Um
grupo formado por pessoas que detém cargos públicos e militantes
de ONG’s ambientalistas, com estreitos vínculos pessoais e
profissionais, está à frente do processo desencadeado pelo
Ministério do Meio Ambiente para criação de oito novas Unidades
de Conservação, no Paraná e em Santa Catarina. A
denúncia-crime, do deputado federal paranaense Max Rosenmann, foi
feita ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Barros e
Silva de Souza, que encaminhou as investigações aos procuradores
da República nos dois estados.
Segundo
o deputado, não foi por acaso que o processo de criação das
unidades de conservação não ouviu vereadores, prefeitos,
produtores rurais e moradores das regiões afetadas. Rosemann
denuncia que as ações do grupo de trabalho do Ministério do
Meio Ambiente e das ONG’s "misturam interesses pessoais com
os coletivos, transformando a preservação em instrumento de
coação e execução de interesses ideológicos, partidários e
até da manutenção de renda e enriquecimento pessoal".
Ao
investigar a polêmica que envolve o tema, o deputado federal
descobriu uma rede de tráfico de influências e favorecimento de
parentes e amigos nas ONG’s ambientalistas e no próprio
Ministério do Meio Ambiente.
Relações
suspeitas - O processo de
criação das unidades de conservação em Santa Catarina e no
Paraná começou em 2002, através das Portarias Ministeriais 507
e 508, do Ministério do Meio Ambiente. Quem coordenava as ações
era a funcionária em cargo de confiança Miriam Prochnow, apoiada
por ONG’s como a Apremavi, de Santa Catarina, que era dirigida
pelo marido de Miriam, Wigold Schaffer, e o Instituto Sócio
Ambiental (ISA), coordenado na época por João Paulo Ribeiro
Capobianco, também ex-presidente da entidade SOS Mata Atlântica.
Em
função "do clamor popular contra seu radicalismo e do caos
social que ocasionaram" as portarias foram republicadas em 07
de abril de 2003 pela ministra Marina da Silva. Nesta segunda
fase, à frente do processo aparece o ex-coordenador do ISA, João
Paulo Capobianco, agora já como secretário de Biodiversidade do
Ministério. João Paulo surge assessorado por Wigold Schaffer,
ex-membro da Apremavi, agora coordenador do Núcleo Assessor de
Planejamento da Mata Atlântica do Ministério, função antes
ocupada pela mulher dele, Miriam Prochnow. A diferença é que,
nesta segunda etapa, os envolvidos trocaram de posições: Miriam
Prochnow passou a presidir a Apremavi e a Rede de ONG’s da Mata
Atlântica, enquanto os outros ambientalistas se instalaram no
ministério.
A
denúncia de Rosenmann é de que o Grupo de Trabalho criado para
propor as unidades de conservação, foi "montado por pessoas
de governo, na sua maioria com militância direta ou indireta em
ONG’s". A jornalista Tereza Urban foi contratada como
consultora, ora representando a Rede Verde do Paraná e outras
vezes a ONG Mater Natura. As duas entidades tem íntima ligação
e trabalho com o ISA e a SOS Mata Atlântica. A própria Tereza
Urban, segundo denunciou o deputado, também consta como uma das
fundadoras do ISA, que antes era coordenado por João Paulo
Capobianco.
A
Força-Tarefa do Grupo de Trabalho das Araucárias, comandada
pelos denunciados, foi criada sem a participação de membros de
outras ONG’s, de entidades públicas, da sociedade ou
interessados. Uma portaria do IBAMA, de setembro de 2004, mas só
publicada em junho de 2005, atribui ao grupo a responsabilidade de
propor toda a política para a Araucária, envolvendo o interesse
de milhares de pessoas e agricultores, mas negando-lhes a
participação democrática e popular.
A
denúncia-crime do deputado Max Rosenmann apurou que as ONG’s
convidadas para o Grupo de Trabalho foram:
l
SPVS. Uma organização não-governamental de Curitiba, que
nunca trabalhou no bioma de araucárias. O presidente, Clóvis
Scharapper, é amigo de Tereza Urban e tem trabalhos e ligações
pessoais com as demais ONG’s e membros do grupo de trabalho das
araucárias;
l
Mater Natura. Uma ONG de Tereza Urban, que recebeu contrato
milionário para fiscalizar obras no Paraná como auditora;
l
Rede de ONG’s da Mata Atlântica. Coordenada por Miriam
Prochnow, mulher do atual coordenador do projeto no governo,
Wigold Schaffer, com íntimo trabalho e relação com João Paulo
Capobianco – fechando novamente a rede de conluio e interesses
pessoais;
l
TNC, organização internacional, representada no grupo de
trabalho por Silvia Ziller, da ONG Hórus, mantenedora da campanha
contra reflorestamentos, ex ou atual sócia da ONG SPVS, de
Clóvis Scharape, e com trabalhos financiados pelo Ministério do
Meio Ambiente.
Dinheiro
público - "Além da
relação pessoal, familiar, profissional e de sociedade entre as
ONG’s e os funcionários em cargos de confiança e direção no
Ministério, as mesmas ainda recebem ou receberam recursos
públicos relevantes do MMA e do IBAMA, confundindo seus
interesses institucionais com vínculos de dependência
financeira", afirma Rosenmann. Mais grave, segundo o
deputado, é que o grupo, enquanto cria caos e paralisação das
atividades econômicas em grandes regiões produtoras, anuncia
"sem menor medo de confessar seus reais interesses, a
previsão de liberação de milhões de dólares para ONG’s que
irão trabalhar com meio ambiente na região, logicamente as
mesmas desta verdadeira quadrilha".
O
grupo de trabalho denunciado apresentou às comissões do
Congresso o produto de um suposto trabalho exaustivo, que na
verdade é uma coletânea de artigos na maioria dos próprios
membros do grupo. Na argumentação, cópia de estatísticas
desatualizadas, algumas de 1996, sem mapas ou laudos de vistoria
de campo. "Tudo pago pelo erário público, e com
consequências sociais imensas, sem contar possíveis
desapropriações e indenizações de somas vultosas".
A
denúncia aponta que "as áreas atestadas pelo grupo de
trabalho como vistoriadas foram desmentidas pelos proprietários
nas raras e montadas audiências públicas, com o crime de
falsidade ideológica de tentar enganar toda a sociedade com
informações falsas e montadas entre um grupo de amigos com
interesses pessoais inconfessáveis". Os dados anexados ao
processo do IBAMA também utilizaram fontes de artigos publicados
pelas próprias ONG’s envolvidas, uma delas a SOS Mata
Atlântica, da qual João Paulo Capobianco, atual secretário de
Biodiversidade, é ex-presidente. Além de usar fonte ilegal –
quando a lei determina dados do IBGE – "os mapas publicados
e distribuídos em milionárias campanhas foram adulterados,
inclusive omitindo áreas de campos naturais e outras
informações".
Por
fim, estudos como o de variabilidade genética foram concluídos e
anexados ao processo do IBAMA após as datas das audiências
públicas e depois de os limites das áreas escolhidas estarem
definidos. O problema é que as propostas estariam baseadas nestes
estudos.
Diante
da gravidade das denúncias, o deputado federal solicitou à
Procuradoria Geral da República a apuração dos fatos e a
punição dos envolvidos.
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