Unir esforços para direcionar o aumento da produção aos mercados internacionais simultaneamente a um trabalho de incentivo ao crescimento do consumo interno é a recomendação de analistas e especialistas de mercado à produção nacional de leite. É consenso que o país terá que se preparar, e rapidamente - a começar por mudanças dos próprios produtores -, para um possível salto de produção, dos atuais 22 bilhões de litros/ano para até 55 bilhões de litros de leite por ano. Respeitáveis números a exigir a renovação de logísticas e estratégias de mercado. Soma-se a isto, o fato de o Brasil ser considerado o único país capaz de suprir a demanda crescente dos países em desenvolvimento e temos aí um grande desafio. Países tradicionalmente exportadores como os da União Européia, estão comprometidos com o abastecimento dos novos países do bloco, além de enfrentarem sérios problemas ambientais com os dejetos dos animais. Para os produtores brasileiros, o objetivo é avançar, mudar e modernizar o gerenciamento da pecuária leiteira, buscar mais eficiência e ganhar condições de competitividade. Como parte dos eventos programados para o Agroleite 2005, no dia 9 de agosto foram realizadas três palestras, de Rodrigo Sant´ Anna Alvim, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, sobre o Mercado Mundial e Nacional do Leite – Atualidade e Perspectivas, de Fábio Chaddad (IBMEC) sobre As Estratégias Competitivas para o Setor Leiteiro e de Marcelo Carvalho (MilkPoint/Láctea Brasil), sobre a Importância do Marketing para o Setor Leiteiro. As palestras foram seguidas de uma mesa redonda para discutir os gargalos do setor agroindustrial do leite no Paraná. Se fosse possível resumir as palestras em uma única palavra, esta seria “mudança”. O mundo mudou, o horizonte do mercado mudou, o consumidor mudou e o produtor de leite obrigatoriamente precisa mudar. Mudar no sentido de ampliar sua visão além do ambiente dentro da porteira, que muitos conduzem segundo a herança cultural de seus antecessores (bisavô, avô, pai), e dedicar-se a buscar conhecimento do mercado de seu produto, de conjuntura nacional e internacional que influenciarão diretamente no preço que receberá no final do mês, a gerenciar seu negócio com o mesmo profissionalismo que uma empresa urbana exige, reduzindo custos para ter competitividade, já que, como commodity que é, o leite permite pouco espaço para valorização via diferenciação. Impossível? Os palestrantes afirmam que não. E durante as quatro horas do encontro, os participantes puderam ver e entender o grande potencial de crescimento da atividade leiteira no Brasil, que é entendido internacionalmente como o único país capaz de atender a demanda futura de países em desenvolvimento, já que nações tradicionalmente exportadoras como as da União Européia já têm suas produções comprometidas para atender os novos países do bloco, além de enfrentar sérios problemas ambientais com os dejetos dos animais. Se a produtividade média brasileira, que é de 1.200 litros de leite/vaca/ano, aumentar até alcançar a produtividade argentina – de 3.000 litros/vaca/ano, a nossa produção pulará da casa dos 22 bilhões de litros para 55 bilhões litros/ano. Isso é perfeitamente possível. Mas então o quê fazer com todo esse leite, quando a atualidade mostra os preços ao produtor caindo rapidamente, em plena entressafra, e quando a única saída imediata parece ser a redução de oferta? A resposta é a busca de mercados internacionais associada a uma campanha de marketing buscando o aumento do consumo interno. Para isso, é fundamental o comprometimento de governo e de toda a cadeia produtiva, o primeiro garantindo a infra estrutura básica à produção e comercialização (fiscalização e punição de fraudes, controle da sanidade, apoio creditício a produtores e indústrias, acordos de equivalência sanitária com países importadores, entre outros) e a cadeia cada vez mais comprometida com a qualidade e satisfação do cliente. E o atendimento a esses requisitos significará preços maiores aos produtores? Segundo Fábio Chaddad, a resposta é não. No seu entendimento, o achatamento das margens no setor agropecuário veio para ficar. E, a longo prazo, o lucro econômico tenderá a zero. Ou seja, o retorno obtido pelos produtores empatará com o custo de oportunidade de seu capital. Como estratégias frente a esse cenário, Chaddad aponta a adesão dos produtores ao associativismo e a um cooperativismo renovado, através da participação efetiva dos pecuaristas nas suas cooperativas, um melhor relacionamento entre produtores e indústrias (o Conseleite é um exemplo), a busca do aumento da demanda via campanhas de marketing, a inserção no mercado externo e o lobby político, citando como exemplo a atuação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A conclusão dos produtores e indústrias participantes da mesa redonda vem ao encontro ao que foi apresentado: a cadeia produtiva do leite no Paraná tem que se preparar para a inserção no mercado internacional. E, para isso, é necessário um reforço nas ações que proporcionem garantia de qualidade da matéria- prima, com grande atenção ao aspecto sanitário, investimento no parque industrial com vistas à adequar os produtos à demanda (as grandes compras no mercado internacional são de queijos, leite em pó e leite condensado) e profissionalização em todos os segmentos, da produção à comercialização. Veja a íntegra das palestras no site www.faep.com.br, clicando em CONSELEITE. Maria Sílvia Cavichia Digiovani DTE / FAEP |