Projeto Conhecer da CNA aponta
 crise de renda na agropecuária




Além de alto comprometimento da renda com linhas oficiais de crédito rural, a consulta comprovou que o setor rural também está endividado diretamente com fornecedores de insumos

 

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) decidiu mensurar a dimensão da crise de crédito no campo. Para isso, realizou consulta diretamente com os produtores rurais, por meio de trabalho do Projeto Conhecer. Os resultados comprovam que grande parcela dos produtores rurais brasileiros está enfrentando crise de renda, pois depois de enfrentar frustração de safra, queda dos preços das commodities, entre outros problemas, não está conseguindo quitar financiamentos, inclusive os de custeio.

.A consulta foi realizada em maio, com respostas de 2.298 produtores de todo o País. O resultado mostrou que metade dos consultados tem sua renda comprometida com o pagamento de parcelas de custeio da lavoura. "Isso é preocupante, pois boa parte dos produtores também tem dívidas em outras linhas de financiamento, como as de investimento, Pesa e Securitização", diz o chefe do Departamento Econômico (Decon) da CNA, Getúlio Pernambuco. Dos consultados, parcela de 10% indicou que tem comprometimento superior a 60% da renda bruta.

Além de alto comprometimento da renda com linhas oficiais de crédito rural, a consulta comprovou que o setor rural também está endividado diretamente com fornecedores de insumos. Parcela de 36% dos consultados indicou que tem débitos a quitar com fornecedores.

Quando procuram os bancos para renegociar as dívidas, os produtores, em geral, não são bem sucedidos. Apenas 11% dos consultados indicaram que pediram renegociação e foram atendidos em relação a crédito de custeio. Outros 12% pediram renegociação das dívidas de parcelas de linhas de investimento e conseguiram prazo maior para quitar o débito. Houve problemas em relação às renegociações de dívidas contratadas por meio da emissão de Cédula de Produto Rural (CPR).

Do total de consultados, 28% informaram ter dívida por meio do lançamento de CPR, mas apenas 30% desse grupo conseguiu renegociar o valor devido, ganhando mais tempo. "A situação de crise de renda já estava estabelecida, e era de conhecimento do Governo, que lançou, por meio de resoluções do Conselho Monetário Nacional, uma série de medidas na tentativa de facilitar a renegociação das dívidas rurais.

Mas a consulta do Projeto Conhecer comprovou que essas medidas não foram suficientes para atender os problemas do campo", afirma Pernambuco. Para 34% dos consultados, as medidas do CMN não atenderam a demanda do setor rural. Outra parcela de 38% afirmou que as medidas resolveram apenas parcialmente os problemas de crédito.

As medidas do CMN foram anunciadas em abril, e incluíram decisões como a prorrogação das parcelas vencidas e a vencer em 2005 das linhas de investimento dos programas financiados com recursos com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Por exemplo, para regiões com reconhecida situação de estado de emergência pela Defesa Civil, devido à estiagem, foi garantida prorrogação das parcelas para um ano após o vencimento da última parcela. Para regiões com problemas de estiagem ou frustração de receita decorrente de preços baixos, a prorrogação permitida é de três anos, podendo chegar a 5 anos em alguns casos.

A consulta do Projeto Conhecer apurou também que na última safra, 49,2% dos produtores tentaram obter financiamento para custeio da lavoura, mas apenas 8% destes conseguiram a totalidade dos recursos necessários com a taxa de juro de 8,75% ao ano. Ao restante, a solução foi obter outras linhas de financiamento, com taxas superiores. 


Boletim Informativo nº 872, semana de 11 a 17 de julho de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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