Preços do café não resolvem crise de renda


Depois de quatro anos de crise, durante os quais os preços de venda não cobriam os custos de produção, a cafeicultura brasileira começa a ganhar fôlego, com a recuperação das cotações nos mercados nacional e internacional. O bom momento de preços, entretanto, não permitiu ainda ao produtor de café recuperar renda. A conclusão foi obtida a partir de análise de respostas de cafeicultures a consulta realizada pelo Projeto Conhecer da CNA com produtores de café.

Do público consultado, 67% garantiu que não vai ampliar a área plantada, mesmo no atual momento de recuperação de preços. Outros 10% disseram, inclusive, que vão abandonar a produção de café e investir em outras culturas. Em agosto do ano passado, a saca com 60 quilos de café era negociada por R$ 198,98. Em agosto deste ano, o produtor recebeu, em média, R$ 253,78 pela saca, ou seja, houve uma recuperação de preço de 21,41%.

Da parcela de 23% de produtores que disseram ter a intenção de expandir a área plantada, 64% garantiram que vão ampliar a área em menos de 20% em relação à lavoura inicial. "Não há risco de expansão desordenada da oferta de café", avalia o presidente da Comissão Nacional do Café da CNA, João Roberto Puliti. "O preço pago pelo café melhorou, mas a recuperação ficou aquém da necessidade de recuperação de renda do produtor", diz. Ele destaca que o Projeto Conhecer identificou também que 14% dos produtores consultados têm algum tipo de contrato de financiamento em inadimplência, sendo que a maior parte (61%) envolve dívidas securitizadas ou alongadas.

Apesar de ainda estar mantida a crise de renda, há perspectiva de ganhos em qualidade. "A boa notícia é que 49% dos consultados, apesar de dizerem que não vão ampliar a área plantada, garantem que irão intensificar os tratos culturais", diz Puliti. Na prática, o aumento dos investimentos no trato dos cafezais vai se refletir na produção de grãos de melhor qualidade, que poderão obter melhores preços de negociação.

A pesquisa identificou também que cada vez mais o cafeicultor olha o mercado externo como referência para negociação. Parcela de 41% dos consultados já exporta sua produção de café ou está planejando iniciar remessas para o mercado externo. Há também preocupação quanto à qualidade do café ofertado. A consulta apurou que 43% já produzem ou pretendem investir nos segmentos de cafés especiais ou orgânicos. 


Boletim Informativo nº 882, semana de 26 de setembro a 2 de outubro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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