Paraná pede ampliação das medidas
de socorro ao setor agropecuário

Em audiência da Comissão Permanente da Agricultura da Câmara Federal realizada em Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro) dia 2, a FAEP e a Ocepar entregaram ao presidente da Comissão, deputado Ronaldo Caiado, documento sobre a crise da agropecuária do Paraná. A relação dos problemas do setor produtivo rural embasou o documento final do encontro, intitulado Carta do Norte Pioneiro, contendo quase duas dezenas de reivindicações para amparar os agricultores de todo o Sul do País.

O diretor-financeiro da FAEP, João Luiz Rodrigues Biscaia, representou a Federação da Agricultura do Paraná no evento. De acordo com o diretor Biscaia,

o documento foi muito bem recebido pelo deputado Caiado e parlamentares que o aprovaram por unanimidade e o transformaram em documento oficial da Comissão. Constam deste levantamento, os problemas que os produtores rurais enfrentam decorrentes não apenas da estiagem como do aumento dos custos de produção em mais de 20% na safra que está sendo colhida, e da queda dos preços internacionais. A audiência pública da Câmara Federal foi iniciada de manhã.

A tarde a comitiva da agropecuária paranaense esteve com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, para entregar em mãos a Carta do Norte Pioneiro, acompanhada de ofício conjunto da FAEP, OCEPAR e Governo do Estado, de propostas e um plano de apoio para amenizar a crise do setor produtivo.

A elaboração dos pedidos foi uma sugestão dos presidentes da OCEPAR, João Paulo Koslovski; da FAEP, Ágide Meneguette. Para o presidente da OCEPAR, se não for colocado em prática um plano de apoio aos produtores e às empresas de agronegócio, os efeitos da estiagem poderão ser sentidos ainda nas próximas safras.

A maioria dos deputados da comissão e dos líderes da cadeia produtiva do Paraná – que também estiveram presentes na reunião – acreditam que os mais de R$ 1 bilhão liberados para socorrer os agricultores do Sul não são suficientes para recuperar o que foi perdido este ano.

Para o presidente da Comissão, deputado Ronaldo Caiado, a interrupção de um período de recordes na safra agrícola e a quebra de mais de 12 milhões de toneladas na região Sul, Sudeste e Centro Oeste devem ser considerados pelo Governo Federal. Ele acredita que somente com o debate é que se chegará a uma solução que não penalize os produtores rurais.

A proposta da comissão é promover ainda neste semestre outras reuniões em vários estados para se elaborar um mapa da situação em todo o Brasil

O Paraná enfrenta problemas advindos da estiagem, que reduziu em 23,40% a produção de soja e em 7,01% a safra de milho, além da possibilidade de uma queda de 20% da área plantada com o safrinha.

Participaram do encontro com o ministro os deputados Abelardo Lupion e Eduardo Sciarra (PR), o vice-presidente da Comissão, deputado Luiz Carlos Heinze (RS), deputada Kátia Abreu (TO), Waldemir Moka (MS), Onyx Lorenzoni (RS) e Alberto Fraga (DF) Senador Osmar Dias (PR), o presidente da Assembléia Legislativa do Paraná, Hermas Brandão, os deputados estaduais Hermes Fonseca Filho (PT) e Homero Barbosa (PDT), o presidente da Associação dos Municípios do Paraná, Juarez Henrich, o presidente da Associação dos Municípios do Norte Pioneiro, Luiz Farias, o prefeito José Ritti Filho, o presidente da Câmara de Vereadores platinense, Paulo Alcântara, prefeitos da região, dirigentes sindicais, vereadores e empresários do agronegócio em todo o Estado.

Leia a seguir os ofícios apresentados à Comissão Permanente da Agricultura da Câmara dos Deputados e a proposta com as reivindicações da Agropecuária do Paraná ao ministro Roberto Rodrigues.

Santo Antônio da Platina, 02 de Abril de 2005,

Excelentíssimo Senhor
Roberto Rodrigues

Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Brasília - DF

Senhor Ministro,

A agropecuária está atravessando uma séria crise devido ao aumento dos custos de produção superiores a 20% na safra que está sendo colhida, da queda dos preços internacionais das commodities atrelada ao câmbio com o Real valorizado, que resulta num preço desfavorável para o produtor, agravado com os problemas advindos da estiagem que reduziu a produção de soja em 23,40 % e do milho em 7,01 %, além de prejudicar o plantio do milho safrinha cuja redução de área deverá ser superior a 20%. O Governo Federal adotou medidas que foram importantes para amenizar as perdas, mas que não foram suficientemente abrangentes.

