Conheça mais sobre o programa integração lavoura-pecuária Experimentos demonstram a eficiência para aumento da renda |
No verão, milho ou soja. No inverno, boi e vacas alimentando-se de forrageiras e pastagens. Pelo sistema de integração lavoura-pecuária, o produtor paranaense concilia a pecuária bovina e a produção de grãos na mesma área de terra. É o agronegócio trabalhando por mais renda, por meio do uso de tecnologia para recuperação dos terrenos degradados e a reforma de pastagens. A rotação de culturas é feita por técnicas de plantio direto, que reduzem o risco dos sistemas tradicionais de produção nas propriedades. O sistema de integração lavoura- pecuária tem revelado um melhor rendimento do rebanho bovino por meio de exemplares de boa genética e produtos animais de qualidade. Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP destaca que “o nosso produtor precisa de alternativas que o diferenciem de outras regiões, como o Norte e o Centro - Oeste do País, em que as terras são baratas e há fronteiras ainda a serem abertas”. Meneguette destaca ser “preciso colocar as inteligências dos profissionais a serviço da definição de novas alternativas de agregação de renda para o produtor do Paraná”. Para debater as formas de incentivo a mais produtores aderirem ao sistema, pesquisadores e profissionais da assistência técnica agropecuária do Norte e Sul do Paraná voltam a se encontrar em dois seminários regionais, em Londrina e Guarapuava, entre agosto e setembro. A última reunião sobre a integração ocorreu há duas semanas, no auditório do Sistema FAEP (Curitiba), durante workshop do Programa Paranaense de Produção de Carnes e Leite a Base de Pasto. Uma das metas é capacitar técnicos e produtores para que possam empreender com profissionalismo a difusão do sistema integração lavoura – pecuária, que exige uma maior dedicação nas propriedades. UFPR e cooperativas do PR já detêm experiência - O professor Aníbal de Moraes apresentou os resultados de pesquisa da Universidade Federal do Paraná, realizadas em parceria com as cooperativas Coamo, Castrolanda e Agrária, além do IAPAR e da UNICENTRO, em que os conceitos do sistema foram aplicados com bastante sucesso. A Emater-Paraná também relata experiências bem sucedidas no Sudoeste e Noroeste do Estado. O médico-veterinário José Antônio Azevedo (Emater-Loanda) relatou as vantagens constatadas nos experimentos do Norte do Estado que, além de proporcionar um menor custo de acabamento e a redução do custeio da lavoura reverteram aos produtores em garantia de receita, pela diversificação e melhoria na qualidade dos produtos através da complementaridade, contribuindo para a profissionalização dos que escolheram o sistema de integração. Emater/ PR constata aumento de 40% na pecuária de leite pelo incremento das pastagens - O zootecnista João Batista Barbi (Emater-Tapejara) descreveu relatos da opção alternativa de gado e agricultura. Segundo Barbi, os produtores admitiram que somente o cultivo da soja não lhes teria permitido condições financeiras para continuar na atividade. A integração com gado de corte tornou realidade a melhoria de renda da propriedade pretendida. Conforme João Batista, no primeiro ano, normalmente o produtor do Arenito (Norte) cultiva a soja de maneira convencional, em função da necessidade de correção do solo. Nos anos subsequentes adota feito plantio direto. No quarto ano entra, então, a pastagem. Também para o professor Anibal de Moraes (UFPR), é possível trabalhar para o produtor adotar já no primeiro ano a tecnologia de plantio direto, principalmente em solos com perigo de erosão. A questão é evitar a volta da monocultura ou da monoatividade. Hoje, a preocupação dos técnicos volta-se para as áreas em que o plantio de soja foi o recurso para recuperar as pastagens degradadas e em que, por questões econômicas, não houve a retomada das pastagens a partir do terceiro ou quarto ano subsequente, permanecendo apenas a soja. “Isto pode comprometer todo o sistema na região” alertam. O acompanhamento da EMATER das propriedades do ILP no sudoeste paranaense resultou um incremento de 65% na produção de leite entre os anos de 2000 a 2004. “Mas ainda há muito a melhorar, pois a falta de alimento para as vacas acarreta um intervalo de partos elevado, com atraso da primeira cria das novilhas”, argumentam, para evitar a baixa produtividade. “As condições de clima e solo são favoráveis e existe tecnologia para se reverter este quadro”. O médico veterinário Roque Kirchner (Emater/Clevelândia) relatou os resultados das unidades demonstrativas instaladas em parceria do IAPAR e a CLEVELEITE, com recursos do Projeto Paraná 12 meses, no