Além
de chamar a atenção das autoridades para os problemas que geram
a crise e trazer propostas de solução, os agricultores chegaram
com a missão de mostrar os efeitos que esta crise pode trazer
não só para o setor produtivo, mas para toda a sociedade.
Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), a renda gerada dentro da porteira da fazenda é estimada em
R$ 150,69 bilhões para 2005. Para outros setores responsáveis
pela venda de insumos, serviços, processamento dos alimentos e
transporte, a renda foi projetada em R$ 536,7 bilhões.
A
CNA avalia que a crise da agropecuária terá reflexo negativo
principalmente sobre o PIB (Produto Interno bruto) nacional, a
geração de emprego, os baixos preços dos alimentos, as
exportações agropecuárias e a arrecadação tributária. A
queda na produção, combinada com a redução dos preços reais
recebidos pelos produtores e aumento do custo de produção
reduziram a renda da agricultura mensurada pelo PIB. Considerando
apenas as lavouras, com base nas informações até março, o PIB
projeta queda de 10,5%, o que representa uma redução de renda de
R$ 95,43 bilhões em 2004, para R$ 85,40 bilhões em 2005, com
perdas de R$ 10 bilhões aos agricultores. O setor agropecuário
é responsável por 30% do PIB nacional.
Segundo
dados do Ministério do Trabalho e Emprego, de janeiro a maio
deste ano o segmento rural já deixou de contratar 30,6 mil
trabalhadores. Nos cinco primeiros meses de 2005, o setor gerou
107,1 mil empregos, enquanto em igual período do ano passado
foram criados 137,9 mil. "A forte retração de demanda por
insumos modernos e máquinas também afetarão negativamente a
geração de empregos nos demais segmentos da cadeia
produtiva", aponta a CNA.
A
crise afeta mais fortemente alguns setores, em especial as
culturas de soja, arroz, milho, algodão, trigo, feijão, vinho e
bovinocultura de corte. No caso do algodão, a redução no
faturamento bruto foi de R$ 1,5 bilhão, em decorrência da queda
de 35% dos preços médios nacionais. O arroz registrou uma queda
de R$ 3,1 bilhões no faturamento bruto em relação às vendas do
ano passado, devido aos preços baixos e competição com o arroz
importado do Mercosul. Além disso, os atuais preços de mercado
estão muito abaixo do custo de produção.
Na
cultura do milho, a queda da receita bruta é de R$ 3,9 bilhões
em relação às vendas da safra passada e os preços de
comercialização em diversos estados não cobrem as despesas dos
produtores com o plantio. O mesmo acontece com a soja, cujo valor
bruto da produção caiu R$ 16,1 bilhões na comparação com o
ano passado. Na pecuária bovina, o aumento dos custos de
produção e a queda nos preços de comercialização levaram a
uma queda de R$ 2,5 bilhões no valor bruto da produção. A
capacidade financeira de produtores de trigo, mandioca, feijão,
frutas e outros produtos também caiu significativamente.
A
perda de 18,2 milhões de toneladas registradas na safra 2004/2005
também influenciou na crise no setor agropecuário. Os produtores
investiram o suficiente para ter uma produção de 131,9 milhões
de toneladas, mas problemas climáticos como a seca na região Sul
e irregularidades de chuvas no Centro-Oeste reduziram a produção
para 113,6 milhões de toneladas. Segundo a Companhia Nacional de
Abastecimento, a redução projeta um prejuízo de até R$ 10
bilhões. A falta do seguro agrícola, na avaliação dos
produtores, piora o quadro.
A
defasagem cambial prejudica os produtores na medida em que
compraram os insumos para plantar a safra 2004/2005 com o dólar
cotado entre US$ 3,20 a US$ 3,40, aumentando em 12%, em média, o
custo de produção. Agora, no momento da comercialização, o
câmbio caiu 23,5%, para apenas US$ 2,40. Isso levou ao
endividamento dos agricultores junto aos fornecedores de
defensivos, fertilizantes e outros insumos. Este é o cenário que
foi apresentado em Brasília.
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