Em razão disso, solicitamos:

1. Contemplar o setor da pecuária na prorrogação dos financiamentos de investimentos com recursos do BNDES;

2. Conceder direito de prorrogação para os investimentos do BNDES que tem a última parcela vencendo em 2005 e que estão em municípios não reconhecidos como em estado de emergência, mas que sofreram perdas com a seca. Com a resolução 3.269 do CMN, estes mutuários ficaram de fora das medidas anunciadas;

3. Prorrogar o financiamento do custeio do algodão de forma similar ao concedido aos produtores de trigo, mesmo para aqueles que estão em municípios que não decretaram estado de emergência, porém sofreram perdas significativas com estiagem;

4. Liberar recursos para permitir a realização de PEP de algodão e contratos de opção de venda;

5. Definir urgentemente a política de cereais de inverno com a correção dos preços mínimos em vista do aumento dos custos de produção;

6. Não realizar os leilões via Conab para retirar do Estado 400 mil toneladas de milho pertencentes ao Governo Federal, estocados em Cooperativas e armazéns do Paraná, com o intuito de não afetar o futuro abastecimento interno paranaense;

7. Agilizar o lançamento do Programa de Capitalização das Cooperativas Agropecuárias e de Crédito (PROCAP), objetivando apoiá-las em vista que muitos cooperados não terão condições de pagar os insumos adquiridos com prazo de pagamento na colheita, devido às perdas pela estiagem.

8. Prorrogar para o final do contrato as parcelas de Securitização, Pesa, Recoop e Prodecoop que vencem em 2005, devido a falta de capacidade de pagamento pelos motivos já elencados.

9. Disponibilizar recursos para armazenagem e comercialização (PEP, AGF, EGF, LEC, Contrato de opção de venda), visando dar sustentação aos preços no mercado, permitindo escalonar a comercialização e garantir uma renda média maior para o setor produtivo, que já foi seriamente castigado pela estiagem.

Sabemos do esforço que o Ministério tem feito para colocar o Brasil na vanguarda da agropecuária mundial e contamos com o seu empenho para aprovarmos as medidas necessárias em socorro aos produtores.

Atenciosamente,

Ágide Meneguette
Presidente da Federação da Agricultura
do Estado do Paraná – FAEP

João Paulo Koslovski
Presidente do Sindicato e Organização
das Cooperativas do Estado do Paraná - OCEPAR

Orlando Pessuti
Vice-Governador e Secretário de Estado da
Agricultura e do Abastecimento - SEAB

 

Santo Antônio da Platina, 02 de Abril de 2005

Excelentíssimo Senhor
Deputado Federal Ronaldo Caiado

Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e
Desenvolvimento Rural da Câmara Federal
Brasília – DF

Senhor Presidente,

Na oportunidade em que a Comissão de Agricultura da Câmara Federal se reúne em Santo Antônio da Platina, as entidades que representam as cooperativas e os produtores rurais do Paraná desejam levantar alguns problemas que julgam de grande importância para a agropecuária.

Apoio à Agropecuária

A agropecuária está atravessando uma séria crise devido ao aumento dos custos de produção superiores a 20% na safra que está sendo colhida, da queda dos preços internacionais das commodities atrelada ao câmbio com o Real valorizado, que resulta num preço desfavorável para o produtor, agravado com os problemas advindos da estiagem que reduziu a produção de soja em 23,40 % e do milho em 7,01 %, além de prejudicar o plantio do milho safrinha cuja redução de área deverá ser superior a 20%. O Governo Federal adotou medidas que foram importantes para amenizar as perdas, mas que não foram suficientemente abrangentes.

