Apoio para a agricultura

Após uma fase de hesitação, o governo federal, finalmente, anunciou que vai socorrer a agropecuária, afetada neste ano por um ciclo de dificuldades que reduziram a safra de cereais, fibras e oleaginosas para pouco mais de 113 milhões de toneladas, em vez dos 130 milhões esperados. O pacote de benefícios em exame pelas autoridades de Brasília inclui a renegociação dos débitos pendentes do crédito rural, auxílio de emergência para a agricultura familiar e para produtores que plantaram com recursos próprios, além de linhas especiais do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Ele vem em boa hora para evitar o comprometimento da safra do período 2005-06.

Ao visitar a região produtora de Ribeirão Preto no interior paulista, conhecida como “Califórnia brasileira”, o ministro da Agricultura se surpreendeu com o balanço das perdas e o desânimo dos agricultores e empresários envolvidos na cadeia do agronegócio. As últimas notícias da quebra da safra divulgadas pelo IBGE estavam frescas, confirmando “a crise de maior gravidade em 40 anos”, segundo referiu o sr. Roberto Rodrigues. É que ao lado da quebra da safra por força da estiagem, o campo enfrentou baixo preço das “commodities”, elevação do custo dos insumos, juros proibitivos, câmbio defasado e logística sucateada, num turbilhão exponencial de problemas que pode afastar o país dos superávits acumulados em anos anteriores.

De fato, segundo o IBGE, a projeção de safra foi reduzida para 116,3 milhões de toneladas de cereais, fibras e oleaginosas – quando em janeiro se esperava um volume recorde de 130 milhões. Os dados tabulados por outros órgãos são ainda mais severos, projetando uma colheita de apenas 113 milhões de toneladas; porque, além das culturas principais de verão, ainda foi atingida a “safrinha”, que vai até o outono, com uma geada fora de tempo e um veranico que se prolongou até a semana passada.

A carência de boas chuvas no período certo para a safra afetou não apenas o Brasil, como outros países no Centro-Sul do continente – Paraguai, Uruguai, Chile e Argentina – causando dificuldades para o abastecimento de água às populações urbanas e ônus no suprimento de energia, além de obstáculos a outras atividades. Mas os prejuízos foram mais intensos sobre a safra de verão, com quebra de mais de 15% nas principais culturas comercializáveis, dos grãos à cana-de-açúcar, produção de café, carnes e outros itens agrícolas. As conseqüências desse ciclo de estiagem foram captadas pelos índices de preços, assinalando mais inflação no primeiro trimestre e desencadeando demissões num setor que se mantinha ativo nos últimos três anos.

Porém, mesmo assim, os embarques programados fazem prever um superávit de divisas geradas com o agronegócio da ordem de 35 bilhões de dólares, ante os 34 bilhões do ciclo anterior – segundo o Departamento de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Essa extraordinária participação no saldo comercial do país, além de outros efeitos internos (abastecimento alimentar, estabilidade de preços, ocupação da mão-de-obra, etc.), levaram o governo a se mobilizar: uma redução da intenção de plantio para o ciclo 2005-06 seria sob todos os aspectos inoportuna.

O Paraná, em especial, deve evitar a retração da atividade agropecuária, porque o estado é o maior produtor regional de milho e trigo, o segundo em soja e um dos mais importantes em cana-de-açúcar e carnes e assim por diante.

A propósito, na visita oficial desta semana à Coréia do Sul e o Japão, o presidente Lula leva propostas importantes para mais intercâmbio agrícola, como a demonstração da viabilidade do carro bicombustível que permitiria a exportação anual de 2 bilhões de álcool carburante, além de frutas, carnes e grãos, para aqueles países. Em conclusão, dadas as nossas características de território, incorporação de tecnologia agrícola e acesso a mercados, a garantia da lavoura é de interesse vital para o Brasil hoje e no futuro.

 

Transcrito do jornal Gazeta do Povo, de 23 de maio de 2005

Boletim Informativo nº 866, semana de 30 de maio a 5 de junho de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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