A gestão da propriedade

Quanto custa a arroba de carne bovina produzida? Está havendo lucro ou prejuízo? Como estão os índices de produtividade da fazenda? Como estão os indicadores zootécnicos da propriedade? O que significa cada um dos indicadores? A partir dos indicadores qual a decisão a tomar?

São questões que, infelizmente, poucos produtores podem responder. Se não sabemos quanto custa produzir, como saber por quanto temos que vender nossa produção? Esta é uma questão crucial e antiga, não só na pecuária de corte mas na agricultura de uma maneira geral. Embora tenham sido despendidos grandes esforços neste sentido pelos técnicos ao longo do tempo, ainda há resistência por parte do agricultor e maior ainda por parte do pecuarista, talvez porque a administração rural ainda represente uma atividade "burocrática", chata e muito teórica para quem está acostumado com as coisas mais práticas. Na verdade é difícil porque ainda é algo desconhecido para o produtor.

È preciso mudar esse quadro. Não é uma mudança fácil nem rápida, mas é fundamental que o produtor se conscientize sobre a necessidade de ter o controle da situação, para ter resultado positivo com sua propriedade.

A gestão de uma propriedade envolve vários pontos, como: otimização dos recursos disponíveis (naturais, humanos, financeiros), qualificação da mão-de-obra, tecnologia, estratégia de aquisição de insumos, estratégia de venda de seu produto, anotações e controles.

De uma maneira mais simples, queremos destacar dois aspectos importantes na gestão da propriedade, que são complementares: técnico e o econômico.

O aspecto técnico - O aspecto técnico diz respeito à aplicação de procedimentos e análises que identificam o grau de eficiência técnica da propriedade, dando subsídios para a tomada de decisões. Começa a partir da melhor gerencia dos fatores de produção disponíveis em cada propriedade e pelo uso da tecnologia adequada a cada caso. O viés técnico talvez seja mais fácil de ser adotado porque usa uma linguagem mais concreta para o produtor. Os indicadores zootécnicos, como taxa de natalidade, taxa de desmame, taxa de lotação de pastagens, taxa de abate etc. são mais palpáveis, mas mesmo assim poucos sabem sua definição e o que se pode tirar dos deles.

São indicadores extremamente importantes e decisivos.

Um exemplo fácil de ser entendido e que demonstra a importância dos indicadores é o caso da idade da primeira cria, citado por Odílio Sepulcri – EMATER-PR, em "Gerenciamento da Propriedade leiteira", no qual o produtor tem duas vacas. Uma com primeira cria aos 24 meses e a segunda aos 48 meses. A primeira irá produzir durante toda sua vida aproximadamente 18.000 litros de leite, porque começa a produção mais cedo, enquanto que a segunda produzirá somente 12.000 litro. Contudo, o custo de manutenção de ambas será praticamente o mesmo. Esta diferença pode parecer absurda para muitos, mas é comum ainda em nosso Estado.

O aspecto econômico - O aspecto econômico está voltada para a análise financeira da propriedade, para as anotações diárias, para controles das despesas, à observância de custos de produção, para a melhor aplicação possível dos recursos do ponto de vista econômico e também na contabilidade das receitas auferidas.

O que acontece muitas vezes, quando tenta começar suas anotações e o faz de maneira complexa, é que o produtor se assusta com tanto papel ou com planilhas um tanto complicadas para quem não está acostumado, e logo desiste.

Por esse motivo é preciso começar devagar, com anotações simples, mas com disciplina e perseverança, e sempre que possível com o acompanhamento de um técnico.

No caso das anotações, o trabalhador rural assume um importante papel, pois muitas vezes será ele quem irá realizar as anotações diariamente, cabendo ao proprietário conferir periodicamente para verificar se as anotações estão corretas.

A falta de atratividade no exercício das anotações e a sua utilização como instrumento de gestão, aliada à falta de priorização para estes aspectos, fazem com que ela seja deixada para depois e nunca aconteça.

Assim como as demais mudanças necessárias, é preciso atitude no sentido de se iniciar e dar continuidade ao processo.

O destaque que estamos dando à gestão da propriedade é para que o produtor, racionalizando os seus recursos, possa dominar seus custos e assim ter maiores informações na hora de negociar sua produção.

E o que fazer se o produtor quer aprimorar a gestão de sua propriedade e não sabe por onde começar?

Praticamente todas as entidades que atuam no campo da capacitação e da assistência técnica possuem conhecimentos e tem instrumentos que podem ser usados.

O SENAR-PR tem um curso que está à disposição dos pecuaristas de corte com o título, "Trabalhador na Bovinocultura de Corte – Gerenciamento Técnico e Econômico do Rebanho". É um curso composto por dois módulos com 16 horas cada, onde o pecuarista tem a oportunidade de tomar conhecimento com informações e exercícios práticos sobre a gestão da propriedade. É gratuito e está à disposição em todo o estado.

A EMATER-Paraná tem uma equipe de técnicos da área de criações que desenvolveu planilhas para apoio na gestão das propriedades. As Cooperativas, através de seus departamentos técnicos, também estão aptas a dar assistência técnica nesta área de gestão. Existem também para o produtor com acesso à Internet, cursos on-line que podem ajudar.

Como se vê, informações e instrumentos existem, basta que o produtor tome a iniciativa e decida implantar o processo de gestão na sua propriedade.

As pessoa treinadas nestes assuntos tem condições plenas de capacitar, apoiar e acompanhar o produtor na implantação da administração de sua propriedade.

Rubens Ernesto Niederheitmann - Engenheiro Agrônomo
Produção Paranaense de Carnes e Leite à Base de Pasto

progcarneleite@faep.com.br


Boletim Informativo nº 858, semana de 4 a 10 de abril de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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