1. Contemplar o setor da pecuária na prorrogação dos financiamentos de investimentos com recursos do BNDES;

2. Conceder direito de prorrogação para os investimentos do BNDES que tem a última parcela vencendo em 2005 e que estão em municípios não reconhecidos como em estado de emergência, mas que sofreram perdas com a seca. Com a resolução 3.269 do CMN, estes mutuários ficaram de fora das medidas anunciadas;

3. Prorrogar o financiamento do custeio do algodão de forma similar ao concedido para os produtores de trigo, nas regiões onde não foi decretado estado de emergência, mas sofreu perdas significativas com a estiagem;

4. Liberar recursos para permitir a realização de PEP de algodão e contratos de opção de venda;

5. Definir urgentemente a política de cereais de inverno com a correção dos preços mínimos em vista do aumento dos custos de produção;

6. Não realizar os leilões via Conab para retirar do Estado 400 mil toneladas de milho pertencentes ao Governo Federal, estocados em Cooperativas e armazéns do Paraná, com o intuito de não afetar o futuro abastecimento interno paranaense;

7. Agilizar o lançamento do Programa de Capitalização das Cooperativas Agropecuárias e de Crédito (PROCAP), objetivando apoiá-las em vista que muitos cooperados não terão condições de pagar os insumos adquiridos com prazo de pagamento na colheita, devido às perdas pela estiagem.

8. Prorrogar para o final do contrato as parcelas de Securitização, Pesa, Recoop e Prodecoop que vencem em 2005, devido a falta de capacidade de pagamento pelos motivos já elencados.

9. Disponibilizar recursos para armazenagem e comercialização (PEP, AGF, EGF, LEC, Contrato de opção de venda) visando dar sustentação aos preços no mercado permitindo escalonar a comercialização e garantir uma renda média maior para o setor produtivo que já foi seriamente castigado pela estiagem.

Em nível da Câmara Federal existem algumas matérias que são importantes para o setor agropecuário e que solicitamos apoio da comissão de agricultura da câmara Federal.

Código Florestal

O Congresso Nacional deverá apreciar proximamente o substitutivo do deputado Moacir Micheletto à Medida Provisória nº 2.166-67 de 2001, que altera o Código Florestal.

Os produtores rurais não podem concordar com os parâmetros em vigor, que, além das áreas de preservação permanente, inutilizam mais 20% da propriedade. Isto significa uma redução de 20% da produção e, conseqüentemente, da renda dos agropecuaristas.

Os produtores rurais não são contra a adoção de restrições em favor do meio ambiente, desde que elas guardem coerência com a realidade. Assim, se dispõem efetivamente a recuperar e manter as matas ciliares e as de encostas, mas insurgem-se contra exageros como os de abandonar parte significativa de suas propriedades, reduzindo a produção. Isto não interessa à sociedade, que precisa do setor para se alimentar e para obter divisas. Como está hoje o Código Florestal, um grande número de propriedades terá até metade de suas áreas comprometidas com reservas florestais intocáveis, o que não tem absolutamente qualquer sentido econômico e social.

Desta forma, nossa solicitação é no sentido de serem introduzidas mudanças no Código Florestal que não prejudiquem a produção agropecuária, evitando-se os exageros nele contidos. O bom senso deve prevalecer ao radicalismo ambientalista.

Infra-estrutura

Uma substancial parte do valor bruto da produção gerado pela agropecuária é perdido em rodovias sucateadas, pedágios caros, ferrovias ineficientes, portos obsoletos que cobram tarifas exorbitantes. O Governo Federal, contudo, retém em seus cofres recursos da CIDE, contribuição instituída com a finalidade única de investimento na infra-estrutura de transporte. São exemplares algumas ocorrências recentes, como a queda de uma ponte na rodovia Regis Bittencourt, entre Curitiba e São Paulo - que por sinal ainda tem um longo trecho em pista única -; a queda de uma ponte no trecho ferroviário Curitiba-Paranaguá e inúmeros acidentes provocados pela falta de manutenção e de investimentos, problemas operacionais sérios no porto de Paranaguá onde o Governo Federal não investe um só tostão há mais de 15 anos, embora seja o segundo porto em importância do País.

