Brasil perde R$ 16 bilhões de PIB
agrícola este ano, aponta a CNA




O estudo mostra que o PIB da agricultura em 2005 será de R$ 79,78 bilhões; 16,4% a menos que os R$ 95,43 bilhões do  ano passado 

O prejuízo causado pela crise que atingiu a agricultura em 2005 já está calculado, e indica uma perda de R$ 15,65 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do segmento este ano. O dimensionamento da perda foi obtido a partir de pesquisa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), com projeção realizada com base nos resultados acumulados durante o primeiro semestre.

O estudo mostra que o PIB da agricultura em 2005 será de R$ 79,78 bilhões; 16,4% a menos que os R$ 95,43 bilhões do ano passado. "São os agricultores os mais afetados dentro do conjunto do agronegócio, devido a perdas causadas por fatores climáticos e queda dos preços das commodities", diz o chefe do Departamento Econômico (Decon) da CNA, Getúlio Pernambuco.

A pesquisa mostra que há ligeira queda também no PIB da pecuária, que deverá ser de R$ 64,92 bilhões neste ano; 0,5% a menos que os R$ 65,22 bilhões do ano passado. Para conjunto do PIB do agronegócio (que envolve também os setores de insumos, sementes e distribuição) também há previsão de queda, devendo o valor total atingir R$ 527,84; 1,15% a menos que os R$ 533,98 de 2004.

Segundo explica Pernambuco, a redução do PIB do agronegócio deve-se, diretamente, à forte queda dos resultados da agricultura. A safra 2004/2005 apresentou frustração de colheita na ordem de 20 milhões de toneladas, perda causada principalmente por problemas climáticos e pela incidência da ferrugem asiática sobre as lavouras de soja. Por outro lado, houve aumento da oferta mundial de grãos, depreciando cotações internacionais.

Além disso, a sobrevalorização do real frente ao dólar acabou gerando queda das receitas em moeda nacional. "Esse prejuízo foi integralmente transmitido ao produtor", afirma Pernambuco, lembrando que os problemas nas lavouras acabam afetando todo o conjunto do agronegócio. No primeiro semestre, o PIB do setor de insumos ligados à agricultura apresentou retração de 6,06%. Ou seja, os agricultores perderam renda, e agora estão sem receita para investir na próxima safra, o que deverá afetar os índices de produtividade.

Frente à crise deste ano, a CNA não descarta também redução de área plantada, embora ainda não seja possível mensurar a dimensão da retração. É esperado também que ocorra migração de culturas, especialmente no caso do algodão. Segundo explica Pernambuco, o algodão é uma lavoura de alto custo, mas que na última colheita não apresentou remuneração satisfatória ao produtor. "A comercialização do algodão não atingiu bons índices de rentabilidade nas duas últimas safras", explica Pernambuco. Dessa forma, há expectativa de que o cotonicultor passe a plantar soja, uma lavoura mais barata.

O custo operacional da lavoura de algodão é e R$ 4.106,56 por hectare (segundo a Companhia Nacional de Abastecimento – Conab), considerando a região de Rondonópolis (MT), e gera receita de R$ 2.693. A lavoura de soja, em Primavera do Leste (MT) tem custo de R$ 1.221,80 por hectare, com geração de receita bruta de R$ 1.250. Pernambuco acredita que muitos produtores de algodão vão migrar para a soja, para driblar os altos custos. O problema é que os cotonicultores acumularam dívidas elevadas, e agora vão operar com uma cultura que gera menor receita por área plantada. O resultado, avalia, será dificuldade para a administração dos débitos em médio prazo.

Outro estudo da CNA, que mede o faturamento dos 25 principais produtos da agropecuária, por meio do conceito de Valor Bruto da Produção (VBP) também comprova a crise do setor. O VBP, este ano, deverá ser de R$ 172,9 bilhões; 9,5% a menos que os R$ 191 bilhões do ano passado. A redução se deve à frustração de safra, na comparação com as expectativas do final do ano passado, e queda dos preços de negociação.

No caso do milho, por exemplo, a colheita deste ano atinge 34,9 milhões de toneladas, frente 49,7 milhões de toneladas, no ano passado. O grão também enfrentou queda de preço. Em 2004, era negociado a R$ 330 por tonelada, e este ano é cotado a R$ 290 por tonelada. A soja, que valia R$ 790 por tonelada ao produtor no ano passado, agora é negociada a R$ 560 por tonelada. Todos os valores estão corrigidos a preços de agosto de 2005.


Boletim Informativo nº 883, semana de 3 de 9 de outubro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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