Argentina traduz acerto da escolha de transgênicos em ganhos de US$ 9 bilhões

Estudo registra reflexos em outros setores, como a redução em 83% da quantidade de herbicidas classe II e de 100% do uso de herbicidas classe III




Os transgênicos foram um excelente negócio para a Argentina, disse o professor Eduardo Trigo, aos produtores da Comissão Técnica de Grãos e Financiamento da Produção da FAEP, durante palestra no fim do mês de março deste ano, em Buenos Aires. A comitiva paranaense conheceu lavouras de soja, armazéns, cooperativas e esteve reunida com especialistas do mercado agropecuário argentino. A viagem foi organizada com o objetivo de conhecer mais sobre a adoção das lavouras transgênicas.

Eduardo Trigo, Ph.D. em Economia Agrária pela Universidade de Wisconsin (EUA)  e  diretor

do Grupo CEO (Consultores em Economia e Organização) coordenou uma pesquisa, em conjunto com mais três economistas sobre o impacto das culturas geneticamente modificadas para a agricultura argentina. Os resultados estão no livro "Los Transgênicos en La Agricultura Argentina – una história con final abierto", editado em 2002, que teve os dados atualizados com o acréscimo de informações das duas últimas safras. Trigo usou um modelo desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia Argentino (INTA), instituição governamental similar à Embrapa, para estimar o impacto da geração e adoção de tecnologias agropecuárias. A pesquisa teve apoio da Secretaria da Agricultura (SAGPyA) e do Centro de Investigaciones para la Transformación (CENIT).

Leia o relatório da Comissão Técnica de Grãos da FAEP sobre os reflexos das lavouras transgênicas para a economia da Argentina, material editado no Encarte do BI 858 de abril deste ano:

"Segundo o estudo, os benefícios brutos que tiveram os produtores pela adoção da tecnologia transgênica, acumulados no período 1996-2004, tiveram as seguintes fontes:

1. Redução média dos custos de US$20,00/ha, obtida através da eliminação de despesas com uso de maquinário nas variedades convencionais. Este dado se aplica à soja de primeiro e de segundo cultivo;

2. Expansão da área plantada de soja, resultado da combinação do plantio direto e soja transgênica, que possibilitou a implementação da soja de segundo cultivo (plantada em continuação à colheita de trigo), que antes era economicamente inviável em muitas regiões.

O estudo trabalhou com dois cenários alternativos de evolução da área plantada com soja a partir de 1996: um "sem a soja Round-Up Ready" e outro "com a soja Round-Up Ready". Para tanto, foram desagregadas todas as informações de adoção de novas tecnologias, por região produtora e nível tecnológico dos produtores.

Os benefícios para os criadores das tecnologias também foram estimados com base nos preços por litro de glifosato e no custo por hectare no caso da semente RR nos anos considerados. No caso do glifosato houve uma forte queda no preço no decorrer do período pesquisado, passando de US$8,00 em 1994 para US$3,00 em 2004 e o custo da semente RR permaneceu constante neste período em US$35,00/ha.

Mesmo com a "bolsa branca" (mercado ilegal de sementes na Argentina), Eduardo Trigo argumenta que o grosso dos benefícios brutos corresponde ao incremento da produção por expansão da soja, via segundo cultivo, ou seja, a diferença entre os cenários "com soja RR" e "sem a soja RR".

Meio-ambiente - Apesar de ser empregado em maiores quantidades por hectare, o glifosato é um herbicida sem ação residual e se decompõe rapidamente no solo, o que representa uma vantagem sobre a atrazina, o produto mais empregado, antes da introdução da tecnologia RR na soja convencional argentina. A atrazina manifesta atividade residual que pode, eventualmente, entrar em contato com a água subterrânea, tendo assim implicações negativas para o meio ambiente. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o glifosato pertence ao grupo de herbicidas classe IV, denominados de "praticamente não tóxicos".

A adoção da soja transgênica induziu, na Argentina, uma redução de 83% da quantidade de herbicidas com toxicidade classe II e de 100%, ou seja, não se usa mais herbicidas de toxicidade classe III."


Boletim Informativo nº 883, semana de 3 de 9 de outubro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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