Atraso no Plano Safra preocupa
 Comissão Técnica de Grãos



A demora da efetivação do plano safra 2005/2006, que ainda não saiu do papel, encontra-se entre as questões mais prementes da agropecuária paranaense. Em anos anteriores, os planos de safra foram anunciados entre os meses de maio e junho, proporcionando mais tempo para os produtores resolverem sobre os financiamentos de inverno e dos plantios de verão. Já no fim da segunda quinzena de julho, os agentes financeiros ainda não receberam as  normas  para  agilizar   o novo 

plano de safra nem conseguiram ter uma definição do volume que cada Estado poderá dispor, para repasse aos produtores rurais e aos programas de apoio agropecuário.

Este assunto foi discutido durante a reunião da Comissão Técnica de Grãos e Financiamento da Produção/PROAGRO da FAEP ocorrida no dia 25 de julho, quando foi apresentado ainda um relato das conquistas e pendências do Tratoraço de junho em Brasília, com críticas ao Governo por não ter cumprido as promessas feitas às lideranças da agropecuária nacional e pela demora em liberar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para parcelar as dívidas de produtores com cooperativas e fornecedores de insumos. Leia a seguir os principais assuntos abordados durante a reunião.

Milho - Tendências

O representante da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Eugênio Stefanello, disse que a oferta mundial de milho este ano deverá ser menor do que as necessidades de consumo. Conforme Stefanello, a tendência é que suba o preço da commoditie. Para justificar essa tendência, explicou que esse ano o Brasil terá que importar algo entre 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas de milho, para assegurar o abastecimento doméstico. No ano passado, o País quase não importou porque a produção interna somada aos estoques eram suficientes para o consumo.

O preço do milho só deve subir até a paridade de importação. Isto é, acompanhará os preços do produto importado sem ultrapassar os custos de entrada do produto adquirido de outros países. Stefanello acredita que o produtor que tiver condições de fazer venda parcelada do milho ao longo do segundo semestre aproveitará melhor as possíveis altas de preço do produto.

Stefanello disse que a cotação do dólar deve se manter nos níveis atuais, prosseguindo na trajetória observada de dois anos para cá - dólar desvalorizado, juros médios altos, forte entrada de capital especulativo, superávit na balança comercial e nas transações correntes do Brasil.

O detalhe da balança comercial é que a soja foi o único produto da pauta de exportações brasileiras que teve redução de preços internacionais. No caso da soja, Stefanello acredita que o produtor não têm muitas alternativas na comercialização e deve fazer a venda de sua produção aproveitando os momentos de pico por conta de notícias de condições climáticas ou de mercado. A conjuntura atual aponta para um retorno dos preços para as médias históricas e o produtor deve ficar atento a esta nova realidade, pois o momento de euforia de alta de preços passou.

O representante da OCEPAR, Flavio Turra, diante da informação que alguns armazéns do Paraná solicitaram a remoção dos estoques do governo, entende que uma venda dos atuais 400 mil toneladas de milho prejudicará o produtor e defende um estudo para realizar uma movimentação entre os armazéns do governo, evitando a venda do estoque para evitar uma baixa nos preços.

Turra relatou que a Argentina não segrega o milho Bt do RR e que a CTNBio autorizou apenas a importação de milho Bt, o que poderá inviabilizar a importação de milho do país vizinho. Estima uma produção total de milho de 8,4 milhões de toneladas (6,4 milhões de toneladas na safra e dois milhões da safrinha) no Paraná, sendo que o consumo interno será de 7,8 milhões de toneladas.

Para Otmar Hubner, do Deral/SEAB, o Paraná terá uma quantidade maior de milho safrinha indo para silagem, o que deverá reduzir a estimativa da safrinha para 1,95 milhões de toneladas.

Trigo – Tendências

Quanto ao trigo, Stefanello avalia que o Brasil conseguiu atingir uma produção que supre 50% do consumo interno, mas mesmo assim, enfrenta problemas de comercialização. O câmbio baixo devido a elevada taxa de juros e forte entrada do capital estrangeiro, além da concorrência com o trigo argentino foram apontados como fatores que dificultam a comercialização do trigo nacional.

O câmbio para baixo favorece a importação. Existe também problemas com o trigo argentino que entra no Brasil, que tem um custo menor. A farinha de trigo argentino entra por via rodoviária para ser consumida no Sul e Sudeste, causando impacto negativo sobre a produção brasileira.

Por outro lado, ressaltou Stefanello, o governo não pode entrar com intervenção muito forte no mercado do trigo, usando o sistema de aquisições diretas e política de preços mínimos, devido aos escassos recursos do governo, que precisa continuar com a política de contenção de gastos para fazer frente ao seu déficit, apesar dos tributos representarem 37% do PIB.

Consumo em baixa - Marcelo Vosnika, do Sinditrigo, explicou a conjuntura do trigo. Segundo ele, o custo do produtor brasileiro é muito alto em relação ao argentino. Num momento único na história do consumo da farinha de trigo ,esta é a primeira vez que, exatamente neste período em que deveria haver um aumento do consumo do produto, "verifica-se exatamente o contrário: uma queda do consumo, que pode ser explicada pela redução dos preços do arroz e do frango", que substituem o produto.

Hoje a indústria não está comprando farinha de trigo porque mantém estoque do produto. Vosnika também falou do receio de queda na qualidade do trigo nacional, após três safras de excelente qualidade. O temor é que fatores como a descapitalização do produtor resulte em menor tecnologia durante o cultivo do cereal. Há risco, disse, de trazer para o mercado um trigo de baixa qualidade, puxando o preço para baixo.