São problemas graves, que encarecem o transporte de produtos agropecuários no Paraná, razão pela qual solicitamos a intervenção dessa Comissão no sentido de exigir do Governo Federal a correta aplicação dos recursos da CIDE e atendimento às demandas de infra-estrutura do Paraná, cujos pontos principais são:

  • Recuperação da malha rodoviária;

  • Conclusão da duplicação do trecho da Regis Bittencourt entre Curitiba e São Paulo;

  • Programa de investimentos ferroviários para:

  • Eliminar o gargalo entre Guarapuava e Ponta Grossa, que reduz a capacidade de escoamento ferroviário da região oeste do Estado;

  • Construção de novo traçado Curitiba-Paranaguá;

  • Revisão do contrato de concessão com a ALL;

  • Viabilização de recursos para investimentos no porto de Paranaguá para torná-lo mais ágil e atender à crescente demanda.

Reforma Sindical

O Governo Federal encaminhou ao Congresso Nacional projeto - de emenda constitucional e de lei - de Reforma Sindical. As duas proposições são inaceitáveis pelos motivos que expomos a Vossa Excelência.

O Governo diz no encaminhamento dos projetos que eles são o resultado de consenso entre as partes envolvidas - o governo, trabalhadores e empregadores. Tal fato não é verdadeiro, uma vez que os projetos não refletem o que foi acordado nas inúmeras reuniões realizadas pelos Fóruns Trabalhistas.

Ao prometer reformas, o Governo Federal havia se comprometido a encaminhar por primeiro a reforma das Relações de Trabalho. Somente após a aprovação da nova legislação trabalhista é que se poderia erguer o edifício sindical que lhe deve corresponder. Sem reforma trabalhista não se pode cogitar seriamente de mudanças no sistema sindical.

Além disso, o Projeto de Emenda Constitucional tem, em seu bojo, propostas inadmissíveis, tais como:

  • Retorno à ingerência do governo nos sindicatos (inciso I-B da nova redação do artigo 8º), eliminada pela Constituição Federal de 1988;

  • Quebra da unicidade sindical - que repercutirá no projeto de lei dando força extraordinária às centrais sindicais e enfraquecendo os sindicatos de base e que já foi repudiada pelos fóruns que discutiram o assunto.

Obrigatoriedade de representação nas empresas com menos de 200 empregados.

Se aprovada a PEC, será dado curso ao projeto de lei que simplesmente liquida com o sindicalismo de base, não apenas pela multiplicação de sindicatos, mas também por atribuir às Centrais Sindicais o direito de criar os "sindicatos de representação derivada" em qualquer base territorial, sem respeitar os parâmetros exigidos dos sindicatos comuns; serão os sindicatos "chapa branca" mas que terão maior poder que os sindicatos legítimos. E mais, atribui às Centrais o direito de estabelecer negociações coletivas a nível nacional, tirando todo o poder dos sindicatos de base.

Estas são algumas das muitas distorções que a PEC e o Projeto de Lei introduzem na vida sindical brasileira que, se aprovadas pelo Congresso Nacional, representarão um retrocesso. Por esta razão, manifestamos a posição contrária à aprovação das duas propostas. Aperfeiçoar o atual sistema, dando-lhe mais transparência, é necessário, mas sem destruir uma construção que vem dando resultados há mais de 60 anos.

MP – 232

Em relação ao Projeto de Lei que vai ser elaborado pelo governo e encaminhado ao Congresso Nacional em substituição a MP 232, o setor não aceita que se impute qualquer alíquota a titulo de antecipação do imposto de renda.

Reforma Tributária

Está em discussão no Congresso Nacional a reforma tributária que tem como objetivo a unificação da legislação e das alíquotas do ICMS.

Ocorre todavia, que existem posições no sentido de se incluir na discussão da referida reforma a exclusão dos benefícios advindos da Lei Kandir.

Estes senhor Presidente, são alguns dos problemas que afligem o setor agropecuário do Estado do Paraná, embora a Comissão de Agricultura esteja realizando um extraordinário trabalho em favor dos produtores rurais. Por este nosso reconhecimento é que tomamos a liberdade de chegar até Vossa Excelência e a seus pares as reivindicações aqui expostas, na certeza de que o setor agropecuário terá o apoio necessário da parte de nossos representantes.

Ágide Meneguette
Presidente da Federação da Agricultura
do Estado do Paraná – FAEP

João Paulo Koslovski
Presidente do Sindicato e Organização
das Cooperativas do Estado do Paraná - OCEPAR


Boletim Informativo nº 859, semana de 11 a 17 de abril de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

VOLTAR