O futuro da biotecnologia e as
oportunidades para o Brasil

Em reunião com os produtores paranaenses, no dia 02 de março, o Dr. Eduardo Trigo fez uma palestra sobre os possíveis cenários para o futuro da biotecnologia e como o Brasil pode se aproveitar dessa tecnologia. Leia abaixo parte da palestra proferida em Buenos Aires:

"A discussão do tema transgênicos tem um ponto de inflexão grande quando se pensa antes e depois da soja transgênica em todo o mundo.

É incorreto pensar que o futuro para a Argentina 

e para o mundo é apenas uma projeção do passado, do que ocorreu.

Quanto aos transgênicos, o mercado tem sido extremamente negativo em regiões como a Europa e o Japão. Estão equivocados os que pensam que os mercados vão continuar nessa posição.

A realidade é que o consumidor europeu nunca foi enfrentado com a realidade de pagar ou não por um derivado de um transgênico.

Nunca teve a situação concreta de decidir entre o produto A ou o produto B, como ocorreu nos Estados Unidos, Argentina e em uma série de outros países.

A própria situação da política agrária européia é uma situação que gera para o indivíduo, o consumidor que paga impostos, uma situação controversa à tecnologia. Por quê?

Porque é uma tecnologia que aumenta a produção, e qualquer coisa que aumenta a produção, aumenta os impostos devido aos subsídios, porque é como funciona a política agrária na União Européia.

Os que pagam impostos não tem nenhum motivo ou benefício para apoiar essa tecnologia.

Os preços dos alimentos representam um valor de pouca importância para o consumidor e se os produtores europeus produzem mais, os consumidores tem que pagar mais impostos para uma possível situação de competitividade.

Há pesquisas que já mostram evidências de que o consumidor dos Estados Unidos, Argentina e Europa vêm consumindo ou estão consumindo transgênicos durante muito tempo, sem sabê-lo. Derivados de soja, estes ingredientes, estão praticamente em todas as cadeias alimentares e o milho Bt também têm sido incorporado em quantidades de produtos e exportado, o que os consumidores não sabiam.


   Já temos muitos benefícios:

Projeção de 950 milhões de hectares em 30 países e uma expansão com grande quantidade de cultivos. Em distintas partes do mundo existem cultivos de campo de novas variedades e somente na China há 40 ensaios de cultivo de campo.

As provas e os ensaios de cultivos de campo são um dado interessante, pois nos dão noção do que estará disponível entre cinco a sete anos.

 

Área de produção de transgênicos no mundo

Países Milhões ha % 8,25 milhões de agricultores, de 17 países, já cultivam transgênicos.

90% destes agricultores encontram-se em países em desenvolvimento.

81 milhões de hectares.

EUA 47,00 58,02
Argentina 16,20 20,00
Canadá 5,40 6,66
Brasil 5,00 6,17
China 3,70 4,57
Paraguai 1,20 1,48
Índia 0,50 0,62
África do Sul 0,50 0,62
Outros 9 países 1,50 1,86


   O que entrou no campo nos últimos cinco anos: 5.000 ensaios e 75 espécies.

Esta é uma cifra e não existe rejeição por questões de seguridade ambiental ou contra a saúde humana, exceto dois casos, onde as análises prévias indicavam que estes ensaios deveriam ser rechaçados:

Canola resistente a herbicida RR na Argentina, onde havia na cercania o girassol e havia uma série de problemas, que indicavam que não era recomendável.

Soja com gene de caju, que é sabido que contém características alérgicas na soja resultante.

O que qualifica dizer que se pode ter outras razões para não querer aceitar a biotecnologia, mas no que se refere aos temas científicos acordados em nível internacional tomados em consideração são bastante sólidos.

Estou falando dos números. O futuro será mais complexo com várias temáticas, mas em última instância o que vai determinar o futuro da tecnologia é se é negócio ou se não é negócio.

O futuro está na biotecnologia

É falso que a Monsanto e a Syngenta são as maiores empresas de biotecnologia do mundo.

A maior empresa em biotecnologia hoje é a China.

Tem a maior quantidade de gente trabalhando em biotecnologia agrícola, maior quantidade de provas de campo, tem produtos para sair dos ensaios de campo que vão das hortaliças até os mais comuns como a soja, o maior nível de investimento, o que quer dizer que tomaram uma decisão de acumular informações sobre os produtos OGMs.

O maior ator da biotecnologia não é a Monsanto, o maior ator é a China.

O outro grande ator é a Índia, que também adotou uma política estratégica de alto nível de promoção da biotecnologia. Estão começando a trabalhar fortemente, não nos cultivos tradicionais, mas nos tropicais, e podem ter uma aliança estratégica com o Brasil, de extrema importância para o futuro, pois o Brasil pode ser outro grande ator da biotecnologia tropical.

Na América Latina os grandes atores são México, Brasil e Argentina e mais de 50% da capacidade de aproveitar a tecnologia está no Brasil.

No futuro, tanto os produtores, as empresas de tecnologia como o Estado terão que atualizar as suas capacidades de gestão para adequar-se a este novo cenário.

Um cenário com muito mais regulamentações e contratos complexos, porém com grandes possibilidades de benefícios.


   Tem que haver uma regulamentação para atrair uma inovação tecnológica e um investimento que já está disponível. Isto é o que eu critico na política argentina, que não esta pensada em função de atrair inovação.

Estão gerando um novo negócio no mundo, de produzir e vender tecnologia, e a Argentina não esta entrando nesse negócio.

A Argentina não tem escala econômica para


desenvolvimento próprio em muitas áreas, em outras sim.

O Brasil pode aproveitar melhor a tecnologia entrando no negócio de gerar tecnologia para o clima tropical.

A Argentina e o sul do Brasil estão numa situação única na história moderna de aplicação das novas tecnologias, pois são áreas maiores em potencial do que as áreas de origem da tecnologia, Estados Unidos e Canadá, onde está a dinâmica dessa biotecnologia. Sabemos dessas áreas de aplicação, mas aonde está o outro e único lugar de grande escala mundial, de terras apropriadas, estruturas de comercialização, produtores comerciais e serviços agropecuários?

Sul do Brasil, Argentina, um pedaço do Uruguai e Paraguai."


Boletim Informativo nº 858, semana de 4 a 10 de abril de 2005
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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