Produtores Rurais ocuparam
a Esplanada dos Ministérios

Mais de dez mil produtores rurais se reuniram na Esplanada dos Ministérios em Brasília compondo um cenário aparentemente comum nestes últimos dias na capital federal, mas de extrema tranqüilidade em relação à movimentação dos agricultores e suas máquinas pela cidade. Mais de três mil tratores, além de caminhões e ônibus davam idéia da adesão do setor ao movimento. Segundo avaliação da Polícia Militar do Distrito Federal, a movimentação dos agricultores não causou nenhum transtorno na capital federal. O "Tratoraço" acontece em plena ordem e tranqüilidade, garantem oficiais da PM.



A organização marcou a entrada dos produtores rurais na Esplanada dos Ministérios. Eles saíram da Granja do Torto, local da concentração, na noite de segunda-feira, 27. O comboio, de três mil tratores e 300 caminhões, se deslocou pela rodovia DF 040. À meia-noite, o primeiro trator estacionou no canteiro central da Esplanada. O tratoraço foi recebido com uma grande festa por centenas de produtores rurais que já estavam acampados desde cedo no local. O encontro de manifestantes a pé e dos produtores em seus tratores foi considerado o momento mais emocionante, quando também foi executado Hino Nacional. Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP), Ágide Meneguette, a movimentação dos produtores rurais revela uma crise que o Governo Federal insiste em ignorar e que pode se agravar caso não se adote nenhuma medida para solucioná-la. "É importante que os agricultores mostrem sua indignação e reivindiquem condições melhores para trabalhar e produzir", afirmou Meneguette.

Ele lembrou que há mais de uma década a agropecuária tem sido a responsável pelos números positivos de crescimento do PIB nacional. "Já foi classificada de âncora verde da economia brasileira, responsável pela manutenção dos níveis de crescimento da economia enquanto outras atividades estavam em estagnação ou mesmo em queda".

O presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Ernesto de Salvo, disse que as medidas solicitadas pelos produtores rurais para reverter a atual crise do setor agropecuário são "exeqüíveis" porque o segmento gera negócios da ordem de R$ 170 bilhões, mas as dificuldades englobam um volume de recursos que podem variar entre R$ 5 bilhões e R$ 26 bilhões. "Não se trata de um tsunami agrícola", enfatizou.

O presidente da CNA, Antonio Ernesto de Salvo, declarou que "se o setor não tiver o apoio não vai plantar outra safra e que o governo tem recursos para ajudar os produtores a enfrentar a crise". Ele ressaltou que o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, tem se destacado como interlocutor do produtores rurais junto ao governo federal, embora fique limitado pelo orçamento pouco representativo, cerca de 0,8% do total. "Ele tem ajudado muito e será fundamental no acerto que pretendemos ter", completou.

Antônio Ernesto de Salvo disse que o Brasil é o país agrícola mais competitivo do mundo, mas funciona como uma indústria a céu aberto, sujeito a intempéries do clima e que precisa de apoio em momentos de instabilidade. "O produtor não é Jeca Tatu. Ele é competitivo, usa tecnologia e não forma cartel, mas é vítima da concentração de mercado", enfatizou. Ele defendeu que no mundo inteiro o negócio agrícola é feito de altos e baixos e necessita de proteção. "É por isso que no mundo inteiro se dá US$ 1 bilhão para sustentar a renda na agricultura", disse de Salvo, referindo-se aos subsídios que os países desenvolvidos concedem anualmente ao setor.

De acordo com De Salvo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu divulgar uma decisão oficial sobre as reivindicações apresentadas pelo setor produtivo rural.

Ele reconheceu que o momento atual de instabilidade política não favorece o Tratoraço, mas lembrou que agricultura tem seu tempo. Antônio Ernesto de Salvo lembrou que dentro de um mês os produtores terão que começar a preparar a terra para semear as lavouras. Em outubro os agricultores iniciam o plantio da próxima safra agrícola. "Nosso problema é agudo por causa do tempo. A hora para o movimento é péssima, mas é a única que temos".


Boletim Informativo nº 871, semana de 04 a 10 de julho 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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