O grito da produção

Salazar Barreiros

O Centro de Convenções e Eventos de Cascavel se tornou no dia 19 de março palco de inédita manifestação dos agricultores do Paraná, que em número superior a dez mil pessoas, cobravam do governo do Estado bem como do governo federal que lhes dessem condições de paz e tranqüilidade para poderem continuar a produzir alimentos para este País, onde, ainda se assiste à morte principalmente de crianças, por absoluta falta de alimentação.

Fato inédito, sem dúvida, pois geralmente manifestações desse gênero, se destinam sempre a cobrar das autoridades constituídas, ora aumento de salários, ora moradia, ora segurança, ora redução de impostos e juros e etc, mas esta, pasmem os senhores leitores, só cobrava que os governantes tivessem bom senso, e, resolvessem de vez por todas o impasse e a intranqüilidade trazida ao seio da classe produtora, pelas famigeradas medidas que envolvem a questão da reserva legal florestal.

Uma análise simples da situação, mediante mero cálculo matemático nos leva à conclusão de que se forem aplicadas as regras instituídas pelo governo do Paraná; no tocante a essas Reservas, a maioria das propriedades rurais de nosso Estado estão fadadas a perderem condição de exploração agropecuárias em aproximadamente 54% (cinqüenta e quatro por cento) de sua extensão.

Ora, tal situação a persistir, se configura em claro e evidente confisco do patrimônio dos agricultores, ou quando não, em desapropriações indiretas de enormes áreas de terras produtivas e atualmente exploradas por milhares de mulheres e homens que sempre dedicaram suas vidas e de suas famílias ao trato da terra e à produção de alimentos, sem que o governo lhes oferecesse nenhuma compensação por esses atos manifestamente de arbítrio e desmando.

Como produtor rural, pretendo de maneira modesta conclamar a todos os produtores rurais do Estado do Paraná, para que se mantenham alertas e unidos, pois, o que assistiram no último sábado foi uma prova inequívoca da intranqüilidade que tomou conta da classe produtora rural do Estado, e, que através de seus órgãos representativos, quer sindicatos rurais, quer cooperativas de produtores, cobrem ações firmes, no sentido de sensibilizar o governo do Estado do Paraná a não virar as costas a quem dá ao próprio Estado a condição de maior produtor de grãos deste País.

Por outro lado, entende que, por medida de justiça, devamos parabenizar líderes sindicais da região Oeste do Paraná, a FAEP, Ocepar e as cooperativas de produção pela posição de apoio que assumiram frente a essa questão, estendendo nossas congratulações aos senhores deputados estaduais Duílio Genari, Elio Rushi e Reni Pereira; e federais Ricardo Barros, Dilceu Sperafico, Eduardo Sciarra e Moacir Micheleto, bem como ao senador Osmar Dias pela corajosa posição e pelos compromissos assumidos perante mais de dez mil produtores rurais deste Estado.

Esperamos que após essa pacífica e ordeira manifestação, que não teve qualquer marca político-partidária, o governo do Paraná, se curve perante o apelo dos agricultores, que no nosso modesto entender, pedem tão somente que lhes concedam o direito de continuar plantando, colhendo, criando, e, dando ao Paraná e ao Brasil, além de alimentos para seu povo, superávit em sua balança comercial.

Senhores governantes, entendam que neste dia 19 de março de 2005 o Oeste do Paraná, pela sua laboriosa classe produtora rural, ergue sua voz firme e forte para dar "O Grito pela Produção". Deixem-nos fazer o que sabemos: produzir e preservar o meio ambiente.

Salazar Barreiros é agropecuarista e ex-prefeito de Cascavel.
Artigo publicado no jornal Gazeta do Paraná, em 24/03/2005


Boletim Informativo nº 858, semana de 4 a 10 de abril de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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