SOS do campo reúne milhares de
produtores rurais em Londrina


O protesto dos produtores mobilizou aproximadamente 250
ônibus, 300 tratores, 200 caminhões e acima de 500
veículos do Norte, Noroeste, Centro-Oeste, Sudoeste e Oeste

Osmar Dias e o deputado federal Abelardo Lupion, além do presidente da Assembléia Legislativa do Paraná, Hermas Brandão, e o deputado estadual Luiz Nishimori. Ainda prestaram apoio ao documento presidentes dos Sindicatos Rurais, prefeitos e vereadores da região, assim como representantes do comércio de insumos e equipamentos agrícolas.

Mais de 12 mil produtores rurais fizeram manifestação em Londrina semana passada (31/05) para denunciar a crise que atinge o setor agropecuário e pedir medidas efetivas de socorro  por  parte  do  Governo  Federal.    Eles

aprovaram a “Carta do Paraná”, um documento que aponta medidas urgentes para enfrentar a crise no campo. A mobilização fez parte de um movimento nacional dos produtores que se vêem endividados e sem condições de pagar financiamentos junto às cooperativas e fornecedores de insumos. A crise é resultado de uma conjugação de fatores adversos: seca, dólar desvalorizado e baixos preços das commodities agrícolas, além de recursos escassos para o crédito agrícola.

As mobilizações ocorreram em catorze estados brasileiros. No Paraná houve protestos organizados nas ruas de Londrina, Pato Branco, Ivaiporã e Nova Cantu. Em Londrina, a Polícia Militar estimou o número de participantes em mais de 12 mil. O ato mobilizou ainda 250 ônibus, 300 tratores, 200 caminhões e acima de 500 veículos do Norte, Noroeste, Centro-Oeste, Sudoeste e Oeste. Em Ivaiporã, região central, 1.200 agricultores também fizeram o SOS do Campo.

A “Carta do Paraná” recebeu o apoio dos milhares de produtores e das principais entidades representativas do setor agropecuário, como a Federação da Agricultura do Paraná (FAEP), a Organização das Cooperativas do Paraná (OCEPAR), e as Sociedades Rurais do Paraná (SRP). Participaram do manifesto o senador Osmar Dias e o deputado federal Abelardo Lupion, além do presidente da Assembléia Legislativa do Paraná, Hermas Brandão, e o deputado estadual Luiz Nishimori. Ainda prestaram apoio ao documento presidentes dos Sindicatos Rurais, prefeitos e vereadores da região, assim como representantes do comércio de insumos e equipamentos agrícolas.

Entre as reivindicações dos produtores, a principal é o refinanciamento das dívidas da categoria junto às cooperativas e fornecedores de insumos com juros do crédito rural: 8,75% ao ano. Conforme levantamentos apresentados no protesto, o crédito rural oficial cobre não mais de

35% dos custos de produção. O restante é rateado com recursos dos próprios produtores, de cooperativas e fornecedores de insumos.

Histórico da crise - Os agricultores plantaram a safra 2004/2005 com o dólar a R$ 3,10. Tiveram, ainda, custo de produção 25,5% maior. Ao colher, os preços internacionais haviam despencado e o dólar desvalorizado para menos de R$ 2,50. A moeda americana continua caindo. Além disso, uma das maiores secas já registradas no Estado diminuiu em 20% a colheita, provocando prejuízo de R$ 2,3 bilhões



Produtores protestam em Londrina.

e produção cessante superior a 5 milhões de toneladas.

Diz o documento: “Existe forte inadimplência junto a fornecedores de insumos, fora o que foi perdido com a aplicação de recursos próprios. Os financiamentos oficiais estão sendo alongados – não como seria desejável e necessário, mas pelo menos ajudam a desafogar em parte a



Senador Osmar Dias fala aos agricultores

 situação. Com a quebra de safra e a queda de preços, os produtores não têm como saldar esses débitos e estão sendo pressionados”.

A Carta do Paraná pede recursos urgentes do Governo Federal para refinanciamento dos débitos junto a fornecedores de insumos. Se isto não acontecer, os produtores ficarão inadimplentes e não terão condições de plantar a próxima safra com o nível tecnológico necessário. Os fornecedores de insumos, por sua vez, não conseguirão financiar a sua parte em complemento ao escasso crédito rural.

Unidade na adversidade

A grande mobilização dos produtores no Paraná, e em outros 13 estados brasileiros, na semana passada, foi um sinal inequívoco da sintonia fina hoje existente entre o Sistema Sindical Rural e seus representados. Foi também uma demonstração de maturidade e cooperação entre as entidades representativas da agropecuária, como a FAEP, a OCEPAR e as Sociedades Rurais.

Aos milhares, nossos agricultores atenderam à convocação, demonstraram confiança em seus líderes, se dispuseram a viajar, a adiar compromissos para lutar pelo bem comum.

Esta unidade não surgiu da noite para o dia nem tem como pano de fundo qualquer cor partidária ou política. É fruto de um trabalho árduo, contínuo e organizado para defender os produtores de maneira idônea em todas as instâncias – políticas, econômicas e sociais.

O Sistema Sindical Rural continuamente trava batalhas, muitas vezes nos bastidores e sem alarde, para garantir que os direitos e interesses dos produtores sejam respeitados. Mas a luta em campo aberto, como aconteceu em Londrina, ainda que num momento de crise, traz a satisfação ímpar de pelejar lado a lado com nossos produtores. A CNA, a FAEP, o SENAR-PR e os Sindicatos Rurais vão ajudar a agropecuária a vencer mais esta luta.

Propostas emergenciais

O documento lido e aprovado por milhares de produtores rurais no manifesto de ontem, em Londrina, pede, em caráter emergencial:

* Recursos para prorrogação dos financiamentos obtidos pelos produtores junto às cooperativas e demais fornecedores, originários da aquisição de insumos agrícolas, para o plantio da safra 2004/05 e plantio de safrinha de 2005;

* Desconsiderar os débitos prorrogados para efeito de cômputo dos limites de crédito para as cooperativas e produtores junto aos agentes financeiros;

* Agilizar a liberação de recursos para operações de pré-custeio da safra 2005/2006;

* Implementar, imediatamente, as medidas aprovadas pelo governo para prorrogação dos débitos de custeio e investimentos.;

* Restabelecer a Política de Garantia do Preço Mínimo, cumprindo o mecanismo de Aquisição do Governo Federal (AGF) e Empréstimo do Governo Federal (EGF);

* Renegociar as dívidas de produtores e cooperativas referentes ao Pesa, Recoop e Securitização;

* Permitir a prorrogação automática dos financiamentos de repasse feito pelas cooperativas agropecuárias aos seus associados conforme previsto no MCR 6.2 e MCR 6.4, bem como, a prorrogação dos financiamentos obtidos pelas cooperativas junto aos fornecedores de insumos em regiões afetadas pela estiagem.;

* Aprovar rapidamente os processos de reconhecimento de Estado de Emergência em municípios afetados pela seca.;

* Agilizar a aprovação dos recursos advindos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que se encontram em negociação junto ao Governo Federal, para viabilizar a renegociação das dívidas dos agricultores;

* Suplementar o orçamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em pelo menos R$ 1 bilhão em 2005. Ainda são necessários, adicionalmente, mais R$ 60 milhões para apoio aos programas de sanidade agropecuária e R$ 100 milhões para subvenção ao prêmio do seguro rural.


Boletim Informativo nº 867, semana de 6 a 12 de junho de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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