Lácteos

Balança comercial é superavitária,
mas com baixa remuneração








O setor lácteo se preparou
para uma expansão, ao longo dos últimos anos, investindo em qualidade e competitividade.

O Brasil voltou, pelo segundo mês consecutivo, a obter superávit na balança comercial de lácteos, apesar de o País enfrentar período de supervalorização da moeda nacional perante o dólar. Em agosto, houve saldo positivo de US$ 3,2 milhões no segmento, resultado de exportações de US$ 13,8 milhões e US$ 10,6 milhões em importações.

O presidente da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNPL/CNA), Rodrigo Alvim, explica que o Brasil conseguiu recuperar a condição de ser superavitário na balança de lácteos às custas do produtor, que está recebendo pelo leite os preços mais baixos dos últimos cinco anos. "É a baixa remuneração do produtor que está compensando a defasagem cambial", diz Alvim.

Em agosto, o preço médio pago ao produtor pelo leite de tipo "C" foi de R$ 0,51 por litro. Alvim destaca que é uma queda em plena entressafra, contrariando as tendências de mercado. "Tradicionalmente, seria época de recuperação de preços", diz. Em julho, o preço pago foi de R$ 0,57 por litro e em junho, R$ 0,59 por litro. Esses valores foram calculados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Agrícola da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). Segundo avalia o presidente da CNPL, o setor lácteo se preparou para uma expansão, ao longo dos últimos anos, investindo em qualidade e competitividade.

Os primeiros resultados positivos da qualificação do setor lácteo foram vistos no ano passado, quando, pela primeira vez, o Brasil obteve superávit na balança comercial de lácteos, de R$ 11,5 milhões. Tradicionalmente, o País era um grande importador nesse segmento, lembra Alvim, mas investiu para reverter esse quadro. No primeiro semestre deste ano, a produção de leite sob inspeção em Minas Gerais (principal Estado produtor, representando 30% da oferta nacional) cresceu 12% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo 2,27 bilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Isso não ocorreu somente em Minas. Os produtores de outros Estados também investiram e ampliaram qualidade e capacidade de produção, e agora estão sendo prejudicados por terem apostado na qualificação", diz Alvim.

Este ano, ressalta o representante da CNA, a cadeia de lácteos foi surpreendida com queda da cotação do dólar e alta dos juros internos. Para manter a capacidade de competição no mercado internacional, frente à expansão da produção, a alternativa foi reduzir os preços pagos ao produtor. "A recuperação das exportações ocorre somente devido à queda da remuneração do produtor", diz Alvim, alertando que, em médio prazo, a manutenção dessa situação pode gerar desestímulo à atividade. "O cenário de dólar baixo e juros altos é prejudicial não apenas para a pecuária de leite, mas para toda a atividade agropecuária. O quadro é negativo não apenas para os lácteos", diz Alvim.

Há expectativa de redução no volume de importações de lácteos pois a Argentina, grande fornecedor de produtos do setor ao Brasil, passou a aplicar sobretaxas nas suas exportações. Isso vai tornar os lácteos argentinos mais caros e, portanto, menos competitivos, beneficiando a produção brasileira, avalia Alvim.

O superávit de segmento de lácteos provocado pelos baixos preços pagos ao produtor não ocorreu somente em agosto. Também em julho houve saldo positivo, de US$ 1,1 milhão. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, no entanto, o País registra déficit na balança comercial de lácteos, de US$ 13,6 milhões; resultado de US$ 88,8 milhões de importações (equivalente a 53,6 mil toneladas) e exportações de US$ 75,1 milhões (equivalente a 45,5 mil toneladas). 


Boletim Informativo nº 881, semana de 19 a 25 de setembro de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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