Jornal Folha de Londrina

Conquistas pelo
poder da mobilização

Este é um país onde obrigações do governo
ainda devem ser cobradas

É um espetáculo de cidadania e de democracia o que se assiste em Brasília, com o acampamento dos agricultores em busca de socorro governamental. São vinte mil produtores rurais concentrados, visando sensibilizar os governantes para as necessidades da agricultura, segmento que garante a produção de alimentos e que se afigura como o mais importante e indispensável do setor produtivo nacional. Essa mobilização demonstra que, independente dos resultados que venha obter, é a única fórmula de alcançar conquistas num país de governos desatentos para os setores da produção.

A imagem de toda essa gente reunida na capital da República com um mesmo objetivo mostra que os ideais não morreram e que os cidadãos, mais que qualquer outro poder, constituem uma poderosa força quando decidem unir-se em defesa de suas causas. E defender a agricultura é defender os interesses maiores da pátria, porque é este setor que garante a segurança alimentar, sem a qual não há subsistência, e quando este requisito é atendido os demais benefícios virão como natural consequência.

Já foi dito sabiamente que se as cidades perecerem, o campo subsistirá, mas se este capitular as cidades não sobreviverão. Por mais que o produtor rural reivindique, isto é sempre pouco, porque a lavoura e as atividades afins correspondem com respostas positivas e sempre generosas, em forma de grandes colheitas, de produção de impostos, de geração de empregos. Sem desprezo pelos outros setores da produção e de serviços, investir no campo é retorno garantido, que ocorre pela semeadura e multiplicação de riquezas e do bem-estar social.

Os agricultores pedem ampliação das linhas de crédito, renegociação das dívidas com o próprio Governo, fortalecimento do orçamento do Ministério da Agricultura e da Pecuária, autorização para importação de produtos agroquímicos, recursos para o seguro rural e aprovação das propostas do setor para a safra 2005/2006. São pleitos que o Governo pode atender, mesmo ante a relutância do poderoso ministro da Fazenda, o guardião das chaves do Tesouro mas pouco conhecedor das coisas do campo e de sua importância para a estabilidade econômica e para a própria segurança nacional.

Sem luta não há conquistas, e quando se trata com governos o caminho é este, porque o que deveria ser um processo natural, por parte dos poderes públicos, tem que ser obtido pela força. Não deveria ser assim, mas esta é a linguagem que os homens públicos entendem. Há que louvar essa decisão dos produtores rurais de organizar-se e marchar até Brasília, ordeiramente mas com o vigor que marca a sua têmpera.

Um único movimento não é o suficiente, porque essa prática deve ser constante, e não apenas por parte da agropecuária mas de todos os setores produtivos. Este é ainda um país onde as obrigações do Governo precisam ser cobradas e, se necessário, pela força da mobilização e pelo grito.


Boletim Informativo nº 871, semana de 04 a 10 de julho 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

VOLTAR