Os
preços dos alimentos, pagos pelo consumidor nas grandes cidades,
estão em queda. Essa tendência, que tem sido interpretada como
uma boa notícia, na verdade revela a crise enfrentada pela
agropecuária, podendo refletir-se em alta dos preços dos
alimentos em médio prazo. Estudo da Confederação da Agricultura
e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP)
mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) da Agropecuária em 2005
será de R$ 148,94 bilhões, valor 7,3% menor que os R$ 160,65
bilhões do ano passado. O cálculo foi realizado levando em
consideração os resultados do setor acumulados entre janeiro e
abril, permitindo realizar uma estimativa para o acumulado de todo
o ano. "Neste momento, os consumidores estão sendo
beneficiados, pagando menos pelos alimentos. Mas isso é solução
de curto prazo, pois repercutirá em redução da produção, e
com queda de oferta, a tendência é haver aumento dos
preços.", diz o chefe do Departamento Econômico da CNA,
Getúlio Pernambuco.
Isoladamente,
a atividade da agricultura apresenta os piores resultados, devendo
encerrar 2005 com um PIB de R$ 83,65 bilhões, 12,3% menor que os
R$ 95,43 bilhões do ano passado. A pecuária deverá fechar 2005
com um PIB de R$ 65,29 bilhões, ou seja, resultado praticamente
estagnado em relação ao do ano passado, quando o segmento
registrou PIB de R$ 65,22 bilhões. O conjunto do agronegócio,
que envolve também os segmentos de insumos, indústria e
distribuição, tem PIB estimado em R$ 535,09 bilhões para 2005,
com alta de 0,2% em relação aos R$ 533,98 bilhões do ano
passado. "Esse resultado se deve aos resultados da indústria
de transformação, que apresentou crescimento no primeiro
quadrimestre. Mas há expectativa de que, nos próximos
levantamentos, seja observado queda do PIB do conjunto de todo o
agronegócio", diz Pernambuco.
Perdas
na produção foram um dos fatores que levaram à crise na
agricultura. Conforme a mais recente estimativa de safra da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a agricultura
brasileira deixou de colher 19,5 milhões de toneladas de grãos,
em relação às estimativas iniciais, do ano passado. Também
houve queda dos preços pagos por muitas commodities. Ao final, o
produtor rural acumulou os prejuízos da perda de colheita e da
redução dos preços na comercialização. "Os agricultores
arcaram com as perdas, e parte disso foi transferido aos
consumidores, com queda dos preços dos alimentos. Mas tal
situação desestimula investimentos em produção, o que vai
reduzir oferta.", alerta Pernambuco.
Dados
do faturamento da agropecuária, medidos por meio do conceito de
Valor Bruto da Produção (VBP) comprovam, mais uma vez, a crise
do setor. O VBP dos 25 produtos do setor é estimado em R$ 167
bilhões para 2005; o que representa queda de 14,6% em relação
aos R$ 195,7 bilhões do ano passado. O VBP da soja, principal
cultura das lavouras brasileiras, deverá ser de R$ 24,9 bilhões,
39,5% menor que os R$ 41,2 bilhões do ano passado. Isso se deve
à queda dos preços médios de comercialização. Em junho do ano
passado, o produtor recebia R$ 830 pela tonelada de soja. Em
junho deste ano, a mesma
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