce cada dia mais a preocupação mundial com aspectos relacionados a direitos trabalhistas e combate ao trabalho infantil e trabalho escravo.

Bem-estar animal

Promovidas por ONGs ambientalistas, as campanhas cobrando o bem - estar animal passam a ser cada vez mais intensas. O manejo adequado deve ser desenvolvido tanto para benefício e qualidade de vida dos animais quanto para a manutenção da qualidade da carne produzida. Este item precisa ser discutido além do produtores por trabalhadores rurais, transportadores e funcionários dos frigoríficos.

 

V. Dificuldades a serem superadas pelo Brasil

Além dos aspectos já citados, outros se somam aos fatores que dificultam o maior avanço da carne bovina nos mercados interno e externo, podendo ser citados:

1. A complexidade do mercado X desarticulação do produtor:

Além de o Brasil ser de uma maneira geral um “novato“ em termos de exportação, o mercado da carne é muito complexo, pois está representado por uma cadeia produtiva de grandes contrastes.

De um lado, temos frigoríficos em menor número, que investiram muito nos últimos anos em gestão, plantas mais modernas, prospeção de mercados, investimento em marketing e planejamento estratégico. De outro lado estão os produtores, totalmente dispersos, muito resistentes a mudanças, totalmente desarticulados e fragilizados.

Uma estrutura frigorífica tem um custo altíssimo, além de necessitar de mão-de-obra qualificada, exigir matéria prima de qualidade e volume constante, de acordo com seu dimensionamento, grande consumo de água e rígido controle dos seus dejetos. É praticamente impossível para o produtor atingir o mesmo nível, saindo de sua atividade principal (produção) para passar a assumir a industrialização de maneira individual. A saída é a melhor organização do produtor através de cooperativas, associações ou alianças, e da produção, em volume e qualidade, para que possa se estabelecer o equilíbrio nas negociações na hora da comercialização do seu produto.

2. Barreiras internas

A concentração da indústria em um número cada vez menor de unidades no Brasil e as freqüentes experiências negativas, a resistência dos produtores à rastreabilidade, a deficiência estrutural, o baixo índice de uso correto de pastagens como principal fonte de alimento, a falta de organização dos produtores, o desconhecimento e falta de sintonia entre os elos do sistema colocam a carne bovina como uma das últimas entre as cadeias produtivas do país.

É preciso urgentemente uma mudança cultural em todos os elos da cadeia produtiva. Um avanço, que deve começar pelo produtor, hoje o elo mais fraco desta cadeia.

3. Complexidade da atividade

Para ser competitiva, a bovinocultura de corte exige investimentos, tecnologia, gestão, mão-de-obra qualificada, informação e, acima de tudo, planejamento. Porém, até pouco tempo atrás, era explorada quase na sua totalidade de maneira extensiva. Uma nova geração está surgindo, na expectativa que consiga superar a atual situação.

 

Curitiba, outubro de 2005
 


Boletim Informativo nº 884, semana de 10 de 16 de outubro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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