Câmbio gera problemas também
na pecuária de leite, afirma CNA


A atual política cambial do Governo, que mantém o dólar subvalorizado, valendo menos que R$ 2,40, já provocou danos à pecuária de leite brasileira. O setor, que no ano passado registrou pela primeira vez superávit na balança comercial de lácteos, volta a importar, prejudicando a produção interna, a renda do produtor e a geração de empregos. O alerta é do presidente da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNPL/CNA), Rodrigo  Alvim, ao analisar 

os resultados da balança comercial de lácteos do primeiro semestre. Entre janeiro e junho, o Brasil exportou o equivalente a 32,7 mil toneladas de lácteos, o que gerou receita de US$ 50,7 milhões. No mesmo período, entretanto, as importações do segmento atingiram 40,6 mil toneladas, com gastos de divisas na ordem de US$ 68,5 milhões. O resultado final foi um déficit na balança comercial de lácteos de US$ 17,9 milhões. Em igual período do ano passado, o déficit foi de US$ 7,5 milhões, e aos poucos, foi revertida a situação. Em 2004, a balança comercial de lácteos foi superavitária em US$ 11,5 milhões. Se as atuais taxas de câmbio forem mantidas, será difícil repetir esse resultado positivo em 2005, diz o presidente da CNPL/CNA.

Segundo explica Alvim, nos últimos anos, a pecuária leiteira nacional investiu em modernização, qualificação e aumento da produtividade, mas todas essas conquistas correm risco de serem perdidas se mantidos os atuais patamares do câmbio. Com o dólar barato, alerta, há estímulo ao aumento das importações e inibição às exportações. O resultado final é o crescimento de oferta de lácteos no mercado interno, com queda de renda ao produtor. "O setor estava bem, com preços internos estáveis. Entramos no período de safra, em outubro do ano passado, com queda suave dos preços, o que não ocorria há muito tempo", lembra Alvim, creditando tal equilíbrio à modernização do setor lácteo acumulada nos últimos anos. "Agora, em poucos meses, devido à desvalorização do dólar, já percebemos os prejuízos. Com o atual câmbio, há dificuldade em exportar.", diz o presidente da CNPL/CNA. O cenário torna-se ainda mais complicado pois o País, frente ao bom momento da pecuária leiteira, expandiu a produção em 6% em 2004, e em 9,6% no primeiro trimestre, comparado aos resultados de janeiro a março do ano passado. É mais um fator que gera grande oferta e conseqüente queda de preços pagos ao produtor. Em Minas Gerais, Estado responsável por 30% da produção nacional de leite, o crescimento foi de 10% em 2004 e de 9% no primeiro trimestre de 2005.

Dados referentes exclusivamente ao mês de junho mostram que as importações de lácteos somaram 8,3 mil toneladas, 89,4% a mais que as 4,4 mil toneladas de igual período do ano passado. Em receita, as importações de lácteos de junho representaram despesas de US$ 14,1 milhões, 111,7% a mais que os US$ 6,6 milhões de igual mês de 2004. As exportações de lácteos também cresceram, mas em ritmo bem mais lento. No mês passado, as remessas de lácteos somaram, 5,3 mil toneladas, 16,1% a mais que as 4,6 mil toneladas de junho do ano passado. No acumulado do primeiro semestre as exportações de US$ 50,7 milhões do setor representam valor 71,1% maior que os US$ 29,6 milhões de remessas de lácteos de igual período do ano passado. Apesar de o resultado de exportações dos primeiros seis meses sugerir que o setor passa por momento positivo, a tendência, caso mantida a atual taxa de câmbio, é de gradativa queda do fôlego das exportações de lácteos, alerta Alvim.

A CNA está se preparando para realizar, nos próximos dias, reuniões com lideranças da pecuária de leite nacional, de forma a estudar propostas que minimizem os impactos da crise do setor. "Há preocupação de que se repita a crise de 2001, quando houve crescimento de oferta. A solução, à época, foi buscar a possibilidade de exportar, o que conseguimos e que agora, devido ao câmbio, poderá gerar nova crise", diz Alvim. 


Boletim Informativo nº 872, semana de 11 a 17 de julho de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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