campo,
dessa forma, traduz-se em uma queda de R$ 35,6 bilhões no PIB
total do Brasil em 2005.
A
dimensão do prejuízo que o País terá devido à crise no campo
foi calculada a partir dos resultados de estudo da Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq-USP),
sobre o comportamento do PIB da agropecuária acumulado entre
janeiro e março. "Os dados comprovam a desaceleração da
atividade no campo, principalmente nas lavouras", diz o chefe
do Departamento Econômico da CNA, Getúlio Pernambuco.
Os
dados acumulados no primeiro trimestre permitem projetar que o PIB
da agropecuária será de R$ 150,69 bilhões em 2005, 6,6% menor
que os R$ 160, 65 bilhões do ano passado. Isoladamente, o PIB da
pecuária deverá manter-se praticamente estável, atingindo R$
65,29 bilhões este ano, contra US$ 65,22 bilhões, em 2004. As
perdas, portanto, acumulam-se nas lavouras.
O
PIB projetado para a agricultura em 2005 é de R$ 84,4 bilhões;
11,7% a menos que os R$ 95,43 bilhões do ano passado. O conjunto
do PIB do agronegócio, que envolve não apenas a produção
primária, mas também os segmento de insumos, indústria e
distribuição, tem estimativa de crescimento, devendo atingir R$
536,71 bilhões em 2005, frente R$ 533,98 bilhões, no ano
passado. Isso ocorre porque ao mesmo tempo em que se registra
perda de renda no campo, os demais segmentos, ou seja, insumos,
indústria e distribuição, têm perspectiva de crescimento do
seu PIB. "Isso comprova a transferência de renda do setor
primário para outros setores da economia", diz Pernambuco.
A
queda do PIB da agropecuária tem motivos facilmente
identificáveis. O primeiro é a frustração de safra,
principalmente devido à seca na região Sul, forte produtora de
grãos. Dados oficiais apontam para uma redução de 18,2 milhões
de toneladas na colheita de grãos e fibras na mais recente safra,
na comparação com as projeções iniciais. Dados da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que o Brasil deverá
colher 113 milhões de toneladas este ano, queda de 4,6% na
comparação com as 119 milhões de toneladas do ano passado. A
colheita foi menor, mas o produtor ampliou a área plantada de
47,3 milhões de hectares para 48,4 milhões de hectares. Na
prática, o agricultor gastou mais, investiu mais pesadamente na
lavoura e perdeu na colheita, tendo como resultado final a perda
de renda no campo. Os preços pagos pela soja, em março deste
ano, eram 47,12% mais baixos que os praticados em igual mês do
ano passado. Os preços pagos pelo algodão caíram 35,7%; e os do
arroz, 31,2% menores. No mesmo período, os custos de produção,
subiram 12%.
Além
da retração imediata no PIB, a crise no campo pode surtir
efeitos em médio prazo. "Produtores que trabalham com
lavouras que este ano operaram com prejuízo, como arroz, trigo,
milho, soja e algodão, devem reduzir a área plantada", diz
Pernambuco. A crise no campo também pode ser medida por meio dos
números do faturamento dos 25 principais produtos da
agropecuária. Conforme conceito do Valor Bruto de Produção (VBP),
o faturamento do setor deverá atingir R$ 168 bilhões em 2005,
queda de 14,5% na comparação com os R$ 197 bilhões do ano
passado. A perda no faturamento, portanto, é de R$ 28,6 bilhões.
O VBP da soja deverá cair de R$ 41,2 bilhões para R$ 25,1
bilhões, queda de 39,1%. A retração deve-se principalmente à
redução dos preços médios pagos pela produção agrícola,
explica Pernambuco. |