O dirigente do Sindtrigo também falou de outra alteração de mercado. O Rio Grande do Sul está ganhando o mercado do trigo claro, pois o produtor paranaense não está mais cultivando esta variedade do cereal. Além disto, recomenda que o produtor faça a segregação do produto, pois o trigo que chega misturado nas multinacionais (indústria) volta para o mercado com preço baixo. Esse, é na sua opinião, o pior trigo que o produtor pode entregar na indústria, pois estraga o próprio mercado do produtor.

Crise anunciada - Flávio Turra relatou que o Paraná detém ainda 700 mil toneladas de trigo remanescentes da safra passada (2004) a espera de comercialização ou remoção nos armazéns do Estado. Em 2005 a safra também deverá ser boa, repetindo os números da colheita do ano passado totalizada em 3 milhões de toneladas.

Porém, o grande problema, ressaltou, é que o Paraná estará com aproximadamente 3,7 milhões de toneladas para comercializar em 2005, ano em que a taxa de câmbio está desfavorável e os preços internacionais em baixa, mas os custos altos. Turra acredita que o governo deve intensificar a aquisição de trigo via Prêmio de Escoamento da Produção (PEP) e viabilizar de uma vez por todas a cabotagem no Brasil, pois é inadmissível o frete do trigo argentino ser mais barato para ser colocado no nordeste do que o frete do sul para aquela região.

Lei de sementes

Eugênio Bohatch, da Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (APASEM), proferiu a palestra: "Legislação Brasileira sobre Sementes". Destacou que o setor sementeiro gaúcho está esfacelado devido ao evento da semente pirata e que o Paraná, maior produtor de sementes do Brasil, corre o risco de seguir esse caminho.

Bohatch relatou que o setor sementeiro do Rio Grande do Sul contava em 2000 com 360 produtores de sementes e que este ano conta apenas com 140. Durante sua palestra orientou os produtores a trabalharem apenas com sementes certificadas e com origem comprovada por nota fiscal, pois o plantio com semente pirata é uma infração que pode ser multada com valores que podem chegar a R$18mil e 125% do valor do produto.

Royalties

Antônio Smith e Alfredo Miguel Neto, representantes da Monsanto, proferiram palestra explicando como foi realizado a fixação de preços dos royalties da tecnologia da semente de soja transgênica Roundup Ready (RR), o histórico das negociações e o funcionamento da cobrança para o Brasil.

Serão cobradas duas taxas diferentes e com fins específicos e não cumulativos:

1. Royalties: definida para todo o Brasil no valor de R$0,88 por kg de semente RR adquirida. Ao adquirir sementes certificadas com a tecnologia Roundup Ready (RR) da COODETEC ou de outras produtoras de sementes, o produtor receberá do vendedor um crédito eletrônico e um certificado nominal e intransferível, válidos por uma safra, atestando a quantidade das sementes adquiridas e a de grãos que poderá entregar para venda, isenta de pagamento de indenização pelo uso não-autorizado da tecnologia. Para o Paraná foi estipulado que este certificado dará direito a um crédito de 73kg de grãos para cada quilo de semente. O produtor que decidir plantar soja transgênica deverá apresentar esse certificado no momento de venda na indústria e isso comprovará que já pagou pelos royalties da tecnologia RR.

2. Taxa de indenização pelo uso não-autorizado da tecnologia RR: ao contrário do que ocorreu em alguns estados, no Paraná a Monsanto ainda não negociou com os produtores rurais o valor da taxa de indenização pelo uso não-autorizado da tecnologia RR, porém essa cobrança já foi feita na safra passada no Rio Grande do Sul e ficou em R$ 0,60 sobre a saca de grãos comercializada. Para este ano ficou definido em 2% sobre a comercialização.

Os membros da Comissão Técnica de Grãos ouviram dos representantes da Monsanto que este sistema evita cobrança duplicada dos produtores e que o produtor que entregar no mercado soja convencional não pagará royalties ou taxa de indenização, pois o teste de cargas transgênicos da Monsanto aceitará até 10% de mistura com grãos transgênicos.

O dilema dos produtores paranaenses sobre que tipo de semente escolher para a safra 2005/2006, na dúvida entre a soja convencional e a soja transgênica também foi discutido durante a reunião da Comissão Técnica de Grãos da FAEP. Cada produtor deverá fazer suas contas para optar pela variedade mais adequada a sua condição financeira. O problema é que o Estado dispõe hoje de apenas 28 mil toneladas de semente transgênica, suficiente para cobrir 8% da área do plantio da soja do Paraná. A estimativa de plantio de soja na safra 2005/2006 no Paraná é para uma área de 4 milhões de hectares, sendo necessários aproximadamente 240 mil toneladas de sementes.

Participaram como convidados da reunião da Comissão Técnica de Grãos o superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, Walmir Kowalewski de Souza, além de Jorge Augusto Szczypior e Hugo Caruso; Flávio Turra, da Ocepar; Otmar Hubner, Deral/Secretaria Agricultura; Miguel Honório, da Superintendência do Banco do Brasil; Marcelo Vosnika, presidente do Sinditrigo; Eugênio Bohatch, da Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas; Eugênio Stefanello e Lafaete Jacomel, da CONAB; Antônio Smith e Alfredo Miguel Neto, pela Monsanto.

A Comissão de Grãos é presidida por Ivo Arnt, de Tibagi, sendo integrada por representantes de todas as regiões produtoras indicados pelos Sindicatos Rurais patronais. Maiores informações sobre a Comissão podem ser obtidas no site http://www.faep.com.br/comissoes/graos


Boletim Informativo nº 875, semana de 1 a 7 de agosto de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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