Os
produtores rurais brasileiros, de modo especial os do Paraná,
sentem-se justificadamente frustrados com a decisão do governo de
não mais atender à grande parte das reivindicações com as quais
havia se comprometido por ocasião do "tratoraço" que
tomou Brasília em junho passado. Vítimas da seca que impôs
pesadas perdas à safra de verão, da desvalorização do dólar e
das baixas cotações das principais commodities, os produtores
passaram a enfrentar uma das mais graves crises de sua história,
para cuja solução seria dever do governo intervir com medidas de
socorro. As promessas de socorro, embora atendessem apenas
parcialmente aos pleitos, no entanto, não foram (e provavelmente
não o serão) cumpridas na extensão acordada.
O
resultado é que milhares de produtores estão endividados e sem
condições de iniciar os preparativos para a próxima safra de
verão, cujo plantio começa nas próximas semanas. Ou seja, a
tendência é de que o Brasil não repita nessa nova temporada a
excelente performance de crescimento que vinha apresentando nos
últimos anos, responsável por ter consolidado nosso país como um
dos gigantes mundiais da produção agropecuária. E mais: principal
responsável também por ter salvado a economia brasileira dos
resultados negativos que fatalmente adviriam em face do fraco
desempenho dos outros setores.
As
reivindicações levadas a Brasília durante as manifestações do
"Alerta do Campo", que reuniu na capital federal 25 mil
produtores de todo o país, foram respondidas pelo governo – com
aval direto do presidente Lula – com a promessa de um pacote de
ajuda creditícia da ordem de R$ 4 bilhões. Esse valor seria o
mínimo necessário para que os agricultores pudessem renegociar as
dívidas contraídas nos bancos e perante as cooperativas e
fornecedores. Entretanto, o governo rompeu tal acordo, concedendo
apenas R$ 3 bilhões, com o agravante de demorar excessivamente na
liberação dos recursos.
Dos
inúmeros outros pleitos apresentados, apenas poucos obtiveram –
sempre de modo parcial – aceitação por parte das autoridades
federais. É o caso, por exemplo, do importante pedido para que os
financiamentos de custeio da safra passada tivessem seus vencimentos
prorrogados por cinco anos. O governo, no entanto, concedeu prazo
por apenas um ano e localizou o benefício nos estados do
Centro-Oeste e da Bahia. Incompreensivelmente, os produtores do
Paraná e do Rio Grande do Sul, os mais afetados pelas perdas,
ficaram de fora.
Não
se pode entender as razões de tratamento tão displicente. Para
dizer o mínimo, o governo age de forma pouco inteligente,
esquecendo-se de que vem exatamente da agricultura o principal
suporte para o êxito de sua política econômica. Vem da
agricultura a parcela mais expressiva das nossas exportações.
Deve-se a ela também a regularidade do abastecimento interno e a
estabilidade dos preços, fator fundamental – mais do que os juros
altos – para manter a inflação sob controle. E nem se fale de
sua capacidade de criar e manter empregos no campo, interiorizar as
riquezas e contribuir para a paz social.
Ao
ignorar as justas reivindicações do setor rural, o governo corre o
risco de comprometer as metas de crescimento econômico e de
estabilidade que tanto alardeia. A agricultura não pede subsídios
– aliás, aqui eles ficam baixo limite de 3%, enquanto que na
União Européia chegam a representar 34% do valor bruto da
produção –, mas apela por ajuda tão-somente para ultrapassar
este momento de inegáveis dificuldades. O governo falta com o bom
senso ao não prestar o imediato socorro – mesmo sabendo que a
agricultura decuplicará tudo o que nela for investido.
Publicado
no Jornal Gazeta do Povo
de
27 de julho de 2005
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