Protesto reúne produtores em vários pontos do Brasil
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| Produtores rurais de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Tocantins foram hoje às ruas para denunciar a crise que atinge a agropecuária. Também aderiram ao movimento produtores do triângulo mineiro, oeste da Bahia, sul do Piauí, sul do Maranhão e nordeste do Pará. Os produtores mostraram que segmentos do setor rural enfrentam problemas de renda, devido à combinação de problemas como fatores climáticos (estiagem em várias regiões ou chuvas excessivas em outros pontos do País); baixos preços pagos pela produção, depois da colheita, que não cobrem os custos de produção; além da defasagem cambial, gerando um quadro |
que dificulta a quitação de operações de crédito rural. Para denunciar o cenário de crise no campo e esclarecer que é necessário implantar medidas emergenciais para garantir condições de plantio para a próxima safra, os produtores realizaram protestos regionalizados, em vários municípios. O protesto foi realizado de forma regionalizada justamente para apresentar as dificuldades específicas de cada local. No Rio Grande do Sul, por exemplo, um dos principais problemas foi a seca, que derrubou a |
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| colheita de grãos. No Pará, produtores de arroz enfrentam preços de venda abaixo do custo de produção. “O agricultor que está pedindo refinanciamento é o mesmo que gerou US$ 34 bilhões na balança comercial”, disse o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Ernesto de Salvo. Ele ressaltou que a crise atinge segmentos específicos, e não a agropecuária, de forma generalizada. As áreas de café e cana-de-açúcar, por exemplo, passam por momento positivo, com recuperação de preços. Mas os setores de grãos, como soja e arroz, principalmente nas áreas |
atingidas pela seca, precisam de atenção especial. “Agricultura é assim mesmo, com altos e baixos, anos bons e anos ruins. O poder público entra nesse processo amenizando essas oscilações, dando ao produtor viabilidade para que ele continue produzindo, empregando, gerando moeda forte”, afirmou Antônio Ernesto de Salvo. Em Goiás, o protesto dos produtores ocorreu em cerca de cem municípios, em todas as regiões, explica Osvaldo Guimarães, da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). Os diretores da Federação dividiram-se para percorrer todo o Estado, e os protestos se concentraram no período da tarde. “Muitos municípios paralisaram as atividades a partir do meio dia, manifestando apoio aos produtores”, diz Guimarães. Rio Verde e Itumbiara foram os locais com maior concentração de produtores. Em Itumbiara, os produtores se deslocaram para a BR 153, interrompendo o tráfego na ponte sobre o rio Paranaíba. Protestos dos produtores ocorreram também em municípios como Formosa, Uruaçu, Porangatu e Cabeceiras, com o apoio de prefeituras e câmaras municipais, além da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura. Guimarães explica que em Goiás muitos produtores enfrentaram problemas com a seca, com perdas na colheita. Além disso, compraram insumos quando o dólar estava cotado a R$ 3,20 e agora vendem a produção com cotação de aproximadamente R$ 2,40 por dólar. “O custo de produção de uma saca de soja é de R$ 31,50, mas o preço de mercado gira entre R$ 25 a R$ 26, ou seja, não cobre as despesas”, diz Guimarães. A descapitalização dos produtores, alerta, podem prejudicar o plantio da próxima safra. “Não há como planejar o plantio sem uma sinalização do Governo”, diz. Os produtores Rurais de Mato Grosso do Sul conseguiram adesão de mais de 40 entidades de classe para a mobilização. Foram entregues panfletos que explicam a crise do agronegócio, mostrando que os problemas no campo também atingem os setores de transporte, comércio e industria. “Todos os elos da cadeia do agronegócio estão com dificuldades e outros setores também sentem o reflexo disso, mas entre todas as perdas a pior delas é a esperança”, desabafa o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Léo Brito. Ao norte do Estado, o sindicato rural de São Gabriel do Oeste realizou panfletagem e distribuiu leite de soja para estudantes. Em Chapadão do Sul, a mobilização começou na segunda feira, com distribuição de panfletos no comércio local e ato público na praça do centro da cidade. No município, cerca de 500 produtores tiveram perdas na colheita entre 20% e 60% em suas propriedades. Os produtores de Coxim, Sonora, Pedro Gomes, Nova Alvorada do Sul, Fátima do Sul, Dourados, Maracajú, Vicentina, Itaporã, Dourados, Caarapó, Amambaí, Ponta Porá, Três Lagoas, Santa Rita do Pardo também participaram da mobilização. Na capital, os produtores realizaram concentração no Parque de Exposições Laucídio Coelho, de onde os produtores saíram em carreata pelo centro da cidade, culminando em um Ato Público na Câmara Municipal de Campo Grande, às 15h. No Rio Grande do Sul, 350 tratores, 118 ônibus, 262 caminhões foram reunidos em frente ao prédio do Ministério da Fazenda, em Porto Alegre, em protesto organizado pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). Os produtores se concentraram no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, e rumaram a Porto Alegre pela BR 116. Além do protesto na Capital, produtores rurais de Santa Vitória do Palmar e de Chuí colocaram tratores e colheitadeiras em diversos pontos da BR-471, devendo permanecer às margens da rodovia por três dias. Em Itaqui e São Borja, produtores de arroz também realizam protestos, principalmente contra a importação do grão da Argentina e Uruguai. Em São Paulo, lideranças do setor agropecuário da região de Palmital realizam a manifestação na rodovia Raposo Tavares (SP 270), reunindo cerca de 400 caminhões, tratores e máquinas agrícolas. Os produtores apontam problemas como aviltamento de preços (elevação dos custos de produção); adversidades climáticas, com quebra de produção; defasagem cambial; elevação de custos de produção; dificuldades de comercialização, além do comprometimento da safra de inverno pela estiagem. Nas lavouras de soja de Palmital, que teve a maior área plantada no Vale do Paranapanema, as perdas de produtividade chegaram a 38% e, além disso, houve cerca de 10% de perda de qualidade do produto colhido em razão da ocorrência de grãos verdes acima do limite tolerado na comercialização. A produtividade inicial era de 49 sacas por hectares, que caiu para 29 sacas por hectares, devido a fatores climáticos (excesso de chuvas em janeiro e seca em fevereiro) e ao ataque da ferrugem asiática. No Estado de São Paulo, a manifestação ocorreu também nos municípios de Ribeirão Preto, Votuporanga e Ourinhos. Em Tocantins, mais de 300 caminhões e máquinas agrícolas foram colocados na BR 153, no município de Guaraí, onde ocorreu o protesto dos produtores. A manifestação foi organizada pela Federação da Agricultura do Estado de Tocantins (Faet), em parceria com os sindicatos rurais. A presidente licenciada da Faet, deputada federal Kátia Abreu, vai levar ao Governo federal a “Carta de Tocantins”, com as reivindicações como o cancelamento das importações de arroz, priorizando a produção nacional; renegociação das dívidas securitizadas e solução para o endividamento dos produtores relativo à ultima safra, quando houve frustração de colheita. No Estado, o encerramento da manifestação ocorreu no início da tarde, com a leitura do manifesto dos produtores e pronunciamento da deputada Kátia Abreu. |
Boletim Informativo nº 867, semana de 6 a 12 de junho de 2005 | VOLTAR |