Sudoeste. Foram avaliados aspectos relacionados à produção de leite no inverno, à produção de soja na sucessão, o potencial das principais variedades de aveia e a viabilidade econômica d o sistema de integração. Conclusão: as áreas cultivadas com pastagens no inverno e adubadas permitiram 90 dias de pastejo, contra apenas 40 dias das áreas não adubadas; as variedades de aveia melhoradas proporcionaram de 4 a 5 pastejos enquanto que a aveia comum deu apenas 2 pastejos; a diferença na renda entre as áreas adubadas e não adubadas no inverno chegou a 11,05 sacas de soja por hectare, ou o equivalente a R$ 331,75. Gaúchos fazem os cálculos - O workshop trouxe ao Paraná o professor Paulo Faccio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFPRS) para relatar os resultados da integração lavoura- pecuária em seu Estado. Carvalho comentou que enquanto no verão do Rio Grande do Sul são cultivados perto de 6 milhões de hectares, no inverno a área cai para apenas 1 milhão. A ociosidade na estação fria é de aproximadamente 5 milhões de hectares, que podem ser envolvidos no processo produtivo através da adoção do sistema proposto. “A questão central está no manejo da rotação que define a massa de forragem que ocorrerá durante o ciclo, para definir o ganho de peso por animal e por hectares. A produtividade ideal do sistema é o maior rendimento por unidade de área somando as duas atividades”. Embrapa relata 10 anos de lavoura pecuária - O pesquisador Armindo Kichel, da Embrapa - Centro Nacional de Gado de Corte em Campo Grande (MT), acompanha os modelos voltados para áreas de clima tropical, com experimentos em São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Agora há interesse em ampliar a sua participação e estabelecer parcerias com os demais Estados, entre eles o Paraná. A Embrapa tem um programa intitulado Produção de Carne, Couro e Pele de Qualidade, que integra a pecuária de corte no ILP - Sistema Integração Lavoura – Pecuária. São diretrizes o manejo sanitário e animal na integração lavoura, o manejo nutricional, manejo de pastagem e ajuste de carga animal, o manejo do solo na ILP, indicadores de sustentabilidade, uso de resíduos e subprodutos em sistema de produção de carne e leite, diagnostico da propriedade e também aspectos motivacionais que procuram demonstrar as grandes vantagens do sistema. Este programa pode ajudar os paranaenses. Na visão de Kichel “mais de 50% da pecuária tradicional não tem sobrevivência ao longo dos próximos 10 anos se não mudar a sua forma de trabalhar”. O pesquisador Lineu Domit (EMBRAPA/Soja - Londrina) responsável pela área de difusão de tecnologia, afirmou que é preocupante esta situação porque havendo recursos a demanda será grande. Falta preparo para os técnicos, principalmente da assistência técnica, motivo pelo qual a preocupação é capacitar rapidamente estes técnicos para dar suporte aos agricultores. O Ministério da Agricultura estuda o assunto e prevê a concessão de recursos para implementar o programa no Brasil. IAPAR mantém parcerias para implementar integração - Antônio Costa, diretor- técnico do IAPAR, falou das parcerias estabelecidas para desenvolver os estudos sobre o sistema de integração no Norte, Noroeste e Sudoeste paranaense. Há projetos desenvolvidos em Pato Branco, sobre Rotação de Culturas no Sistema ILP; Avaliação de Cultivares de Aveia para o Sistema ILP; Adubação Nitrogenada; Fixação Biológica de Nitrogênio por meio de Trevos e Ciclagem de Nitrogênio. As pesquisas têm por objetivo a introdução de leguminosas no sistema ILP, a melhoria de qualidade nutricional das pastagens, a ampliação do tempo de pastagem no inverno, a avaliação de máxima eficiência técnica e econômica da adubação nitrogenada, redução de custos de produção e seleção de melhores Cultivares para o Sudoeste entre outros. Os trabalhos são desenvolvidos em parceria com instituições da região como o CEFET e a EMATER. Contam ainda com a participação de mestrandos da UFPR e da UEL. Para o período 2005/2006, o IAPAR está desenvolvendo pesquisas de avaliação técnico econômica de diferentes proporções de leguminosas no consórcio trevo- aveia, no sistema integrado lavoura – pecuária. Neste estudos serão observados, a produção animal, a produção de grãos, a produção de forrageiras e acompanhados aspectos como a composição bromatológica da pastagem, a composição botânica e o monitoramento químico do solo. Faltam profissionais treinados para dar assistência técnica neste sistema, sendo urgente a necessidade de capacitação de pessoal, para dar suporte às demanda dos produtores, que deverá ser crescente. |
Boletim Informativo nº 876, semana de 8 a 14 de agosto de 2005 | VOLTAR |